(Joaquim Vassalo Abreu, 21/10/2017)
Vejo nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, que algumas pessoas, algumas minhas amigas mesmo, me convocam para uma Manif que é, segundo eles, ” Contra os Incêndios”! Mas eu não vou, não vou e não vou! Isso não significa que seja a favor dos incêndios, era o que faltava, antes pelo contrário! É que, é do senso comum, somos todos unanimemente contra os incêndios, exceptuando os incendiários. Manifestar-me, ou desfilar, melhor dito, contra os incendiários? Aí até vá que não vá… Mas, dou por mim a pensar, e escrevo como vou pensando, quer acreditem ou não, o que é realmente um incendiário? Será apenas aquele que faz fogos ou não será também aquele ou aqueles que os provocam? Tal como as violências várias, incluindo aquelas que instigam crente e ingénua gente sedenta de justiça? Nem que seja ela assim tipo ” de Fafe”? Incendiário também pode ser aquele ou aqueles que se aproveitam de uma situação mais vulnerável para provocar um escusado confronto, aproveitando essa vulnerabilidade para dela tirar imediato proveito, tal como aqueles que saqueiam depois de uma guerra ou catástrofe, ou mesmo, neste caso concreto, quem, perante um sentimento de incapacidade humana perante o impossível e o dantesco induzir os ingénuos e desinformados numa culpabilização, dizendo que, com eles, nada disso sucederia! E é disto que se trata e se movem estas Manif,s, pretensante contra os fogos. Por isso mesmo eu, não sendo contra as Manif,s, no sentido estrito do termo, raramente na minha vida nelas participei. Principalmente quando elas eram contra algo em concreto e, nomeadamente, ” ad hominen”. Mas em desfiles já participei e em muitos. Celebrando nuns e reinvidicando noutros. Celebrando o 1° de Maio ou o 25 de Abril, a conquista do Europeu ou coisas assim ou desfilando pela Paz, pela Justiça, pelos direitos das minorias, pela saúde universal e gratuita, pela defesa da Constituição, em suma, pela Democracia! Mas também já desfilei contra algo: contra o vazio, por exemplo, contra o alheamento, contra a impunidade, contra a corrupção, contra a insensibilidade, contra o arbítrio, contra a desumanização e contra qualquer absolutismo. E, já agora, e como parêntesis, quero dizer que ” desfilar” não é “marchar” contra, para tomar ou destruir: é apenas para lembrar e reclamar! E lembro-me daquele célebre desfile de Martin Luther King em Washington a que malévolamente chamaram de “marcha sobre Washington”, pretendendo associá-la a uma manifestação violenta, quando ela era absolutamente pacífica. Mas desfilarmos por causas globais, mesmo que fracturantes, que indiciam um progresso da humanidade e uma adequação aos novos tempos e à sua maneira de estar e pensar, e que são inequívocamente inerentes à condição humana, reclamando adequadas políticas públicas, não é o mesmo que ir a uma Manif para, sob a capa e de uma coisa em que somos unânimes ( ser contra os incêndios), aproveitar-se o facto para a culpabilização ou responsabilização imediata de quem sendo seu opositor e estando no poder politicamente tem que responder, para daí tirar proveito político e minar a maioria parlamentar que o sustenta. E aqui, sem quaisquer hesitações, é o que se verifica. Basta olhar e verificar quem convoca e quem diz pretender ir. Eu sei que muitos, movidos por um natural sentimento, por um lado de revolta e por outro lado de compaixão e humanidade, não se apercebem do essencial desígnio da convocação. Eu sei! Mas quando isto disse a uma pessoa amiga e bem intencionada que queria ir, e livremente podia ir, ela de imediato percebeu! É que eu, por mais que matute e pense, não contestando nunca a liberdade de manifestação seja de quem for, se não for violenta, não consigo perceber o porquê de uma manifestação contra algo em que somos literalmente todos contra! O Povo diz que “depois de casa roubada trancas à porta”! É dos livros. É que o Estado falhou e falhou rotundamente, digo eu. Mas quem é o Estado? Que fique bem claro: somos todos! E cada um com a sua pequena ou grande quota de responsabilidade. Falhou, e foi fatal, no nosso egoísmo. Falhou quando durante mais de cinquenta anos, nos conduziu à emigração e ao abandono da agricultura. Falhou quando lhe deu a estocada final e, nos macabros tempos do Cavaquismo, negociou a tenebrosa PAC. Falhou antes quando nos obrigou massivamente a ir para uma guerra longe da Pátria. Falhou quando, no ajustamento, sob o chavão da improdutividade e do não há alternativa obrigou milhares e milhares de jovens a emigrarem. E quando, querendo depois que regressassem, lhes oferecia uma côdea em relação ao que lá fora ganhavam… Falhou também quando, depois e na sequência disso tudo, foi retirando às populações do interior tudo aquilo que significava Estado: o Hospital, o Centro de Saúde, o posto da GNR, o Tribunal, os CTT, a Estação dos Caminhos de Ferro, o Autocarro e a Escola! Resultado? O óbvio! A culpa? De todos…e de ninguém… Que adianta fazer roteiros mais roteiros para verificar o óbvio? Para culpar outros quando a responsabilidade é também, e em grande medida, sua? É tal qual este, este que disse que “não iria andar por aí…”, mas que não resistiu à tirada oportunista e labrega do ” sinto vergonha do que se passa”… Vi um popular na TV que lhe respondeu, a ele e a todos: ” não há que meter culpas, não havia hipóteses”. A não ser que, num assomo de lucidez, pretendesse dizer que ” tinha vergonha de tanto incendiário”…! Ele, incendiário? Sim ele, ele o que os mandou emigrar, serem resilientes e também não serem piegas! Vergonha? Vergonha eu também sinto, a de ter sido governado por gente da sua estirpe, da estirpe de Salazar, de Caetano e de Cavaco. Disso me envergonho e vergonha porque simplesmente governaram este País. Claro que depois da fase da ilegitimidade deste governo, da fase da sua clara inconsistência, da iminência do seu fracasso, das multas de Bruxelas, da sua mais que certa capitulação e da vinda de um diabo que se escafedeu…, verificando-se em tudo todo o seu contrário, a situação emergente destas catástrofes foram um enorme lenitivo para toda a direita e seus correlegionários e, sob a batuta de todos os seus assalariados nas TV’s ( principalmente na SIC, infestada deles) e dos jornais, dos comentadores dos opinadores e demais assim assim, logo vieram imputar as óbvias responsabilidades aos actuais governantes e, acolitados pelo Presidente, afirmar que já não tinham a confiança do Povo e do seu Presidente. Vejam só… Parece que as sondagens não dizem bem isso. Mas sondagens são sondágens, não é? E faz-se de santinha a direita e a D. Cristas, sua chefe por ora, que diz que, como a sua fé é superiormente ouvida, com ela nada disto se passaria! E pimba: Moção de Censura em cima, ultrapassando o PSD pela esquerda baixa! Ora toma, disse ela para o PSD… Que lançou o Huguinho! Mas este Huguinho é mesmo um Huguinho! Que, pasme-se, usou a mangueira! Eu não inventei, foi ele que o disse. Mas para quê? Para, num acto de altruísmo, de solidariedade, de apego ao colectivo e ao comum, à boa vizinhança, ao civismo e a bem do futuro da nossa Segurança Social…regar o jardim! Disse que não queria dizer, mas disse, que foi ajudar com a sua mangueira num fogo ali perto. Mas disse-me um amigo de Braga que foi só treta! Não houve fogo nenhum perto da sua casa! Mas usou a mangueira, parece certo. Uns familiares, garbosos e deleitados, logo disseram: meu Deus, como ele está crescidinho! Mas um outro, mais antigo e sábio, disse: finalmente…! PS: Digo e volto a dizer: perante tanta boçalidade, as minhas banalidades são pormenor… |