Translate

Mostrar mensagens com a etiqueta Politica Nacional. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Politica Nacional. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O que o País deve a Marcelo e o que não pode consentir

por estatuadesal

(Carlos Esperança, in Facebook, 15/11/2017)

Clonagem

Imagem in Blog 77 Colinas

Após a tomada de posse, Marcelo surgiu sem prótese conjugal, irradiando simpatia, em flagrante contraste com o antecessor. Com a cultura, inteligência e sensibilidade que minguavam a Cavaco, tornou-se um caso raro de popularidade.

O respeito pela Constituição da República, elementar no constitucionalista, levaram-no a aceitar o Governo legitimamente formado na AR e a que Cavaco dera posse com uma postura indigna de quem, sem passado democrático, é devedor à democracia dos lugares cimeiros que ocupou.

Marcelo, em vez de ameaçar o País e denunciar à Europa os perigos imaginários que um ressentido reacionário lobrigou no entendimento democrático dos partidos de esquerda, ajudou ao desanuviamento do ambiente político e à higienização do cargo para que fora eleito. Fez o que devia, e teve a decência de romper com a herança de dez anos.

Esgotado o mérito que lhe será sempre creditado, entrou num frenesim próprio de quem é hipercinético, por temperamento, e ansioso de mediatismo, por idiossincrasia, como se estivesse em permanente campanha eleitoral.

A presença constante nas televisões, a opinião sobre tudo, o comentário que vai da bola à alta política, o exercício das suas funções e a exorbitância delas, a ida a funerais e casamentos, a presença pública em cerimónias litúrgicas e a confusão entre o Palácio de Belém e a sacristia, onde se comemoram milagres, começa a inquietar quem vê na sua conduta o atropelo à laicidade do Estado e a ingerência abusiva em funções do Governo e no condicionamento do comportamento dos seus agentes.

Ao ler hoje o elogio do PR ao lastimável pedido de desculpas do ministro da Saúde por mortes causadas por uma bactéria, como se o ministro fosse responsável, vi uma cultura judaico-cristã de culpa e de arrependimento, incompatível com a dignidade das funções e os esforços para resolver situações imprevisíveis, e que, no seu dramatismo, tendem a ser exploradas e ampliadas pela morbidez instalada na comunicação social.

É altura de dizer basta à deriva presidencial, que não tem uma palavra para condenar os silêncios sobre os desvios dos fundos comunitários, as fraudes nas autarquias e os atrasos nas investigações sobre as eventuais burlas nos bancos GES/BES, Banif, BPN, BPP e BCP, e se torna excessivamente loquaz a querer transformar o OE-2018, em discussão na AR, num instrumento para a sua popularidade.

Há já dificuldade em distinguir a genuína empatia de um caso patológico de narcisismo.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

QUE “FALTA DE POUCA VERGONHA!”

QUE “FALTA DE POUCA VERGONHA!”

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 15/11/2017)

hugo_soares

A gente, nas aldeias e meios mais populares, onde a exigência linguística não é bem de primeira necessidade, ouve frequentemente esta frase, em que o “pouca”, é bom de ver, está a mais. Mas é assim que se usa dizer, do mesmo modo que se costuma também dizer “eu não me acredito”, estando, também aqui, o “me” a mais. E até poderia dar mais exemplos…

Mas, apesar de tudo e disso sabendo, percebemos o sentido e o regionalismo. O que é mais difícil de entender é dizer-se de alguém que “ tem pouca vergonha” , logo a seguir, que “tenha vergonha” e, ainda, quetem vergonha”!. Não é, portanto, de difícil conclusão que quem assim o diz tem é “falta de vergonha”! Mas aqui de “muita vergonha”!

É que, agora afundando-me na política caseira, ouço constantemente o imberbe Huguinho dizer, por tudo e por nada, que “Costa tem falta de vergonha”! Dou como exemplo o congelamento, ou antes, o descongelamento das carreiras dos Professores, pois congeladas já elas estavam e há muito.

E diz ele que é “recorrente a falta de vergonha do Primeiro Ministro”. Mas, logo a seguir, ele afirma que Costa “tem vergonha”! E de quê? De ter estado vários anos nos Governos do PS e do Sócrates em particular! E diz mais ainda: que ele (o Costa, bem entendido) “deve ter vergonha de constantemente não assumir as suas responsabilidades”.

Mas responsabilidades de quê? De ter sido Ministro no governo de Sócrates! Vejam lá o que o cérebrozinho do Huguinho consegue concluir. Assim sendo ele, que não foi Ministro do Passos Coelho, disso se safou e, por isso, assim conclui. E os colegas, ó moço? Enfim, gente iluminada!

Portanto o Costa, para o Huguinho, coitadinho, tem ao mesmo tempo “falta de vergonha” e “vergonha”! Decide-te, ó Huguinho, coitadinho,  é o mais que eu posso dizer já com uma indigestão de tanta “sem vergonhice”.

Mas o Huguinho, coitadinho, para além de um grande pândego, de um ofensivo malcriado e de um político de pacotilha e feito à pressa, é um perito em silogismos.

Notem este raciocínio do Huguinho, coitadinho, por exemplo: Premissa primeira: quem congelou as carreiras foi o Sócrates; Premissa segunda: o governo que nos levou à pré-bancarrota, que foi salva ( a rota, porque a outra não salvou) pelo governo da PAF; Premissa terceira: eles, a Paf, coitados, embora o quisessem não o puderam fazer, mais uma vez coitados, pelo que quem as deve descongelar, agora que já se pode, é o seu herdeiro Costa! Estão a ver a clarividência?

Lavoisier, Pascal, Aristóteles, Arquimedes, Pitágoras e mesmo o próprio Sócrates, devem dar pulos nas tumbas com tamanha argúcia interpretativa das suas teorias…mas eu, mais comedido, fico-me muito simples e prosaicamente pelo mero silogismo!

Mas mais ainda: como acrescento à sua silogística argumentação, perante o crescimento económico que se tem vindo a verificar, que eles também queriam mas, coitados outra vez, não puderam, e as consequentes folgas orçamentais, o Huguinho, o seu PPD ou PSD e todos aqueles pontas de lança que pululam pelos Expressos e demais Comunicação Social e ainda mais a Teodora, que vêm dizendo? Que existem latentes perigos e que é preciso fazer como a formiga: amealhar e poupar para quando vierem tempos mais difíceis…

É bonito sim senhor mas, mais uma vez, daqui deriva como conclusão mais um silogismo : pois se o Governo, gastando ( só, segundo o Expresso, ao PCP e ao BE foram entregues 1,2 mil milhões de aéreos), é irresponsável e o Costa um marginal mesmo (pouca vergonha de quem tem vergonha), também o será se não proceder ao descongelamento de todas as carreiras…custe o que custar. Porquê? Porque o Huguinho assim quer e lhe mandaram dizer…Para quê? Para minar o Governo, claro, e para isso nada melhor que inundá-lo de silogismos à Huguinho…

De modo que, para finalizar, direi como o nosso Povo: Que “falta de pouca vergonha”, ó Huguinho!

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Jantar com os mortos para recordar as asneiras dos vivos


por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 13/11/2017)
Daniel
Daniel Oliveira
O jantar da Web Summit, que tanta e tão justificada indignação causou, não é o primeiro nem o segundo que se realiza no Panteão Nacional. Ao que parece, mesmo antes do regulamento existir, já tinham dado essa estranha função ao lugar onde estão aqueles que o País mais quer recordar. O regulamento, de 2014, aprovado pelo secretário de Estado da Cultura de Passos Coelho, Jorge Barreto Xavier, determina a possibilidade de alugar, para eventos sociais e culturais, os vários monumentos nacionais, apenas vedando isso a sindicatos (mas não associações patronais) e partidos. E diz que que o uso dado aos monumentos não pode colidir com a sua dignidade. Deveria chegar para impedir este aluguer? Não, mas já lá vamos.
Este regulamento, que autoriza o que não devia ser autorizado – não me refiro a todos os monumentos, mas a espaços como o Panteão –, corresponde a um pensamento hoje dominante: o da rendibilidade. A lógica de tornar os “ativos” do Estado rentáveis, aplicando-lhes a mesma lógica de qualquer empresa, só podia dar disparate. O predomínio absoluto dos critérios financeiros sobre os simbólicos, ignorando a importância da memória coletiva para a sobrevivência de uma comunidade, levou à tentativa de extinguir o 5 de outubro e o 1º de dezembro e ao total desinvestimento na cultura e no património. O regulamento que expressamente permite a utilização do Panteão Nacional para jantares e beberetes corresponde ao abandalhamento institucional que o período da troika impôs ao Estado. E que este governo, em demasiadas matérias, não abandonou.
É claro que o governo de António Costa tinha o dever de revogar este regulamento sem esperar que o escândalo rebentasse nas redes sociais. Até porque ainda há pouco tempo a Navegação Aérea de Portugal (NAV), que é uma empresa pública, tinha usado o Panteão para a mesmíssima função. A parte interessante desta e de outras críticas que vamos ouvido a este governo é que elas correspondem, na realidade, ao lento acordar de um pesadelo. Cada vez que levantamos uma pedra descobrimos os efeitos que a austeridade teve nos serviços públicos e na dignidade do Estado. E o principal reparo a fazer a este governo é não ser suficientemente rápido a reparar o que o anterior foi fazendo.
Mas voltemos ao regulamento. Sim, é verdade que que nele se diz que os eventos a realizarem-se nos monumentos nacionais não podem colidir com a sua dignidade. Todos achamos, ao que parece, que a organização de um jantar colide com a dignidade do Panteão. Suponho que não nos choca mais um jantar de empresários e convidados da Web Summit, evento apoiado pelo Estado, do que um qualquer outro.
O problema não é quem jantou e como jantou, é mesmo o jantar. Ora, o mesmo regulamento prevê expressamente o aluguer do Panteão para jantares e cocktails. O que quer dizer que, no espírito e na letra daquele regulamento, organizar jantares no Panteão não colidia com a dignidade daquele espaço. As regras, que existem, foram todas cumpridas. Elas não incluem nem aconselham a interdição de jantares. De tal forma não interditam e não aconselham que os jantares estão previstos, com uma tabela de preços definidos no regulamento em causa. Três mil euros para o aluguer do corpo central do Panteão para jantares, 1.500 para cocktails.
Não cabe aos governos alugar espaços ou tratar da sua gestão quotidiana. Cabe aos governos definir regras, garantir que elas são cumpridas e dar os meios para que isso aconteça. Essas regras, que foram cumpridas, existiam e têm um autor: Jorge Barreto Xavier. A responsabilidade deste governo é, como já disse, não as ter alterado. E a responsabilidade do aluguer é da diretora do Panteão e da Direção Geral do Património Cultural (DGCP), que não é governo, e que tem a gestão destes espaços como dever seu. A DGCP não devia ter alugado para este e para outros jantares, mesmo que o regulamento não só o permita como expressamente o preveja. Mas não aceito que se cruxifiquem os serviços por cumprirem, na letra e no espírito da lei, o que o poder político definiu como regras para a utilização dos monumentos nacionais. Barreto Xavier queria que se usasse o Panteão Nacional para jantares, determinando que isso deveria corresponder a um pagamento de três mil euros. O pecado da diretora do Panteão e da DGCP foi cumprir o regulamento, o do atual ministro foi não o rever. Mas os últimos a poderem apontar o dedo a alguém são os responsáveis políticos pelas regras que levaram a isto.
Mas nem isso os impediu de o fazer. Em declarações à TSF, Barreto Xavier atribui as responsabilidades à DGCP, recordando que é ela que tem a última palavra para avaliar se uma determinada iniciativa põe em causa a dignidade de um determinado espaço. O antigo secretário de Estado pensa que, neste caso, é isso que sucede. Como neste caso a única coisa a apontar é ser um jantar, fica a pergunta: se um jantar põe em causa a dignidade do Panteão (eu acho que põe), porque raio definiu o mesmíssimo secretário de Estado um preço para que ele tivesse esse preciso uso? Era para dizer quanto é que não se devia cobrar por jantares no Panteão?
Apesar disto, um deputado do PSD não hesitou em vir a terreiro pedir a demissão de funcionários do Estado. Acho incrível que tenham alugado o Panteão para um jantar, como o regulamento aprovado pelo governo do PSD expressamente previa. Sim, o jantar colide com a dignidade daquele monumento. Mas não consegue estar ao nível da falta de dignidade de quem toma decisões políticas e depois pede a demissão de quem as cumpre.

TAXAS, TAXINHAS, JANTARES E JANTARINHOS

por estatuadesal

(In Blog O Jumento, 13/11/2017)

panteão3

Parece que o país anda muito atrapalhado porque o Panteão Nacional é um dos monumentos que as empresas de catering oferecem como alternativa para a realização de eventos. Como neste país o que não faltam são “putas ofendidas” foi um borborinho que junto os que agora falam mal do Web Summit com os que são muito apegados aos valores nacionais. De repente, esqueceu-se o passado mais recente.

Quando Portas anunciou a realização em Portugal das próximas Web Summits não faltaram elogios, era o tempo do empreendedorismo, quando Portugal caminhava para ser um dos países mais competitivos do mundo, como prometia Passos Coelho. Agora que quem aparece é o António Costa, já o evento é parolo e tudo o que lá sucede serve para ser gozado pela gente fina do “Governo Sombra” que, como se sabe, é gente que está acima de qualquer parolice.

Os mesmos que acabaram com feriados nacionais como o 1.º de dezembro estão agora preocupados com os heróis nacionais, os que acabaram com o feriado do Dia de Todos os Santos preocupam-se agora com o respeito pelos mortos, os mesmos que gozaram com António Costa por causa das taxas e taxinhas, sabe-se agora, criaram uma tabela de taxas e taxinhas de aluguer dos monumentos nacionais, diz um ex-governante que foi para regularizar a situação.

O mesmo ex-governante diz agora que caberia a este governo decidir se um jantar poderia ou não ser realizado, isto é, o homem regularizou o negócio, mas esqueceu-se de especificar critérios para determinar o que ficavam bem para o local. Os que defendem que a escolha dos altos dirigentes do Estado deve ser feita por concurso acham que podem ser despedidos e humilhados por despacho. OS que regulamentaram, mas não definiram critérios acham que uma diretora-geral devia adotar os critérios que eles entenderam ser desnecessários.

Mas há outra questão que está sendo ignorado, o Estado português é assim tão pelintra que necessite de alugar o Panteão Nacional por três mil euros? Por este andar vão passar a alugar o Palácio de Belém para casamentos, incluindo os aposentos presidenciais para a consumação do matrimónio na Lua de Mel.

Seria interessante saber se os tais três mil euros que rendeu o aluguer do panteão Nacional são mesmo receita do orçamento do Estado, ou vai direitinho para um saco azul da direção-geral ou da secretaria de Estado da Cultura.

Nos últimos anos os portugueses, para além do IMI, do imposto de selo, do IRS, do Imposto de Circulação e do IVA, passaram a estar sujeito a mais um pesado imposto, constituído por taxas, taxinhas, multas, multinhas e outros expedientes inventados para alimentar sacos azuis dos mais diversos organismos. Há muitas passagens à reserva nas forças policiais, muitos jantares e jantarinhos de diretores-gerais, suplementos para dirigentes e outras mordomias pagas por este novo imposto aplicado de forma impiedosa, oportunista e sem regras.

sábado, 4 de novembro de 2017

A “GERINGONÇA” TEM FUTURO? TEM QUE TER!

Estátua de Sal

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 04/11/2017)

Geringonça.gif

O Daniel Oliveira publicou por estes dias um texto, que quase na íntegra corroboro, que se intitula: “O Orçamento é de Esquerda. Mas deixa Esquerda para o futuro?”.

Enumera, embora não exaustivamente, o que de bom já se fez mas, recordando o ainda não realizado, preocupa-o que deixando tudo isso para o futuro, tal fique como uma “marca” negativa desta governação. O que quer dizer, para o Daniel, não ter este Governo feito tudo o que os Partidos à sua esquerda reclamaram e reclamam, como a Contratação Colectiva e a sua caducidade, por exemplo.

É inquestionável ser substancialmente correcto e factual que ainda há muito por fazer, mas como comentador e analista político que é, o Daniel esbarra na dúvida sistemática que o assalta, a ele e a outros, que se manifesta na tendência para o politicamente correcto (deixar sempre pontas soltas na sua abrangente linguagem) e no receio de assumir o papel de antecipador, utilizando para isso a dúbia interrogação.

Mas eu, como não sou analista nem comentador de serviço, não convivo com essa tal dúvida sistemática e procuro sempre simplificar. E não concordo que essas importantes medidas ainda não tomadas ou mesmo adiadas, fiquem como uma “marca” negativa para as Esquerdas. Não penso mesmo isso!

Penso, antes pelo contrário, que o que já foi feito e conseguido é que fica como uma “marca”! E fica por várias razões. A saber:

· Porque nem o mais iluminado optimista imaginaria ser possível que, em pouco mais de dois anos, esta solução governativa tivesse tanto sucesso.

· Porque nem o mais empedernido optimista a sonharia há pouco mais de dois anos.

· Porque o que também fica como uma indelével “marca” é o fim do mito de que as Esquerdas não sabem governar. As Esquerdas mostraram e têm mostrado que são competentes e que sabem conjugar uma certa austeridade (cativações, por exemplo) com reposição de direitos e rendimentos, com crescimento económico e controlo das Finanças Públicas. Coisas que as Direitas nunca saberão.

· Porque com tudo isto as Esquerdas ganharam crédito e respeito insuspeitáveis. Até lá fora!

· Pelo que esta “marca” tem que ser ainda mais fortemente sedimentada. Porque se ajusta às vontades da grande maioria da sua base de apoio e, ia apostar, da grande fatia da população e desperdiçá-la, para além de um grosseiro erro, seria um crime de lesa pátria.

E isso mesmo ficou bem visível ainda hoje na discussão e aprovação do Orçamento de Estado para 2018 e em que à irritação de toda uma quezilenta Direita, perdida e incapaz de apresentar alguma alternativa, correspondia um acerto cada vez maior e mais pacífico das Esquerdas.

Por tudo o exposto e também porque entendo que não pode ser tudo feito de uma vez só, há coisas mesmo que requerem o seu tempo, é imprescindível que o que ainda não foi realizado e é forçoso que se realize, continue a constar da agenda como um essencial objectivo conducente ao combate efectivo à precariedade, à estabilização das leis do trabalho e à segurança no emprego.

Mas, ainda assim, é minha convicção que tem aumentado paulatinamente o número daqueles que já compreendem que, tal como Roma e Pavia não se fizeram num dia, quer queiramos quer não, só poderemos todos esses desideratos alcançar se tivermos as contas públicas controladas, o défice a descer, o saldo primário excedentário e a dívida pública a diminuir.

E isso não só é importante para que o financiamento do Estado e da economia estejam assegurados e a taxas cada vez mais baixas, mas também para que a nossa credibilidade e afirmação fiquem, elas igualmente, como uma “marca”! Mas essa “marca” cada vez mais vincada, necessita de cada vez maior sustentabilidade, que só pode ser alcançada através do cumprimento dos pressupostos acima enunciados.

A Esquerda, toda a Esquerda, ou Esquerdas, tem que estar bem ciente disso e quando digo que a grande maioria do Povo das Esquerdas está cada vez mais elucidado a esse respeito, é para dizer claramente que quem isto subestimar será fortemente penalizado por todo esse eleitorado.

Esticar a corda, seja de um lado, ou seja do outro, mais à esquerda ou menos à esquerda, será sempre contraproducente, tanto mais que o que se notam são substantivos avanços e não recuos. Do mesmo modo que o precipitado aproveitamento de algum sinal que as sondagens possam fornecer o será inevitavelmente. A “marca”, a tal “marca” é já indissociável dos Partidos que sustentam este Governo e, estou convencido, esse mesmo Povo não perdoaria ao PS nem a arrogância nem o distanciamento.

O que esta solução governativa teve e tem de grande mérito é mesmo isso: é, na sua diversidade, os Partidos que a compõem terem conseguido estar juntos e coesos no essencial. No possível, ou no imediatamente possível melhor dito, em detrimento precisamente daquilo que ainda está fora do seu tempo e se mostra, neste momento, mais separador que agregador.

Devemos a este Governo os louros pelos resultados alcançados, mas devemos aos restantes Partidos da “coligação” (a que agora o PSD resolveu chamar de “Social Comunista”!) a justeza, firmeza e resiliência na exigência de medidas que pareciam impossíveis, mas que, como disse, se mostraram salutares e, igualmente de suprema importância, no desabar de um vetusto “tabu”: o de que os tais Partidos, a que as Direitas chamam de “Radicais”, estavam impossibilitados de pertencerem ao arco da governação.

E a quebra deste “tabu”, ao mesmo tempo que abriu importantes janelas para o futuro, abriu também a porta a cada vez maiores responsabilidades.

E hoje virei “analista”! Como diz um Irmão meu: dizes que não és, mas afinal…



Depois das misses

Estátua de Sal



por estatuadesal

(Daniel Oliveira, in Expresso, 04/11/2017)

Daniel Oliveira

Em momentos trágicos como os dos incêndios deste ano o debate político costuma ser substituído por discursos de tipo “miss mundo”. Eles escondem as contradições entre diferentes interesses que qualquer mudança estrutural tem de enfrentar, fazendo parecer fácil e consensual o que é difícil e fraturante ou dividindo o país entre um povo em sintonia e generoso e políticos incompetentes e mesquinhos. Só que no dia seguinte é a política que tem que fazer escolhas, desafiar interesses legítimos e ilegítimos e enfrentar resistências. Um desses interesses já deu a cara e promete resistir. De dedo em riste e em tom comicieiro, Jaime Marta Soares ameaçou, perante um primeiro-ministro mais frágil do que antes, levar os bombeiros para a rua se os seus poderes fossem tocados.

Não foram os bombeiros que gritaram “basta!”. Foi um cacique local, quatro décadas presidente de uma câmara onde deixou um buraco de 30 milhões de euros, duas décadas deputado, dirigente desportivo e tudo o mais que se possa lembrar. Como escreveu João Miguel Tavares, Jaime Marta Soares é “uma personagem emblemática da vida política portuguesa”. Há uma rede política formal e informal, com um enorme poder, que está espalhada pelo país e especialmente presente em todas as estruturas que trabalham mais diretamente com as populações: direções de bombeiros voluntários, provedores das misericórdias ou responsáveis por IPSS. A fraca organização e descentralização da nossa sociedade civil está subordinada às únicas estruturas associativas com implantação e poder reais: os partidos políticos e a igreja católica. Jaime Marta Soares representa aqueles que usam os bombeiros voluntários como instrumento de poder político. E usará esse poder para impedir uma das reformas mais difíceis e mais urgentes no combate e prevenção de fogos: a profissionalização dos bombeiros, reservando para o voluntariado um papel complementar.

Quatro fatores explicam a dimensão e efeito dos incêndios: as condições climatéricas únicas; a mão criminosa; anos de erros e de incúria no ordenamento do território, política florestal e prevenção e combate aos fogos; e falhas graves deste Governo, sobretudo nas nomeações dos comandos da Proteção Civil e na alocação de meios. Todos merecem discussão e até é natural que haja mais atenção às responsabilidades de quem está atualmente no poder. Mas, por conveniência política, Marcelo concentrou o debate apenas neste Governo e ajudou a cristalizar a ideia de que os acontecimentos deste verão se devem quase exclusivamente a fatores políticos circunstanciais, o que tornará muito mais difícil mobilizar o país para mudanças estruturais.

É verdade que o Presidente disse que mudar a política florestal e de combate aos fogos é a prioridade do seu mandato. Só que não é ele que o vai fazer. E ao enfraquecer o Governo nesta área, contribuindo para que ela fosse o centro da guerrilha partidária e institucional, Marcelo enfraqueceu o único poder que tem os instrumentos para impor esta reforma: o executivo.

As corporações sentem que estão, neste tema, perante um Governo fraco. O discurso incendiário do cacique dos bombeiros é sinal disso mesmo. E Marcelo teve um papel fundamental numa fragilização que não deixará de ser aproveitada por quem quer que tudo fique na mesma.




segunda-feira, 16 de outubro de 2017

“Os políticos não se educam, pressionam-se”

aventar_fb_header

por António Fernando Nabais
Fotografia LUSA/Paulo Novais
Uma expressão como “época de incêndios” poderia ser cómica, não fosse enorme a tragédia. Faz tanto sentido como “época de inundações”, como se houvesse uma obrigatoriedade de haver fogo e água por toda a terra, dentro dos períodos respectivos, como se tudo, no fundo, fizesse parte de um planeamento. São expressões que transformam probabilidades em inevitabilidades e que são o retrato de um país ou de um mundo por civilizar.
O professor Jorge Paiva, um especialista em floresta, ao contrário de gente mais mediática e sem vergonha, anda, há anos, a chamar a atenção para vários problemas que poderão estar na origem dos fogos, nomeadamente a falta de guardas florestais. Ler mais deste artigo



sábado, 23 de setembro de 2017

O Expresso e os “relatórios secretos”



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 23/09/2017, 18h)
expresso_4
Mas que grande tiro no pé, dr. Balsemão. Então o seu jornal, dito de referência, cai numa trapalhada deste jaez? Expliquemos o ocorrido.
Na edição de hoje, o Expresso dá conta da existência de um relatório, supostamente elaborado pelo Centro de Informações e Segurança militares (CISMIL), que arrasa o Ministro da Defesa e o Chefe de Estado Maior das Forças Armadas no contexto da investigação ao desaparecimento do armamento dos paióis de Tancos.

Ganhar parado



PSG
Pedro Santos Guerreiro
Os favoritos em Lisboa e Porto adoram arruadas ruidosas em que ficam calados. É a estratégia fácil para não cometer erros. Mas ficar quedo para não expirar na eleição é deixar de inspirar os eleitores
A melhor maneira de não fazer uma asneira é não fazer nada. O mundo dos políticos favoritos sabe-o e o submundo dos seus assessores recomenda-o: não mexer, falar pouco, sorrir muito, evitar perguntas, encurtar respostas, usar uma carteira com frases preparadas em vez de uma pasta de projetos, mostrar superioridade, representar confiança, porque o risco dos favoritos é deitar tudo a perder ao abrir a goela.
Os que os desafiam que estridulem, pulem, exagerem, que passem debaixo de pianos pendurados, corram sobre os fios das navalhas e percorram os limiares dos invernos prometendo primaveras.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

É lidar com isso



por estatuadesal
(Marco Capitão Ferreira, in Expresso Diário, 20/09/2017)
capitaoferreira
Algo a contragosto, e tão tarde quanto lhes foi possível, as agências de rating lá deram um primeiro sinal de que já nem elas conseguem negar o desempenho da Economia Portuguesa e, muito especialmente, o desempenho da consolidação orçamental que foi possível fazer nesse contexto.
Os dados falaram mais alto, e mesmo não gostando – e não gostam mesmo nada – da forma como os resultados foram conseguidos, isto é, com uma política de alguma reposição de rendimentos e fim progressivo de cortes nas prestações sociais, não se pode negar o défice que baixou e a dívida que vai começar a baixar este ano. Ambos sinais de uma consolidação orçamental bem conseguida, que ainda por cima potenciou o emprego e o crescimento.

Sá Carneiro está a dar saltos no túmulo



por estatuadesal
(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 15/09/2017)
loures
Passos ao lado de André Ventura: “Não podemos ter medo dos demagogos e dos populistas que permitem que situações injustas perdurem”
Ver aqui

Igual a Trump quando carimba a imprensa livre como geradora de “notícias falsas”, ele que será provavelmente o político no Mundo que mais mente, Passos passou a incluir no seu reportório de líder da oposição a retórica do ataque aos “populistas” e “demagogos” quando se dirige à maioria legítima no Parlamento, ele que seria o principal protagonista de uma qualquer história do populismo e da demagogia em Portugal nos últimos 10 anos.

Os geringonçólogos



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 19/09/2017)
louça1
No tempo da União Soviética, que deus tenha, havia uma trupe de analistas encartados que se reconheciam como “sovietólogos”. Competia-lhes a tarefa árdua de olharem à lupa para as fotos, que a televisão era pouca, e de colecionarem boatos para poderem chegar à conclusão de que o secretário-geral estava com azia, se fosse o caso, ou outra infâmia qualquer. Da influência de casos desse tipo nos misteriosos destinos do planeta reza a história.
Suponho que, perante o inesperado, é assim que reagem as sociedades perfeitas e os seus mestres de cerimónias. Querem saber e, se não sabem, querem adivinhar. Se for coisa de Ficheiros Secretos, se for eco da Cidade Proibida de Pequim, se for boato da mansão de Futungo de Belas em Luanda, até se for de tumulto no parlamento de Brasília, é esta classe de analistas que é chamada ao palácio para traduzir os sinais, os hieróglifos e as entoações. Sinal dos tempos, agora dedicam-se a Trump e a outras surpresas, e não lhes faltará assunto.

terça-feira, 19 de setembro de 2017

UM HABILIDOSO INÁBIL!



por estatuadesal
(Joaquim Vassalo Abreu, 18/09/2017)
Passos_teresa
“Habilidadezinha”, disse ele! Tal como eu que, quando não sei o que hei-de dizer, recorro a uma habilidade, mas apenas linguística. Como agora! Mas eu sou eu e ele é ele! E ele, franca e nitidamente, não as sabe usar! É que não se faz perceber, estão a ver?
Daí que Centeno lhe tenha respondido como respondeu, e ele tenha ficado quedo e mudo pois,  habilidade por habilidade, vale incomensuravelmente mais a que tem eficácia.
Por exemplo: quando ele afirma que a votação em Lisboa da sua Leal “Treza” vai ser uma “grande surpresa”, o que é isso se não uma enorme “habilidadezinha”?

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A Noite das Eleições



por estatuadesal
(Pedro Santos Guerreiro, in Expresso, 16/09/2017)
PSG
Pedro Santos Guerreiro
Todos descobrirão vitórias, como sempre, mas as de uns serão mais clamadas pelos próprios do que aclamadas por outros. Na noite das autárquicas haverá derrotas e consequências menos imediatas.
A duas semanas, as sondagens indiciam que António Costa, Jerónimo de Sousa e Assunção Cristas terão boas noites. Porque o PS deverá liderar em número de votos, o PCP consolidar e a líder do CDS ter ela própria entre um bom resultado (mais do que 8% será mais do que Portas conseguiu em Lisboa), um resultado ótimo (encurtar sobremaneira a distância para o PSD) ou, o que é muito improvável, um resultado escandalosamente positivo (ficar ‘em cima’ ou, em delírio, acima de Teresa Leal Coelho). Já Catarina Martins nunca terá uma noite má, porque comparará sempre com um resultado autárquico anterior muito baixo. Ainda assim, o BE precisa de ganhar vereações se quer mostrar implantação. À esquerda, a questão essencial para um futuro é a revelação entre PS e PCP. Nas grandes cidades, o PS ‘entregou’ Évora aos comunistas, veremos o que acontece em Beja.
Passos Coelho terá provavelmente a noite mais difícil, não só porque o objetivo inicial de ter mais câmaras do que o PS está distante, como luta por não ser humilhado em Lisboa (não descer dos 22%) e Porto (ter pelo menos dois vereadores). Como diz Miguel Relvas hoje ao Expresso, o PSD pode ficar um partido de implantação rural e dependente de líderes ou herança fortes em algumas cidades (Viseu, Braga, Cascais, Funchal...).
Pior, André Ventura pode ser um dos ‘vencedores’ do PSD da noite, se subir muito a votação do partido, o que ou será bastante embaraçoso para o PSD ou, o que será mais grave, galvanizador. O voto das grandes cidades não é importante apenas pelo mediatismo, mas também pela sua influência em eleições legislativas. Faltam dois anos.
A solidez de Passos Coelho na liderança com o PSD poderá ficar com a consistência de um queijo sem que ele tenha a faca na mão. Não falta quem afie a sua, mas falta quem saiba em que momento quer avançar para desafiar o presidente do PSD. 2018 poderá ser cedo demais, pois António Costa está a beneficiar de um ciclo económico e a gerir um ciclo orçamental que são favoráveis a uma reeleição em 2019. É por isso que o líder do PSD eleito em 2018 poderá ser transitório e então os adversários de Passos podem preferir ir a jogo em 2018 para perder, posicionando-se para ganhar depois das legislativas.
Vencedores serão também alguns dos muitos independentes, começando por Rui Moreira no Porto, que só tem de saber se terá maioria ou se precisa de fazer pazes pragmáticas com quem está em guerras táticas. Isaltino pode ter um regresso que é mais difícil para Narciso. Mesmo não ganhando, como se verá em Coimbra, os independentes têm força para alterar os equilíbrios que existiriam sem eles. É por isso que os independentes não são uma excentricidade, mas uma tendência. Votada.






A propaganda da direita católica



por estatuadesal
(Joseph Praetorius, in Facebook, 15/09/2017)
prae2
Joseph Praetorius
Há truques na propaganda da direita católica para os quais me falta a paciência.
Às vezes, confesso, basta que se pronunciem os daquela gente para eu tomar a posição contrária. Foi assim quando Zapatero aprovou o “casamento homossexual”. Sempre achei tal coisa um disparate. O Estado não deve celebrar ritos matrimoniais por não lhe incumbir a guarda de quaisquer altares, sendo a sua tarefa meramente registral quanto às decisões de vida em comum, quando lhe peçam tal registo (por razões fiscais e sucessórias entre muitas outras). Bastou a ousada e intrusiva sordidez do bispo de Ávila a “condenar”, para me parecer politicamente indeclinável enfiar-lhe o dito “casamento homossexual” pela cabeça abaixo.
Continua a parecer-me um disparate. Mas onde tais bocas se abram é aplicar-lhes a rebarbadora aos dentes que mostrem. Os cristãos que vivam de outro modo. Isso basta e tem de bastar à moral cristã, desde que essa liberdade não seja posta em causa.

domingo, 17 de setembro de 2017

Um Eixo anti Passos Coelho



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 17/09/2017)
eixox
Estive a ver o Eixo do Mal. Interessante. Traziam um guião afinado, desde o Luís Pedro Nunes até mesmo ao Daniel Oliveira. O Eixo anti Passos.
A direita anda preocupada. Com Passos, um cavalo morto, que só ele não sabe que está morto, a direita não vai a lado nenhum. Passos é uma passadeira vermelha para António Costa e para o partido socialista. A esperança da direita é que Passos seja defenestrado e, com outro líder mais macio, seja possível uma reedição do Bloco Central, a aliança entre o PS e o PSD, já tão distante no tempo. Balsemão encomendou-lhes o guião. Com Passos a liderar o PSD a Geringonça vai durar até à eternidade.
E pior, Passos anda a virar xenófobo, racista e troglodita apoiando o candidato a Loures, André Ventura. Ou seja, como dizia o Pedro Marques Lopes, quem não gostar da Geringonça que alternativa de voto terá, sendo de direita? Votar num PSD xenófobo, não subscrevendo tais posturas? Pois.
Quer dizer. A campanha para as eleições legislativas de 2019 já começou. E qual o programa da direita? Apenas um: evitar uma Geringonça II e o afastamento de Passos é fundamental para que esse programa possa almejar ter sucesso.
A segunda parte do programa seguia o mesmo guião de forma sub-reptícia. Era o dossier Fernando Medina. Todos consideraram que usar uma campanha negra para atacar um adversário político - e ainda sem qualquer fundamento, ao que parece e foi documentado -, é o limite máximo da sujeira. Ora, ainda que o não tivessem dito, a sujeira só pode vir da direita, a saber do PSD, ou seja de Passos. E com isto se pretendeu provar que Passos e seus acólitos não sabem fazer oposição séria, e não são credíveis para enfrentar António Costa em 2019, na pior hipótese. Quando os comentadores da direita e do centro tem necessidade de vir a terreiro defender um alto dirigente socialista em época de pré-campanha eleitoral, é estranho, e tal só prova que o contexto político nacional e internacional é, no mínimo, uma tela surrealista. São precisas inovadoras grelhas de leitura para a conseguir ler e descodificar. E, infelizmente, tardam em surgir.
Ainda deram uns toques na proibição de existirem ou não jogos de futebol em dia de eleições. Nada de importante.
Mas enfim. Coitado do Passos. É, neste momento, tão insignificante que não tem quem o empurre do seu lado esquerdo mas os empurrões surgem dos seus pares do lado direito.
Ora, eu que tanto zurzo e zurzi no Coelho, só posso esboçar um sorriso de satisfação.
Até ando com uma certa comiseração dos próceres da direita. Serviram-se do Passos para fazerem a travessia da troika que ele cumpriu com afã e desvelo. Agora estão aflitos para o chutar para canto. Seria fácil se a direita tivesse um nome credível e alternativo a Passos para liderança do PSD. Mas, até ver, só surgem fogos-fátuos e promessas sem garra.
Meu caro António Costa, pode dormir descansado. E a esquerda, BE e PCP, não abdicando dos seus valores e princípios, que não estiquem demasiado a corda, empurrando o PS para os braços da direita, com Passos ou sem Passos. A política é a arte do possível. E, quase sempre, o possível fica sempre aquém do desejável.

sábado, 16 de setembro de 2017

O diabo acabou de chegar a Massamá…



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 16/09/2017)
Quando em Março passado a Standard & Poor’s decidiu manter a notação da dívida portuguesa em BB+, ou lixo, com perspetiva estável, a ex-ministra das Finanças de Passos Coelho e vice-presidente do PS Maria Luís Albuquerque foi muito clara ao declarar "Eu confesso que não vejo injustiça", adiantando uma explicação para a sua concordância com a avaliação da S&P:
"O elevado nível de endividamento, a divida pública, que tinha reduzido em 2015 voltou a subir em 2016, o endividamento privado também continua muito elevado, o crescimento reduziu face àquilo que vinha de 2015 e há uma conjunto de medidas que representam potenciais problemas para a competitividade e criação de emprego"
Queixava-se ainda de que o Governo não tinha dado  "melhores argumentos" à S&P para que Portugal saísse "desta situação de lixo", lamentando-se ainda que era "uma desilusão que o país continue nesta situação e que não consiga registar, de facto, as melhorias que estávamos prestes a registar no final de 2015".
Poucos meses passados e depois de ter andado a fazer surf nos incêndios e outras desgraças, Passos Coelho ignora o que a sua vice-presidente tinha declarada e deu mais uma das suas cambalhotas, tem mesmo o descaramento de chamar a si quase todo o mérito, quase porque deu um danoninho desse mesmo mérito ao Governo dizendo que este "tem o mérito de ter conseguido nestes dois anos provar que os receios que os investidores tinham eram infundados porque o Governo acabou por garantir as metas que eram importantes para os que estabelecem o 'rating' para o país".
A posição de Passos Coelho chega a ser ridícula pois ninguém se esquece de ter anunciado a vinda do diabo em Setembro de 2016, já depois de ter declarado numa entrevista à SIC dada em março de 2016, que "passaria a defender o voto no PS, Bloco de Esquerda e PCP".
Depois de dois anos a aproveitar tudo o que mau acontecia ou esperava que viesse a acontecer ao país, Passos Coelho humilha-se de uma forma quase ridícula, ao apressar-se a comentar a decisão da mesma Standard & Poor’s para chamar a si todos os louros, chegando ao desplante de dizer que consigo no governo tal notação já teria sido atribuída, lembrando uma declaração de Relvas que em plena crise financeira assegurava que quando o PSD chegasse ao governo as agências de notação recuariam e deixariam de avaliar a dívida portuguesa como lixo.
Esta notação significa que o diabo vinha mesmo, está agora em Massamá transformando Passos Coelho em lixo político.

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Como se reconhece um fascista



por estatuadesal

(António Guerreiro, in Público, 15/09/2017)

Guerreiro

António Guerreiro

Confirmei na semana passada a existência de um exemplar da espécie: chama-se Henrique Raposo e é cronista do Expresso.


No nosso tempo, não é fácil reconhecer um fascista: porque eles não ousam dizer o seu nome ou nem sequer sabem que o são; porque um antifascismo demasiado espontâneo provocou uma inflação demagógica dessa classificação e retirou-lhe todo o rigor.

Com algumas precauções, confirmei na semana passada a existência de um exemplar da espécie: chama-se Henrique Raposo e é cronista do Expresso. Na sua coluna, começava por glorificar a caça como ritual de feição mística, remetendo a morte do animal para a esfera da cerimónia sacrificial, impregnada de elementos culturais. Este discurso é aquele que serviu o culto da guerra. Enriquecida com elementos de um erotismo negro, a cerimónia sacrificial da morte esteve no centro de uma estranha comunidade onde se encontraram nos anos 30 do século passado, em torno de uma revista chamada Acéphale, nomes importantes da literatura francesa: Bataille, Leiris, Caillois, Klossowski e outros. Segundo o testemunho deste último, Walter Benjamin, que tinha acabado de chegar ao exílio parisiense, assistiu a uma dessas reuniões do grupo e comentou: “Vous travaillez pour le fascisme.

Na versão kitsch e pindérica de Henrique Raposo (mas não é o kitsch ideológico uma característica do fascismo?) o culto da morte exprime-se desta maneira: “Há qualquer coisa de belo num tiro que é o encontro entre a trajectória da bala e a trajectória da presa; colocar a bala ou chumbo naquele milionésimo de segundo em que as duas linhas, a do tiro e a da presa, se encontram é um desafio belo”.

O critério de reconhecimento do fascismo, disse uma vez Deleuze, é este: “Alguém que diz ‘viva a morte!’ é um fascista.” Raposo não satisfaz todos os critérios de definição de um fascista, mas está dotado do afecto fascista que encontra beleza na morte. É verdade que se trata da morte de animais e não de homens, mas a máquina antropológica do humanismo (que Raposo defende de maneira acérrima), aquela que exacerba a diferença zoo-antropológica, é exactamente o mesmo dispositivo que serviu para exterminar os judeus.

O melhor vem a seguir. Henrique Raposo desenvolve a sua ideia de uma mística da caça e da morte do animal como um sacrifício onde se manifesta a categoria estética da beleza. E fazendo o elogio de umas declarações do cozinheiro Ljubmir Stanisic, sentencia: “Ljubmir Stanisic e Anthony Bourdain [são] cozinheiros que não pedem desculpa por serem homens, heterossexuais e carnívoros.”

Na sequência lógica do grito necrófilo vem a virilidade ostensiva, a afecção fascista do pensamento viril. O fascista “tem colhões” e gosta de os mostrar. Isto é suficiente para definir um pequeno fascista. Ele só se torna um pouco maior quando usa continuadamente a estratégia do espantalho universal, isto é, a estratégia que consiste em fundir as grandes questões políticas, sociais e morais (o fascista é sempre hipermoral) nos problemas privados e da vizinhança. Trata-se de categorizar os grandes sujeitos colectivos a partir de pessoas singulares. Chama-se a isto o pathos da totalidade. Uma pequena vila do Alentejo, uma periferia urbana ou o senhor José da oficina fornecem então a Henrique Raposo a universalidade de uma visão do mundo. E só não digo Weltanschauung porque é uma palavra demasiado fascista para o nosso pequeno fascista, que começou a semana a fazer um mea culpa por causa de na semana anterior ter levado demasiado longe a sua estratégia do espantalho universal da pedofilia (o espantalho eram, então, os educadores de infância masculinos). Ora, um fascista, ao contrário do pequeno fascista que apresenta algumas afecções da estrutura psicológica do fascismo, nunca se arrepende.
____________________________________________________________________________
Queres entrar no Mundo do E-Commerce e do Marketing Multi-Nível?
Clica no Botão:->

quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Votar ou ir à bola?



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 14/09/2017)
BOLA_VOTO

Parece que anda por aí uma grande preocupação porque os senhores da bola decidiram marcar jogos para o dia das eleições autárquicas, tudo porque quem manda nestas coisas é a Sport TV que manda e um jogo dos grandes ao domingo é indispensável para manter as audiências.
Há aqui qualquer coisa de errado, um jogo demora 90 minutos mais as deslocações se o adepto for ao estádio. Ora, se impedirmos a realização de ventos que obriguem um cidadão a perder tanto tempo como ir ver um jogo de futebol, muita coisa teria que parar no país. Há poucos dias, a propósito da greve na Autoeuropa não faltou quem argumentasse que há muita gente a trabalhar por turnos, aqui o argumento também vale, há muitos portugueses que no dia das eleições têm compromissos dos mais variados tipos que os ocupam durante algumas horas.
Há aqui uma visão paternalista da abstenção, há quem pense que o eleitorado é um rebanho e que ocorrências como os jogos de futebol, os supermercados abertos ou os cinemas contribuem para que algumas ovelhas fiquem tresmalhadas. E ninguém coloca uma dúvida: de que vale o voto de alguém que não sabe muito bem se deve votar ou beber umas cervejas enquanto a bola começa ou depois da bola acabar? Enfim, Deus me livre que as eleições sejam decididas por um destes eleitores…
Ainda há muita gente com a ideia de que os eleitores são borregos fáceis de levar ao curral, não admira que a fruta da época em vésperas de eleições sejam processos judiciais manhosos, tem vindo a acontecer com uma regularidade impressionante. Não há nenhum português que estranhe a presença de andorinhas nos primeiros dias da primavera, que as cerejas apareçam nas bancas em finais de maio e que um pouco antes do ato eleitoral surja um processo judicial, habitualmente visando destruir sempre o mesmo partido.
Um qualquer amigo manda uma carta anónima, dá-se início ao competente inquérito, uma fuga torna o caso público num jornal, costumam ser o CM o “i” ou o Sol, mas quando se quer dar um ar de seriedade à coisa escolhe-se o jornal dos Azevedos, pesarosamente a PGR confirma a investigação em curso e a partir daí é o espetáculo do costume.
Os portugueses já estão habituados a estes truques, aliás, desde sempre que nos tivemos de habituar a truques para manipular eleições. A escola é antiga, primeiro eram os caciques a levar os eleitores, depois eram a manipulação de resultados, seguiram-se as inaugurações em massa e os aumentos de pensões do Cavaco, agora são os processos judiciais. Alguma direita nunca dispensa uma ajudinha.
Tanto os processos judiciais em vésperas de eleições como os jogos de futebol, as promoções nos supermercados ou as homilias nas missas dominicais são algo a que os portugueses já se habituaram e os que, á direita ou à esquerda, sabem em quem querem votar, já não se deixam manipular por idiotas.

PS: Uma sugestão à Liga, porque não oferece um bilhete a cada juiz grevistas e convida os magistrados do MP para as tribunas de honra dos jogos que se realizam no dia das eleições?
____________________________________________________________________________
Queres entrar no Mundo do E-Commerce e do Marketing Multi-Nível?
Clica no Botão:->

terça-feira, 12 de setembro de 2017

E não podemos deslocalizar as maternidades?



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 11/09/2017)
maternidade
O grande argumento contra a greve na Autoeuropa foi o risco de a fábrica vir a ser deslocalizada, tudo porque os trabalhadores daquela empresa fizeram uma greve de um dia ao fim de muitos anos de entendimento laboral. Na ocasião falou-se muito da luta entre o BE e o PCP pelo controlo das estruturas representativas dos trabalhadores daquela empresa. O sindicato que liderou a greve foi criticado por tudo e por todos.
Agora os enfermeiros fazem uma greve de uma semana, promovida por uma dirigente nacional do PSD, onde não se percebe muito bem o que se reivindica, a não ser a esperança de fazer o Estado ceder e conseguir aumentos que dizem ser de mais de 100%. Parece também que, animados pelo movimento dos enfermeiros das maternidades, se pretende a criação de carreiras de especialistas, à semelhança do que sucede com os médicos.
Há uma evidente corrida ao pote liderada por uma bastonária que supostamente não tem funções sindicais, mas que usa uma linguagem e agressividade que faz corar os sindicalistas da Autoeuropa. Qual são as diferenças entre a greve da Autoeuropa e a dos enfermeiros?
Na Autoeuropa foi um escândalo a greve ser liderada por sindicatos, enquanto nos enfermeiros ninguém repara que há uma bastonária a criar mau ambiente e que é uma verdadeira líder sindical. Na Autoeuropa os sindicalistas referem-se aos gestores da empresa com respeito e cortesia, enquanto a bastonária cria um ambiente de faca na liga. Na Autoeuropa os trabalhadores não querem mais, quem apenas defender direitos que tinham. Na AutoEuropa acusa-se o sindicato de estar ao serviço do PCP, enquanto nos enfermeiros ignora-se que a bastonária é dirigente nacional do PSD. Na Autoeuropa os trabalhadores não se gabam dos prejuízos que a greve provocou, nos enfermeiros a bastonária orgulha-se de haverem mães a procurarem onde parir, sinal da sua grandeza sindical A Autoeuropa pode ser deslocalizada, as maternidades e os hospitais não.
Aquilo a que estamos a assistir é a uma bastonária e dirigente nacional do PSD tentando meter o SNS de pernas para o ar com uma greve de uma semana. A lógica é simples, em tempo de eleições vamos tentar destruir o SNS se não lhes derem o dobro do que têm. Se pudesse fazer o mesmo também faria, quem não faria uma greve de uma semana se fosse premiado com o dobro do ordenado.
Note-se que os enfermeiros não iniciaram a corrida ao pote em tempo de eleições, os juízes também querem ganhar mais. É óbvio que ninguém o diz de forma clara, a bastonária/sindicalista/dirigente do PSD está muito preocupada com a qualidade dos cuidados de saúde. Por sua vez, os juízes sindicalistas não conseguem dormir porque está em causa a democracia. Enfim, tudo boa gente muito preocupada com o país.
____________________________________________________________________________
Queres entrar no Mundo do E-Commerce e do Marketing Multi-Nível?
Clica no Botão:->