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sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Adeus, Auto-Europa!

Aventar

por João Mendes

Estávamos em Agosto, um mês silly por excelência, e os proletários da Auto-Europa, estúpidos como uma porta, decidiram fazer uma greve, na sequência da rejeição, por larga maioria dos trabalhadores, das propostas decorrentes do pré-acordo entre a Comissão de Trabalhadores e a administração da empresa.

Imediatamente, profetas de todas as direitas, indignados com tamanho geringoncismo, anunciaram novos cataclismos, área em que se vêm especializando desde finais de 2015. Era o princípio do fim da grande exportadora portuguesa. A Auto-Europa preparava-se para fechar portas, tão certo como a chegada do diabo, e contavam-se os dias até ao trágico desfecho.  Ler mais deste artigo

terça-feira, 21 de novembro de 2017

O ódio que uma informação de qualidade suscita!

por estatuadesal

(Jorge Rocha, in Blog Ventos Semeados, 21/11/2017)

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Será crível que, daqui a uns bons anos, quando os historiadores se debruçarem sobre a História das esquerdas europeias nestes últimos anos, convirjam na conclusão de terem ascendido às respetivas lideranças alguns políticos avessos à matriz marxista - que lhes deveria estar no âmago! -, e deixado tentar por projetos espúrios de gerirem a organização capitalista da economia com maior competência que os habituais figurões das direitas. Se as análises forem objetivas constatarão que todas essas vocações conotadas com a esdrúxula «Terceira Via» terão reduzido drasticamente a influência dessas esquerdas junto dos respetivos eleitorados e contribuído ativamente para prolongadas governações das direitas mais conservadoras.

Porventura - e se a realidade evoluir como desejamos! - enaltecerão a exceção a partir da qual se terá então infletido o rumo das sociedades europeias e ela terá por nome a governação de António Costa à frente de uma maioria parlamentar virada determinadamente à esquerda. E como, pelos seus resultados, terá constituído exemplo paradigmático para que outros, igualmente afoitos, ousassem replicá-lo nos respetivos países.

Se o meu otimismo ganhar substancia poderemos encontrar a formulação de uma viragem histórica através da qual as sociedades europeias poderão ter recuperado o capital de esperança, que já foi o seu, quando prometiam um futuro mais justo e esperançoso aos respetivos povos.

Vem isto a propósito da polémica atualmente em curso em França e que tem tido por protagonista um dos mais pérfidos espécimes daquela «escola de pensamento» criada por Anthony Giddens, Bill Putnam e Mark Lyon e depois implementada por Tony Blair, Felipe Gonzalez, François Mitterrand ou Andreas Papandreou. Manuel Valls, pois é dele que se trata, não se contentou em quase destruir o Partido Socialista francês, como agora aposta na liquidação da agência noticiosa Mediapart, que é uma das poucas alternativas informativas em território gaulês a emancipar-se da tutela ideológica dos grandes grupos económicos. É que, ao contrário do «L«Obs», que manchou todo o passado da publicação outrora dirigida por Jean Daniel ao promover a candidatura de Emmanuel Macron à presidência ou do «Libé», caído nas mãos da sinistra Altice, a proposta informativa do site informativo de Edwy Pinel é uma das poucas garantias de se acederem a conteúdos noticiosos fiáveis. Algo que assusta e faz Valls agir como agente terrorista.

Vale pois ler atentamente um texto publicado na semana transata pelo diretor da Mediapart, que reivindica a importância da sua publicação na conjuntura atual e do qual se propõe a tradução do seguinte extrato:

“A democracia não se cinge ao direito de votar. Uma democracia que a tal se limitasse - o direito de escolher os seus dirigentes - pode produzir uma tirania doce em que o povo designa por intermediação os seus donos antes de retomar a costumada servidão. Porque, se for mantido na cegueira pelas propagandas partidárias e ideológicas dominantes com mentiras dos poderes estatais ou dos poderes económicas, o eleitor pode votar, sem o adivinhar, no seu pior inimigo ou na pior infelicidade que o possa esperar.

Significa isto que uma verdadeira democracia pressupõe o respeito por um direito fundamental: o de saber. Este direito é o de ser informado livremente, seriamente, rigorosamente. Saber tudo quanto caiba no interesse público ou seja tudo quanto é feito em nome do povo soberano, tudo o que influencia o seu quotidiano, tudo o que os interesses privados que gangrenam o interesse público pretendem esconder, tudo o que procuram escamotear os aparelhos partidários que apenas ambicionam o poder pelo poder, ou seja tudo o que nos der, enquanto cidadãos, a liberdade de escolher na maior autonomia das nossas decisões.”

Uma das dificuldades que a atual governação está a conhecer tem a ver com a desinformação da maioria dos órgãos de comunicação social, quase exclusivamente orientados para hostilizarem, continua e ativamente, tudo quanto está a colidir com os interesses de quem deles possui a propriedade. Por isso nos faz tanta falta uma Mediapart em Portugal, porque gente da estirpe de Valls é o que mais abunda no nosso ambiente político-partidário … e «informativo».

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

O amor da direita radical pelos trabalhadores do sector privado

por estatuadesal

JPP

Pacheco Pereira

(José Pacheco Pereira, in Público, 20/11/2017)

O amor da direita pelo trabalho e pelos trabalhadores privados exerce-se em todos os sítios menos nas empresas e nas fábricas. Aí, esse amor propalado é muito mais desprezo e nalguns casos apenas medo.


Um dos aspectos mais curiosos do debate sobre o orçamento, que não é novo, mas que se intensifica sempre que parece haver ganhos de causa do sector público, é o imoderado amor da direita pelos trabalhadores do sector privado, as “vítimas” da captura do Estado por um Governo constituído por lobbies do sector público, seja o PS, seja o PCP, seja o BE, sejam os negregados sindicatos. A história deste orçamento seria assim o de um agravar dos privilégios dos funcionários públicos, os principais beneficiários das “reversões”, cujo efeito na economia “real” será pago pelos trabalhadores do sector privado, seja na manutenção dos baixos salários, seja no desemprego e na precariedade.

Tudo isto é verdade e tudo isto é mentira. Melhor: tudo isto é resultado de um confronto político, ideológico e social. Melhor ainda: tudo isto tem que ver com o poder político, com a justiça social e a forma como os sectores da direita mais radical — e, hoje, insisto mais uma vez numa coisa que muito irrita essa direita, a direita portuguesa que se expressa no espaço público é bastante radical — apresentam um “plano de sociedade” assente na desigualdade a que atribuem ser o motor do desenvolvimento. Esta descrição é eufemística, mas para já serve.

Para eles, a desigualdade social é o único mecanismo que pode garantir o crescimento económico, e para existir essa desigualdade é fundamental que as “pessoas certas”, os partidos certos e os grupos sociais certos estejam no poder para manter uma hierarquia que garanta essa desigualdade. E este programa não dá ao “trabalho” uma função criativa e dinâmica na economia, logo na sociedade, e muito menos os dá aos trabalhadores, sejam do sector privado, sejam do sector público. Vivemos anos de uma crise provocada pelos desmandos do sector financeiro, mas cujos custos foram assacados ao “esbanjamento” dos trabalhadores. Os trabalhadores eram os responsáveis por uma sociedade que vivia “acima das suas posses” e teria de ser “ajustada”. É o que hoje ainda pensam: cada euro que vá para salários ou funções sociais é um risco para a “economia”, e quando o “Diabo” vier vai ter de ser tudo, outra vez, posto na ordem.

Não é por acaso que os governantes dos anos do “ajustamento” pensavam (como aliás a imprensa económica) que a economia eram as empresas, como se estas existissem sem trabalhadores, vistos apenas como um “custo” que era preciso diminuir. Nesses anos nunca se dirigiam aos trabalhadores a não ser para impor as célebres “reformas estruturais” no mundo do trabalho, todas no sentido de facilitar os despedimentos, pôr em causa a necessidade de haver uma “justa causa”, diminuir salários e pensões, combater os direitos dos reformados, acabar com a negociação colectiva, enfraquecer os sindicatos, fragilizar o lado dos trabalhadores em relação aos patrões numa relação social que é já de si muito desigual. Tudo isto foi feito pelos mesmos que agora amam os trabalhadores do sector privado, face aos privilégios do sector público. Aliás, na verdade, o que muito os incomodava era não poderem fazer na função pública o mesmo que faziam no sector privado.

Tem a função pública uma situação de privilégio em relação ao sector privado? Tem certamente, a começar pela preciosa garantia de ter o emprego protegido, embora hoje já não seja uma garantia tão segura como no passado. Aliás, a ofensiva dos anos do “ajustamento” contra a função pública fez-se por todos os meios, salários, regalias, carreira, mas o seu objectivo principal sempre foi a possibilidade de despedir na função pública como se despedia no privado. Usando o mecanismo dos “disponíveis”, foi-se o mais longe que se podia ir, e somente o Tribunal Constitucional travou algumas tentativas de equiparar a legislação laboral no sector público com o sector privado. É isso injusto com os trabalhadores do sector privado? É certamente, mas a relação de uma injustiça com a outra “justiça” está longe de ser aquilo que preocupa os actuais amorosos dos trabalhadores do sector privado. Porque se fosse falariam mais de reequilibrar a legislação laboral, dar força à representação laboral, aumentar os salários e pensões, garantir um salário mínimo acima do limiar da pobreza, melhorar as condições de trabalho, assegurar que os trabalhadores tenham uma voz na administração das empresas, essa tenebrosa proposta bolchevique da economia alemã. Aguenta a “economia”? Aguenta, aguenta, embora outras coisas não aguentem do mesmo modo, e é isso que os encanita.

As razões por que a função pública existia e existe com uma dimensão considerável, assim como as suas regalias, são sociais e políticas. Pode não se aceitar essas razões, mas o debate ganha em ser claro do ponto de vista ideológico e político e não obscurecido pela dicotomia privado e público, alimentada por quem na verdade não gosta é de que o mundo do trabalho tenha direitos, regalias e meios de defesa legal e social, como sejam os sindicatos e as greves, seja no privado, seja no público.

Imaginem os nossos radicais de direita que os primeiros defensores das funções do Estado tinham delas uma clara consciência contra-revolucionária. Quando o confronto social era entre os que não tinham nada, os célebres “proletários”, e os que tinham tudo, a conflitualidade era violenta pela sua própria natureza: não havia nada a perder. Desde Birmarck, passando pela social-democracia alemã, por uma parte da doutrina social da Igreja, pelo socialismo sueco, e por parte da democracia cristã — tudo, como se vê, do mais revolucionário que há —, que se percebeu que o papel do Estado era criar com os seus serviços um efeito de morigeração social, fazendo com que houvesse escola pública para os pobres e não apenas escolas de associações de caridade, hospitais e serviços médicos acessíveis e não apenas assistência “para os pobres e desvalidos”, como estava escrito num frontispício de uma obra da Igreja em frente de minha casa no Porto. O efeito destes serviços públicos foi criar mecanismos de garantia para todos os que não podiam pagar escola, nem médico, para ter uma vida decente. Verificou-se depois que havia um outro efeito positivo na existência de um Estado social: ele próprio funcionava como um elevador social, dando emprego a muitos milhares de trabalhadores nos seus serviços e, ao melhorar a educação e a saúde, tirava da pobreza muitas pessoas que não teriam outro modo de subir na escala social.

Durante muito tempo em Portugal, os funcionários públicos eram muito mal pagos, como contrapartida de terem uma garantia de emprego. Não é o caso de hoje, não por serem bem pagos, mas porque a ofensiva contra salários e empregos no sector privado é muito mais eficaz e a capacidade de defesa dos trabalhadores sem direitos e sem representação forte e em muitos casos ameaçados de perderem o emprego e de perseguições é menor. Um país em que muitos trabalhadores só se lembram do sindicato quando precisam de um advogado que os defenda numa causa laboral não favorece a melhoria dos seus trabalhadores.

Havia no entanto uma outra razão para que existisse uma garantia de emprego, que era assegurar a neutralidade da função pública em relação ao poder político, na medida em que se esperava que os funcionários públicos exercessem funções com o objectivo de um bem comum e não para agradar aos seus chefes ou, na democracia, ao seu partido. Bem sei que este factor em Portugal, onde a politização e partidarização da função pública é a norma em democracia, este argumento, parece absurdo, mas em teoria é válido.

Claro que se pode escrever sobre as perversidades do sector público, o seu gigantismo desnecessário em muitos casos, a sua má gestão, a falta de uma dinâmica assente no mérito no seu interior, a politização de escolhas nas chefias com o efeito de “jobs for the boys”. Defender “menos Estado, melhor Estado” tem toda a razão de ser, assim como a diferenciação entre as funções nucleares de Estado, como seja a defesa e a segurança, e as funções sociais, onde muitas vezes tem sentido privatizar funções que o sector privado faz melhor e mais barato.

Posso, por isso, escrever um artigo usando uma argumentação ao contrário desta e com outros alvos? Posso, mas é para discutir com outros senhores e não estes. Os interlocutores e as suas intenções contam e muito, porque a conversação muda com eles.

Discuto com um socialista a sua crença na infalibilidade do Estado e das soluções públicas, ou com um sindicalista a sua recusa de avaliação profissional, mas não começo a discussão aqui com esta direita cujo amor pelo trabalho e pelos trabalhadores privados se exerce em todos os sítios menos nas empresas e nas fábricas e muito menos na folha de salários e no respeito pelos direitos dos trabalhadores. Aí, esse amor propalado é muito mais desprezo e nalguns casos apenas medo.

“CHAPA GANHA, CHAPA GASTA”!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 20/11/2017)

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É esta a frase a que a nossa Direita agora se agarra, como nova arma de arremesso, para atacar o Governo de maioria Parlamentar de Esquerda actual, insinuando e dizendo mesmo que, no intuito de querer satisfazer as reivindicações dos Professores, este vai gastar as folgas orçamentais que a economia lhe proporciona e, abrindo uma inevitável Caixa de Pandora, desperdiçar irresponsavelmente as mesmas…

Sendo claro que na matéria, como sempre, se mostram inocentes, convém lembrar que este conceito do “Chapa Ganha, Chapa Gasta”está há muitos anos entranhado nos sucessivos passados governos, tanto da Direita como do PS, bastando para isso analisar o que foram as suas execuções orçamentais.

Não só do governo central, como também de todas as instituições por si tuteladas, como os Institutos, Fundações, Comissões de Regulação e tantas outras, mais ainda a Presidência de República e a própria Assembleia de República, entidades cujos recursos provêm de um único Orçamento. E, assim, facilmente chegaremos à conclusão que a frase acima que serve de título a este texto se pode transformar em : “ Está orçamentado? Então é para gastar!”.

Começando pelo orçamento destinado à Presidência da República, esse órgão unipessoal que, pelos vistos, precisava no tempo do anterior (do Sr. Silva) de trinta e seis conselheiros, vejam só, para não falar nos costureiros, nos cabeleireiros, nas esteticistas, nas camareiras, nas cozinheiras e nas arrumadeiras da Maria, de um orçamento anual de 16 milhões de Euros! Alguma vez algo sobrou? É melhor ficarmo-nos por aqui…

Quanto ao actual não sei mesmo mas, se for de igual montante sem uma “Maria”, então ainda pior…

Seguindo com a Assembleia da República que, segundo soube, até tem um Conselho de Administração para a gestão dos não sei quantos milhões a si também destinados. Li que num ano, não posso precisar qual, mas suponho que a situação até seja recorrente, até apresentou prejuízo e terá pedido reforço de verbas! Alguém questionou? Alguém fiscalizou? Alguém denunciou? Orçamentado? Nem para orçamentado gasto deu, quanto mais para o resto…

Já os variadíssimos Institutos, ávidos em aproveitar todas as prerrogativas que têm, como viagens de intercâmbio, de investigação, de estudo e tudo o que de mais alegórico ou eufemístico possam inventar, vão gastando tudo o que lhes é orçamentado e vão sempre argumentando a escassez de meios. Que vão faltando recorrentemente os meios, como todos dizem…Qual a sua função final? O trabalho árduo que dá transformar a transferência que das Finanças recebem para processarem vencimentos e ajudas de custo…

Tal como no Exército, na Marinha e na Força Aérea! As tabelas, as escalas de serviço, os serviços, a gestão das messes e as remunerações, incluindo as horas extras (uma dureza de cálculo!) têm que caber no orçamento, pois se não cabem…pede-se reforço de verba. Argumentando o quê? Falta de meios…

Mas, para este Estado desta maneira funcionando, onde está instituído que tudo o que é orçamentado é para gastar, apresentando o mesmo anualmente um défice, maior ou menor, mas défice, tem que se endividar para o colmatar, não é? É!  É que isto a Escola não nos ensinou. Mas ensinou a Vida…

E agora os tais “Congelamentos”, de si mesmos transformados em “descongelamentos”, a Caixa de Pandora que o Governo aceitou abrir, segundo o Rio! Ou que prova o improviso com que este Governo governa, segundo a Cristas, ou aos repelões, ao facilitismo ou ao oportunismo, segundo o Passos.

Mas estes congelamentos foram feitos num anterior governo (há cerca de nove anos) e, no anterior as carreiras dos Professores ficaram congeladas e, ainda por cima, foi o anterior Governo de Direita que lhes retirou avultados rendimentos. E nem Nogueira nem os Professores vieram para as ruas, para espanto meu e de muitos mais…Ficaram congelados?

Mas, ficamos também a saber, foram igualmente congeladas as dos Polícias, as dos Soldados, as dos armados e não armados, dos à civil e dos fardados, dos GNR, dos Sargentos, Furriéis, Capitães, Majores, Tenentes, Coronéis, Almirantes, Brigadeiros, Generais e demais graduados (ouvi dizer que há mais graduados de alta patente do que veículos de guerra ou barcos), dos do SEF e dos do TEF, dos do FAF e dos do SIF, dos calceteiros, seus substitutos e outros argutos, dos chuveiros e das retretes, dos bombeiros,  das bombas e demais arsenais, dos vedores, dos contentores e dos jardineiros e outros obreiros, dos sinaleiros e de uns tantos jornaleiros! Todas, todas congeladas e há tanto tempo como as dos Professores…

Professores que, pelos vistos, já foram descongelados pois, depois de vários anos de congelamento até vieram para as ruas! Todas suas, mais do descongelado Nogueira, ele também que, durante o congelamento, transformou o bigode em barba! Mas não em “barbudo”, que esses são de outra estirpe!

E agora? Sim, e agora? Qual é então o verdadeiro problema? No meu modesto entender até são dois:

Um, decorrente do atrás referido acerca dos Professores e que resulta numa perplexidade: o porquê de antes nada terem reivindicado, na vigência de um governo de Direita que tanto lhes retirou, e o fazem agora, de um modo assaz radicalizado, num Governo de Esquerda, de precária sustentação, mas que tantos direitos lhes devolveu? Terá como explicação alguma coisa assim parecida com o “Síndrome de Estocolmo”?

O outro, a razão por que, não colocando nunca em dúvida a razão dos Professores e demais ramos da Função Pública na exigência do descongelamento das suas carreiras, aceita neste momento e sob o alto patrocínio da CGTP, do PCP e do BE, na discussão de um orçamento nitidamente progressista, fazer o jogo da Direita? De uma Direita que, apoiando-os por um lado, deseja que a manta do orçamento rompa de tanto esticada e assim culpe de irresponsabilidade e de tibieza este Governo mas, ao mesmo tempo, que o Governo ceda, dando-lhe assim razão…

Querem que o Governo se dissolva por falta de sustentabilidade política? Querem assim fragilizar o Governo para que este perca apoio popular e deste modo aspirarem a recuperar votação à custa do PS e não o contrário? Assim como se fossemos todos muito burrinhos? Não sei, mas fico perplexo.

No entanto, não posso deixar de que referir o que ontem ouvi de um dirigente da CGTP do Porto, afirmando uma coisa que é de uma justeza sem mácula e que requer atenção: “Se há milhões e milhões para as Rendas Garantidas e das PPP´s, como não haver para os descongelamentos?”

Eu responder-lhe ia que tem toda a razão, mas que devia então começar por aí. Porque não lutar por se resolver esse problema em primeiro lugar e acabar com essas rendas ou minimizá-las no mínimo? É que, tendo elas um peso apreciável na nossa despesa, exigindo ao mesmo tempo um reforço significativo e de imediato da despesa, através do descongelamento em tempo mínimo das carreiras dos Professores e não só, deixa de ser razoável a justificação pois vem duplicar a despesa e colocar sérios riscos orçamentais.

Espero bem que a CGTP, o BE e a CGTP estejam bem cientes do que estão a fazer e das estratégias que têm em curso porque, ou muito me engano, e gostaria muito de estar enganado, o que estão a fazer é abrirem um corredor engalanado à Direita!

sábado, 11 de novembro de 2017

Era uma vez

por estatuadesal

(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 11/11/2017)

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Era uma vez um governo de coligação entre o PSD e o CSD do qual Assunção Cristas fez parte, embora agora finja que não. Era uma vez esse governo de direita que fez da troika o pretexto para a implementação do seu programa ultraliberal. Era, portanto, uma vez um governo de direita que sem nenhum memorando que o obrigasse a isso cortou pensões e salários em violação da Constituição, cortou nas prestações sociais mais importantes para idosos e crianças e destruiu os serviços públicos que integram dimensões essenciais do Estado social, como o SNS. Era uma vez um governo de coligação entre o PSD e o CDS que empobreceu o país para crescer, dizia, que fez o maior aumento de impostos de que há memória e que convidou os jovens a emigrarem. Era uma vez Passos e Cristas num governo que afirmava uma, duas e as vezes que fossem necessárias que não havia alternativa àquela austeridade furiosa em face dos compromissos internacionais, que afinal não foram cumpridos. Era uma vez um governo de direita que fazia orçamentos regulares e retificativos violando a lei fundamental, como se nela não estivesse incluída a proteção dos direitos sociais.

Era uma vez uma alternativa. A alternativa surgiu e a esquerda uniu-se para apoiar o governo do PS. O irrevogável Portas apelidou a democracia de geringonça e a direita cruzou os dedinhos à espera de uma queda do Executivo que, ups, não aconteceu.

Era uma vez uma alternativa real, uma política que conjuga crescimento económico, cumprimento das regras orçamentais e dos compromissos internacionais e devolução de rendimentos e direitos. Era uma vez a devolução ao país de paz institucional, de sinais positivos quanto a crescimento económico, à descida do desemprego e à subida do emprego.

Era uma vez a possibilidade de termos uma oposição que explicasse do seu programa. Mas isso só em ficção, porque o programa da direita era a queda do governo “das esquerdas radicais” (como eu gosto do populismo semântico).

Que fazer, terá pensado a direita?

Ser populista, viver de casos, colando-os uns aos outros, ainda que sem nexo algum ente os mesmos, incutindo no povo (que tem por iletrado) sentimentos de medo e de insegurança quanto ao funcionamento do Estado.

Foi assim com a legionella. Pegar num caso evidentemente grave e fazer dele o espelho da ação do governo, num populismo radical, perigoso e talvez apostado na amnésia do tal povo que tem por iletrado. É ver Cristas e o que resta do PSD a fazerem exigências e a apontarem para um alegado desinvestimento no SNS.

A sério? Era uma vez um governo de direta do qual Cristas fez parte que revogou a legislação que torna as vistorias a sistemas de ventilação, nomeadamente nos hospitais, obrigatória e que continua até hoje a opor-se à repristinação do regime jurídico tido por adequado por todas as entidades do sector. Era uma vez uma oposição de direita convencida de que o “povinho” não se recorda do surto de legionella de 2014 em Vila Franca de Xira.

Era uma vez um governo que apresentou uma alternativa ao país e demonstrou que a mesma era possível. Por isso a história de uma direita que se agarra a casos como uma lapa abusando da paciência de quem sabe o quanto custa repor a qualidade dos serviços púbicos massacrados pela austeridade entusiasmada de PSD e CDS e de quem sabe que aquilo que foi orçamentado e executado no SNS em dois anos é o dobro do que o governo anterior tem para mostrar.

Era uma vez um orçamento de estado para 2018, mais uma vez de esquerda, mais uma vez a prometer uma direita de casos.

Era uma vez.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A direita não sai do seu velho ciclo

Estátua de Sal

por estatuadesal

(In Blog Aspirina B, 06/11/2017)

Mumia Cavaco SLopes

Para desespero da direita, ainda não foi desta que Bloco e PCP roeram a corda do Orçamento. O resultado das Autárquicas alimentou-lhes a esperança da vinda do tão esperado novo ciclo, como não aconteceu, alguns atacam o documento agora aprovado, enquanto outros usam como única arma de arremesso político a tragédia dos incêndios.

E há ainda os que misturam tudo como faz o Pedro Marques Lopes, esta semana, na sua crónica no DN.

Diz ele que “o Orçamento do Estado para 2018 é uma espécie de documento de “depois logo se vê”.” Confesso que demorei um bocadinho, mas acabei por concordar. Afinal, há aqui uma diferença, os orçamentos da direita eram mais do tipo “vê-se logo”. Via-se logo que eram inconstitucionais, via-se logo que as contas estavam aldrabadas e que seriam necessários vários orçamentos rectificativos e, sobretudo, via-se logo que o País continuaria a marcar passo. Mas fiquei a pensar e o “depois logo se vê” deve ter sido inspirado na campanha dos candidatos à liderança do PSD. É que, tirando o campeonato dos afectos, não se lhes conhece ideia alguma para o futuro do País. Aliás, “depois logo se vê” podia ser o lema do velho ciclo da direita. Adiante.

Mais abaixo, o Pedro Marques Lopes, informa-nos que “a grande questão é que este Orçamento revela o labirinto sem saída desta solução governativa”, e que “o Orçamento grita isso, está bem à vista que os entendimentos em aspectos fulcrais para o país são impossíveis com esta solução governativa”. Até aqui, os aspectos fulcrais para o País têm sido o défice, a dívida, o crescimento da economia, o desemprego, etc.. Como esses aspectos estão bem encaminhados, e o Orçamento assim o prova, no entender de PML, e se calhar bem, os aspectos fulcrais passaram a ser “as mudanças na Segurança Social, prioridades para o investimento público, reformas no ordenamento do território, acordos para reformar a Justiça, entre outros.” E que os mesmos “são impossíveis de obter no quadro da geringonça.” Não sei se é impossível o Governo realizar essas reformas com o apoio do BE e do PCP, mas sei, e o PML também, que sem o acordo do PSD, pelo menos, são reformas com muito pouco alcance. Ou seja, não são reformas, são apenas umas medidas que o governo seguinte revogará assim que tiver oportunidade.

O que me leva ao tal labirinto. Ao contrário do que diz o PML, os labirintos normalmente têm uma saída e o PS, o BE e o PCP têm conseguido encontrá-la. Já no PSD não se movem num labirinto, isso implica percorrer caminhos, sendo que alguns até os poderiam levar ao entendimento com a esquerda para os tais aspectos fulcrais. Movem-se em campo aberto, mas, tendo em conta as coisas sem nexo que gritam, devem andar todos de olhos vendados.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

O CHARME INDISCRETO

Estátua de Sal


por estatuadesal

(Rui Namorado, in Blog O Grande Zoo, 18/10/2017)

discreto

1) Há vozes de direita trauliteiras e há vozes de direita meigas. Há vozes de direita que vociferam sempre e há vozes de direita que são hábeis nas tocaias, só atacando quando acham oportuno. Há vozes de direita que explodem ao vermelho e há vozes de direita que nunca perdem a calma.

Há vozes de direita que atacam sempre e há vozes de direita que só atacam quando nos vêem frágeis. Há vozes de direita que atacam todas as esquerdas e há vozes de direita que atacam a parte das esquerdas que em cada momento lhes convém. Há vozes de direita que não disfarçam a sua acrimónia quanto à esquerda e há vozes de direita que batem nas costas das esquerdas com a subtileza de quem procura o lugar onde um dia cravarão o punhal.

Da direita, seja ela trauliteira ou subtil, não se espere lisura e lealdade no combate político. Da direita, seja ela trovejante ou melíflua, não se espere uma distinção entre as esquerdas, quando as puder ferir seriamente. Para todas as direitas, a esquerda enquanto alvo está sempre unida.

2) Disto as esquerdas nunca se devem esquecer. As suas diferenças, se forem autênticas e não destruírem a casa comum, são uma virtude e uma respiração natural. Repito: se tiverem sempre em conta que são um alvo comum para todas as direitas, sejam elas brutais ou melífluas.

E que nenhuma das esquerdas se esqueça que, por mais mansa que pareça, qualquer direita, pela sua própria natureza, sempre que puder cravará a faca nas costas de qualquer das esquerdas.

3) Muitos de nós podem ainda  lembrar-se de como era, quando a direita autoritária ocupava o poder sem freios, quando havia um poder não democrático em Portugal .

E se nem todas as direitas são iguais, todas cabem numa mesma palavra. Todas têm no seu código genético como desígnios, a conservação da desigualdade, a relativização da liberdade, a subalternização de facto das pessoas às coisas, do trabalho ao capital. Todas vivem com base no pressuposto de que as esquerdas são um empecilho ao paraíso dos privilégios. E só não afastam esse empecilho se não puderem.

4) Em prol do mundo que almejam, o combate político das esquerdas deve ser sempre leal e democrático. Mas isso não significa que possa assentar na ilusão de que a direita adopta uma posição simétrica. A direita política é a formalização dos poderes de facto no tipo de sociedade  em que vivemos. Só encara o futuro para o confiscar, de modo a torná-lo um espelho cada vez mais pobre do presente.

Assim, no mundo em que vivemos a esquerda tem sobre a direita uma superioridade trágica, que está longe de ser evidente, mas que se reforça dia a dia. Na verdade, se a direita através do uso das suas vastas alavancas de poder conseguisse destruir as esquerdas no mundo, reduzindo a nada qualquer resistência ao capitalismo neoliberal, pouco tempo teria para celebrar a sua imaginária vitória. Apenas teria passado a certidão de óbito, não à esquerda, mas à própria civilização humana e no limite à existência da própria espécie humana. No mundo de hoje,  o drama é pungente. E se cada país tem uma história própria, ela  no essencial não difere de todas as outras. Principalmente, não está imune a todas as outras.

Por isso, devemos ter sempre presente, em analogia com a célebre metáfora  do leve bater de asas de uma borboleta na China que inundaria o mundo de imensas tempestades, que em política por vezes uma pequena pulhice, mesmo envernizada, pode causar grandes tempestades. Tem um risco para o seu subtil autor: qualquer tempestade leva sempre tudo à sua frente. Sem distinções.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A esquerda e a mulher

Estátua de Sal


por estatuadesal

(Carlos Esperança, in Facebook, 18/10/2017)

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Surpreende como a Humanidade progrediu tanto, renunciando a metade de si própria, ao longo de milénios. Há quanto tempo poderia ter chegado onde se encontra, e como seria se a igualdade de género fosse, desde o início, um axioma?

Que raio de preconceito, que as várias religiões assimilaram, terá convencido uns brutos da pré-história de que a sua força física lhes permitia a prepotência sobre o sexo que os complementava e lhes assegurou a perpetuação da espécie?

Como é possível, ainda hoje, haver quem, nascido de pai e mãe, e tendo procriado filhos e filhas, reclame superioridade e admita discriminar progenitores ou descendentes, em função do sexo?

Sendo as coisas o que são e a evolução o que é, a mulher tem de ser muito melhor para poder competir com o homem. Foi talvez o estigma ancestral que a fez triunfar, pelo sacrifício e obstinação, em campos que o macho julgava privilégio seu. Foi assim que, da filosofia à ciência, da literatura à matemática, da política às artes, surgiu uma plêiade de mulheres que participam no avanço da Humanidade.

Longe de estar atingida ou consolidada a igualdade de género, parece irreversível, mas é útil a vigilância porque nada é eterno, e é mais fácil o retrocesso do que a progressão.

E por que raio havia de referir a mulher e a sua condição quando a intenção era falar da esquerda?

Bem, a esquerda é, na política, a mulher. Precisa de ser muito melhor do que a direita se pretender impor-se. Deve-se à esquerda o Renascimento, o Liberalismo, o Iluminismo, a República, a Laicidade e a Democracia, e é a direita que regressa sempre ao poder.A direita é o macho tosco, que alicia trânsfugas, compra corruptos, avassala os meios de produção, submete os órgãos de comunicação e exerce a força. Tal como os camaleões, adapta-se ao ambiente e regressa ao poder depois de cada Revolução que a derruba.

Foram os progressistas que lutaram pelos Direitos Humanos, aboliram o esclavagismo e impuseram o ensino público para homens e mulheres, moldando a civilização europeia, mas são os herdeiros do fascismo, reciclados ou não, que ressurgem na Europa.

Em Portugal, são os herdeiros dos colonialistas, os ressentidos de Abril e os nostálgicos do salazarismo que, a cada tropeção da esquerda, real ou imaginário, reclamam o poder que julgam seu por um qualquer direito divino.

A esquerda tem de ser, na eficácia, generosidade e abnegação, a mulher que se impõe. pela superioridade ética e eficiência política, na vitória da inteligência contra a força. São delas a sabedoria, a força e a beleza de que o progresso e a justiça social carecem.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Obrigado Dona Cristas


Estátua de Sal

por estatuadesal

(Por Estátua de Sal, 17/10/2017)

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O CDS diz que vai apresentar uma moção de censura ao Governo, na sequência da catástrofe provocada pelos fogos que assolaram o país nos últimos dias. Obrigado, D. Cristas. Se o ridículo pagasse impostos a Assunção seria uma contribuinte VIP.

A direita anda tão assanhada a explorar a desgraça alheia para criar alarmismo, pânico e desespero pelo país, que nem nos três dias de Luto Nacional que o Governo - e bem -, decretou em homenagem às vítimas dos fogos, concordou em interromper os trabalhos da Assembleia da República.

O choro dos familiares das vítimas, e dos muitos que perderam os seus haveres, não comove a comandita da direita. Não, eles - quais vampiros -,  querem sangue, o sangue de Costa, o sangue da Ministra da Administração Interna, para temperar os cadáveres das vítimas.

E na orquestração da peça dantesca em que navegam têm a prestimosa colaboração das televisões, soprando nas imagens que emitem chamas já apagadas. Passámos hoje, todo o dia a ver imagens de chamas que já não existem porque foram já apagadas pelas chuvas que caíram esta madrugada. Mas eles querem fogo, chamas e espectáculo de destruição que só interrompem para passar a menina do Trivago e outros anunciantes que tais que lhes pagam a broa. E quando não é do fogo, directamente, que falam, é da contabilidade dos mortos. A SIC interrompe sempre que mais um morto é referenciado: parece que tem um cronómetro necrófago ligado ao écran para dar conta ao milímetro do avanço da tal contabilidade macabra.

Tentar fazer aproveitamento político de toda esta desgraça que atingiu o país é uma torpeza e uma infâmia que que só desonra e desmascara aos olhos dos portugueses quem a promove. Quando o país, em uníssono, se devia agregar contra o infortúnio, chorar os mortos e tratar dos vivos - como em tempos disse o Marquês de Pombal, aquando do terramoto de 1755 -, o que vemos é que as forças políticas da direita cavalgam a desgraça alheia fazendo dela arma de arremesso político. Os arautos desta direita indigente, não são miseráveis, porque na miséria ficaram sim os que tudo perderam nos incêndios, mas são eticamente miseráveis nos seus comportamentos e opções.

Mas, ainda assim, o tiro deverá sair-lhes pela culatra. Se tensões existissem dentro da Geringonça - e acreditamos que sim -, elas irão ser de imediato sublimadas no apoio que à esquerda irá ser dado previsivelmente ao Governo, aquando da votação da dita moção de censura.

Deste modo, ó Dona Cristas, a Geringonça agradece, reconhecidamente, a sua moção. Não há nada melhor para reforçar um casamento enfraquecido do que a aproximação de um inimigo comum a pôr as garras de fora.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Os geringonçólogos



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 19/09/2017)
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No tempo da União Soviética, que deus tenha, havia uma trupe de analistas encartados que se reconheciam como “sovietólogos”. Competia-lhes a tarefa árdua de olharem à lupa para as fotos, que a televisão era pouca, e de colecionarem boatos para poderem chegar à conclusão de que o secretário-geral estava com azia, se fosse o caso, ou outra infâmia qualquer. Da influência de casos desse tipo nos misteriosos destinos do planeta reza a história.
Suponho que, perante o inesperado, é assim que reagem as sociedades perfeitas e os seus mestres de cerimónias. Querem saber e, se não sabem, querem adivinhar. Se for coisa de Ficheiros Secretos, se for eco da Cidade Proibida de Pequim, se for boato da mansão de Futungo de Belas em Luanda, até se for de tumulto no parlamento de Brasília, é esta classe de analistas que é chamada ao palácio para traduzir os sinais, os hieróglifos e as entoações. Sinal dos tempos, agora dedicam-se a Trump e a outras surpresas, e não lhes faltará assunto.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

A propaganda da direita católica



por estatuadesal
(Joseph Praetorius, in Facebook, 15/09/2017)
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Joseph Praetorius
Há truques na propaganda da direita católica para os quais me falta a paciência.
Às vezes, confesso, basta que se pronunciem os daquela gente para eu tomar a posição contrária. Foi assim quando Zapatero aprovou o “casamento homossexual”. Sempre achei tal coisa um disparate. O Estado não deve celebrar ritos matrimoniais por não lhe incumbir a guarda de quaisquer altares, sendo a sua tarefa meramente registral quanto às decisões de vida em comum, quando lhe peçam tal registo (por razões fiscais e sucessórias entre muitas outras). Bastou a ousada e intrusiva sordidez do bispo de Ávila a “condenar”, para me parecer politicamente indeclinável enfiar-lhe o dito “casamento homossexual” pela cabeça abaixo.
Continua a parecer-me um disparate. Mas onde tais bocas se abram é aplicar-lhes a rebarbadora aos dentes que mostrem. Os cristãos que vivam de outro modo. Isso basta e tem de bastar à moral cristã, desde que essa liberdade não seja posta em causa.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Agradecimento ao Professor Cavaco Silva


por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 05/09/2017)
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Francisco Louçã
A intervenção de Cavaco Silva na universidade de verão dos jovens do PSD é um triplo erro para ele e uma tripla vantagem para a esquerda.
Em primeiro lugar, o contexto. O ex-presidente esteve quase sempre discreto durante o mandato do seu sucessor, ao longo de ano e meio. Apresentou um controverso livro de memórias, mas a reacção da opinião pública já o devia ter feito perceber que as suas quezílias com Sócrates não aquecem nem arrefecem o país. Assim, ao escolher fazer pela primeira vez um discurso político de fundo, poderia ter optado por um cenário nacional mais abrangente, que evocasse o seu tempo em Belém. Não, escolheu voltar ao partido para perorar perante uma centena de jovens laranja. Quis portanto fazer-se pequeno.


segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Cavaco Silva: o regresso dos mortos-vivos


por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 04/09/2017)
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A esta hora Cavaco deve estar a preparar uma viagem a Fátima, acompanhado da Maria, para pedir à Virgem que acabe com tanta porrada que tem levado nos últimos dias. Estava tão bem posto em sossego no Convento do Sacramento, gozando da sua parca reforma dourada, que em tempos disse que mal lhe dava para pagar as suas enormes despesas, e a destilar fel para o segundo volume das suas memórias, que acredito que perante tanta tosa, já se tenha arrependido de ter saído da toca.
Aqui vão mais umas bordoadas a preceito, dadas desta vez pelo Daniel Oliveira. Eu não tenho pena nenhuma do personagem, e aliás, fui dos primeiros a molhar a sopa.
A poucos se aplica melhor do que Cavaco o sábio ditado popular que assim reza: Só se perdem as que caem no chão.
Estátua de Sal, 04/09/2017


Durante quatro décadas um dos políticos profissionais há mais tempo no ativo apresentou-se como um técnico, um outsider, um antipolítico. Durante quatro décadas um dos políticos mais perdulários, responsável pela perda de uma oportunidade histórica, como primeiro-ministro, e com uma das casas civis mais dispendiosas da nossa democracia, que chocou o país ao dizer que 10 mil euros quase não davam para as suas despesas, apresentou-se como um político austero.
Durante a sua longa carreira política rodeou-se de homens como Duarte Lima, Dias Loureiro ou Oliveira Costa, mantendo com este último relações financeiras promíscuas, e isso não o impediu de dizer que era preciso nascer duas vezes para ser mais sério do que ele.
A dissociação entre o que Cavaco Silva é e a imagem que tem de si mesmo é o seu traço psicológico mais perturbante. Um traço megalómano que o aproxima, curiosamente, de José Sócrates.

domingo, 3 de setembro de 2017

PS com 43% e mais 20,1% que o PSD



por estatuadesal
(Por Dieter Dillinger in Facebook, 01/09/2017)
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Apesar dos violentos ataques ao Governo durante o verão quente dos incêndios que levou muita gente a suspeitar que foram ateados por pessoas a mando do PSD/CDS, o PS posicionou-se muito bem nas sondagens do barómetro Aximage realizadas nos dias 29 e 30 de Agosto para o Negócios e para o Correio da Manhã e publicadas no Negócios de hoje (01-09-2017) - Ver aqui
Assim, o PS regista 43% de intenções de votos, o que significou uma quebra de 1%, mas que não impediu que a distância em relação ao PSD aumentasse de 19,1 para 20,1%, que ficou nos 22,9% de bem intencionados votantes.O segundo maior partido dos três grandes foi o da Abstenção que ronda os 34%. Os restantes três partidos ficaram abaixo dos 10%. Assim, o BE com 9,1%, a CDU com 7,8% e o CDS da Cristas com 5,2% que representa uma evolução porque já andou nos 4,5%.
Por sua vez, 38,5% dos inquiridos disseram que o Governo andou mal na gestão dos fogos, o que significa que o PSD/Coelho andou bem na estratégia nacional de incendiar a PÁTRIA, já que o objetivo foi criar situações de muitos fogos próximos que impedisse o corpo de bombeiros de atuar. A tragédia de Pedrógão foi bem planeada para criar uma situação com muitas mortes. Os incendiários sabiam que havia uma estrada coberta de copas de árvores que uma vez a arderem queimariam quem por lá passasse e, principalmente, os habitantes em fuga de aldeias próximas já cercadas pelos fogos ateados pelos incendiários da terra do juiz de instrução Alexandre.
Vamos pois ver se o Ministério Público e os juízes de instrução conseguem que os incendiários denunciem os seus mandantes e pagantes ou digam porque razões incendiaram a PÁTRIA que parece não ser a dos procuradores e juízes alegadamente terroristas, isto como afirmação de caráter político e, naturalmente, deduzida a partir das consequências práticas.

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

O regresso do cavaco-vivo

30/08/2017 por António Fernando Nabais



A universidade de Verão de Castelo de Vide está para o Ensino Superior como as notas do Monopólio estão para o dinheiro, o que quer dizer que as aulas que ali decorrem não são, portanto, aulas, concluindo-se, portanto, que os docentes não são professores e que os alunos, portanto, os alunos, dizia eu, não estão ali para aprender. Pronto, confesso: é um rodízio de comícios.
Cavaco Silva foi um dos “professores” convidados e, de modo coerente, confirmou aquilo que de pior tem em si, que é, afinal, o melhor que pode dar ao mundo. O político que fingiu, durante anos, não ser político deu mais uma lição de vacuidade, o que, afinal, faz sentido na universidade de Verão de Castelo de Vide.
Cavaco regozijou-se com a perda de pio do socialismo e criticou, mais uma vez, um alegado anti-europeísmo , o que confirma o primarismo clubístico que está no cerne na sua visão do mundo, feita de ódios e nunca de análises, por muito que ponha um ar professoral.
Interessa-me, apesar de tudo, realçar, no cavacal discurso, a oposição entre realidade e ideologia. Para Cavaco, a ideologia é uma coisa má, insensata, especialmente se socialista (fica-se, até, com a impressão de que a ideologia só existe à esquerda, porque a direita é tão virtuosa que só pode ser realista). A esquerda, intoxicada de ideologia, acaba, segundo Cavaco, por ser contrariada pela realidade e a realidade só pode ser governada à direita, levando a que o socialismo perca, assim, o pio.
No entanto, é a ideologia defendida por Cavaco que dá cabo da realidade, da realidade dos cidadãos, dos trabalhadores, dos desfavorecidos. No fundo, a ideologia de Cavaco resume-se de maneira muito simples: o mundo, os países ou o Estado existem para servir as multinacionais e os grandes grupos financeiros, o que deve levar a que, entre outros aspectos, os direitos laborais ou os salários sejam sacrificados em nome de outros deuses. Cavaco é, naturalmente, um entre muitos, como Luís Montenegro ou Pires de Lima: as pessoas são preocupações menores das ideologias; a realidade dispensa pessoas.
Saúdo e saudarei sempre os reaparecimentos de Cavaco, porque é importante não esquecer quem contribuiu para a ruína dos portugueses, o que, de resto, lhe é indiferente, porque está convencido de que salvou o país. Não deixa de ser ridículo, mesmo que o riso seja amargo.

Fonte: Aventar

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

O PSD vai voltar ao poder com Pedro Passos Coelho?



por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 04/08/2017)
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Nas últimas semanas, o Governo, a quem tudo corria bem onde se pensava que tudo lhe correria mal (na frente económica), viu a vida a correr mal nas áreas onde se pensava que tudo lhe correria bem (política, social e laboral). O Presidente da República deu uma entrevista e a sua pitonisa, Luís Marques Mendes, disse que era a prova de que Marcelo se tinha começado a distanciar do Executivo. A oposição tem cavalgado impiedosamente o drama dos incêndios e o roubo de Tancos, anunciando mesmo o apoio a greves anunciadas. Sente-se que o Governo está ferido e que as negociações para o Orçamento do Estado de 2018 podem abrir fissuras importantes entre PS, por um lado, e Bloco e PCP, por outro. A maioria absoluta com que os socialistas secretamente sonhavam é agora mais incerta e a oposição não afasta uma vitória eleitoral em 2019. Há, contudo, um pequeno problema: será que o PSD pensa que vai voltar ao poder tendo como líder Pedro Passos Coelho? Será que o presidente do PSD é o homem certo para cativar o voto dos portugueses? Será que os sociais-democratas pensam que o discurso punitivo do seu líder entre 2011 e 1015, bem como o rol de desgraças que tem anunciado ao país desde aí, conduzirá a uma enorme vaga de fundo que levará de novo o PSD ao poder daqui a dois anos?

O proselitismo da direita

(Carlos Matos Gomes – Facebook 03/08/2017)

O Observador e os profetas que por lá pregam a sua fé confiam o êxito do seu proselitismo ao mesmo factor dos apóstolos que expandiram todas as religiões: a ignorância dos povos a converter. Os pregadores do neoliberalismo, de que o Observador é a folha paroquial, sabem que o sistema de crédito público, isto é da dívida do Estado, tem uma origem muito antiga – nas repúblicas de Génova e de Veneza, segundo alguns historiadores, daí o sistema passou para a Holanda colonial, com o seu comércio marítimo e tornou-se dominante na Europa logo a partir do início da industrialização. A dívida pública é um processo muito antigo e de manhas conhecidas, que se resume, no essencial, à alienação do poder soberano do Estado aos financeiros, seus credores. A única parte da riqueza dos Estados que resta como propriedade dos cidadãos é, precisamente, a divida do Estado. A dívida do Estado é a corda que o condenado transporta para ser enforcado.
Os pregadores, os comentadores económicos do neoliberalismo, sabem muito bem que a divida pública é o motor do capitalismo. É a dívida pública que transforma o dinheiro improdutivo dos especuladores financeiros em capital e riqueza, sem as canseiras e os riscos da sua aplicação na indústria ou noutras actividades produtoras de bens e serviços reais. Os comentadores como os que no Observador difundem a ideologia do neoliberalismo, estão simplesmente a praticar tiro político contra este governo fazendo de conta que comentam cientificamente assuntos de finanças. Ameaçam com o Inferno, mas vivem da venda das suas brasas, como os pastores das igrejas.
A Helena Garrido e os seus colegas catequistas sabem muito bem que os credores do Estado não fazem nenhum favor em emprestar dinheiro ao Estado, pois a soma emprestada é convertida em títulos de dívida, facilmente transferíveis, que funcionam nas suas mãos como se fossem dinheiro sonante. A dívida do Estado permite aos financeiros criar dinheiro. Como o Estado Português é de confiança, nunca ameaçou nem sequer discutir a renegociação da dívida, nem sequer de prazos e juros, a dívida portuguesa é uma mina.
Os alertas de Helena Garrido contra os perigos da dívida pública são pura hipocrisia política, são apenas ferroadas contra o governo de António Costa por preconceito ideológico e por desejo de colocar os seus homens a gerir o pote, como explicou num momento de franqueza o grande Marco António Costa. O Observador prefere um governo com os seus amigos e os do Marco António Costa e a Helena Garrido escreve por conta desse objectivo. A dívida pública é apenas um pretexto.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Desemprego nos 9%? O que é que isso interessa?



por estatuadesal
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 28/07/2017)
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A taxa de desemprego foi revista em baixa para 9,2% em Maio e, de acordo com valores provisórios, deverá ter voltado a cair para 9% em Junho, revelou hoje o INE. A confirmar-se será o valor mais baixo desde há quase nove anos (8,9%, Novembro de 2008) e ameaça mesmo chegar ao final do ano abaixo da taxa de desemprego que se verificava antes da grande crise mundial.
É nesta altura que alguém dirá: mas o que é que isso interessa? O que interessa é que o Governo andou a esconder a lista dos mortos de Pedrógão. Não foi o Governo mas o Ministério Público? Não interessa. E não são 64 mortos, mas 65 ou 66. O Ministério Público diz que são 64? Não interessa. O que interessa é que não chegou um euro às vítimas dos incêndios. Isso é que é uma ignomínia. E o SIRESP, sim, o SIRESP? Não funciona. Quem o comprou? Foi o Costa, claro. E como baixou o preço, o SIRESP ainda ficou a funcionar pior. E Tancos, e Tancos? Uma vergonha! O Costa fez cativações e por causa disso a vedação não estava reparada e o sistema de vigilância não funcionava. Ah, não houve cortes na Lei da Programação Militar? Não interessa. Houve ou não roubo? Houve. Um roubo de material de guerra que nos achincalha perante o mundo e coloca as nossas Forças Armadas de joelhos junto dos nossos parceiros da NATO. E isso é culpa do Costa. O espaço entre rondas foi de 20 horas? É culpa do Costa que cortou no orçamento do Ministério da Defesa e das Forças Armadas. Nunca se viu tantos cortes como com o Costa. Ah, são cativações? O que é que isso interessa? É tudo a mesma coisa: cortes, cativações… A culpa é do Costa. O desemprego em 9%? O que é que isso interessa? Nada. O Costa não tem nada a ver com isto. O desemprego já tinha começado a descer no tempo do Passos Coelho. Aliás, também o défice desceu com o Passos, muito mais do que com o Costa. E a economia já estava a crescer. Este governo só está a aproveitar a boleia e a estragar o que Passos fez. Não tarda nada estamos outra vez na bancarrota e a pedir ajuda internacional. Com o Costa, é tão certo como dois e dois serem quatro: vamos outra vez pedir apoio aos nossos parceiros.
(Está na altura de recuarmos dois anos e irmos buscar as doutas explicações de inúmeros economistas, abalizados comentadores, jornalistas especializados que garantiam várias coisas: 1) que a subida do salário mínimo iria levar ao aumento do desemprego; 2) que a devolução de salários e pensões implicaria a subida do défice orçamental e o regresso dos desequilíbrios externos; 3) que a reversão de várias políticas do tempo da troika desaguaria na estagnação económica ou num crescimento agónico; 4) que a descida do IVA na restauração não teria qualquer efeito no sector. Bom, os índices de confiança dos consumidores são os mais elevados do século, o clima económico está em níveis pré-crise, o desemprego desceu abaixo da barreira psicológica dos 10%, o défice foi o mais baixo em 42 anos de democracia e este ano deve voltar a descer, continuam a verificar-se excedentes orçamentais primários, os desequilíbrios externos não regressaram…)
Sim, mas o que é que isso interessa? E os mortos de Pedrógão que o Governo escondeu? E o dinheiro que não chega às vítimas? E o roubo de Tancos? Sim, o roubo de Tancos? Pois, isso não lhes interessa. Só querem falar da taxa de desemprego, uma coisa sem importância nenhuma e que, aliás, se deve ao Passos. Essa é que é essa.

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Sócrates diz que a Direita quis impedir a sua candidatura à Presidência da República

José Coelho / Lusa


O ex-primeiro-ministro português assegurou, esta quarta-feira, que o processo judicial em que está implicado por corrupção responde a uma campanha da direita para evitar que apresentasse a sua candidatura à Presidência de Portugal.
“O objetivo foi impedir que me candidatasse a Presidente da República“, segundo José Sócrates, que precisou que o Ministério Público foi instrumentalizado para “um objetivo político”.
Num encontro com correspondentes estrangeiros em Lisboa, o ex-primeiro-ministro lembrou que o processo judicial começou há quatro anos, quando “a direita política estava convencida de que me ia candidatar” à Presidência, incidiu.
Então, o que se fez foi procurar “uma forma de criminalizar o Governo anterior”, de pôr em marcha o que parece ser “uma gigantesca investigação a um Governo legítimo da República portuguesa”.
Não pensava candidatar-me, eles é que o pensavam, a direita”, esclareceu, antes de acrescentar que sempre achou que o seu correligionário, agora secretário-geral da ONU, António Guterres, iria ser candidato.
Segundo o ex-primeiro-ministro, que passou quase dez meses em prisão preventiva por este caso, no qual ainda não se apresentou uma acusação formal, quando se introduz alguém na prisão “sem provas, factos ou indícios”, pode-se dizer que há suspeitas que se está a manipular a justiça com um “objetivo político”.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

O PSD e a questão cigana



por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 21/07/2017)
ciganos

Em Portugal não há extrema-direita, as dezenas de milhares de pessoas que sustentavam o antigo regime converteram-se num ápice em social-democratas  liderados por aqueles que eram a ala liberal de um partido fascista e chegaram ao desplante de pedir a adesão à Internacional socialista. Em Portugal todos adoramos os ciganos, os indianos, os chineses e os africanos, pensamos maravilhas de todos eles. Já nem vale a pena entrar noutros domínios das desigualdades.
No caso da Le Pen de Loures o problema poderia ter sido sanado rapidamente, o candidato pedia desculpa e o presidente do partido demarcava-se claramente do candidato. O Ventura ainda ensaiou um esclarecimento, mas quando percebeu que Passos o apoiava e que o seu populismo criava um ambiente aparentemente favorável à sua candidatura, rapidamente retrocedeu e insistiu no seu discurso como se em Portugal existisse uma questão judaica. Toda uma etnia que vivia de forma parasitária e que se comportava à margem da lei.
Ventura tem um mérito, pela primeira vez um político da extrema-direita assume claramente ao que vem e quais são as suas ideias, desencadeando, como disse o próprio, um movimento de apoio local e nacional em torno da sua candidatura. Não tenho dúvidas de que Ventura fala verdade quando diz que sente um grande apoio. Se defendesse que os gays deviam ser capados ou que Portugal devia exigir às ex-colónias que indemnizassem todos os que perderam as suas propriedades coloniais teria ainda mais apoio; afinal num programa de televisão que escolhia o maior português de sempre o eleito foi Salazar.
Dantes os ciganos eram proibidos de pernoitar em muitos concelhos do país, agora são detestados por receberem os apoios sociais que mais de um milhão de portugueses recebem, dantes eram ladrões, agora são gatunos malcheiroso. O mesmo partido que na minha junta de freguesia dá apoios financeiros extras para ganhar os votos de uma importante comunidade cigana com peso para inclinar a balança eleitoral, assume onde lhe convém um discurso que pressupõe que tem uma agenda condicionada por aquilo que parece ser uma questão cigana.
Passos protegeu o seu candidato de Loures; se as sondagens naquele concelho favorecerem esta opção, não me admiraria que escolhesse Loures para encerrar a campanha eleitoral e elegesse a questão cigana como a bandeira autárquica de um partido que entrou em decadência moral. Depois de se ter aproveitado dos que morreram em Pedrógão Grande e da forma oportunista como abordou o assalto a Tancos é de esperar tudo de um politico desesperado e sem escrúpulos na hora de conseguir votos.