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sábado, 25 de novembro de 2017

“Entre o PCP e o PS há um pedregulho difícil de remover”

por estatuadesal

(Entrevista a Jerónimo de Sousa, in Expresso, 25/11/2017)

jerónimo

(Apesar de muitos o detestarem, e alguns acharem mesmo ainda que os comunistas "comem criancinhas", o PCP é um partido cuja influência não pode ser ignorada na sociedade e na política portuguesa, mais ainda agora que suporta no parlamento a actual solução governativa. Por isso esta entrevista é importante. Para perceber o presente da Geringonça e se no futuro se poderá - ou não -, prefigurar uma Geringonça 2.0, eventualmente com outros contornos formais, mas navegando dentro do quadro idêntico - ou até mais amplo, de objectivos. Uma coisa fica clara: para o PCP a legislatura é para durar quatro anos. Depois, como diz Jerónimo, "perante o pano é que se talha a obra".

Estátua de Sal, 25/11/2017)


No final do debate orçamental, Jerónimo de Sousa falou com o Expresso. A atual legislatura é para levar até ao fim mas, quanto à próxima, os comunistas não se comprometem. O líder do PCP recusa uma nova “posição conjunta” ou acordos pré-eleitorais com os socialistas. Jerónimo não disfarça que “há um pedregulho difícil de remover” entre os dois partidos. São diferenças insanáveis e que obrigam os comunistas, não só a marcar terreno, mas também as devidas distâncias.

Diz que se acentuaram as contradições com o PS. O PCP acha que a atual solução política se esgotou?

É uma solução que não é repetível. Num quadro de eleições e trabalhando nós para uma perspetiva de legislatura...

... o fim desta legislatura não está em causa? Não é um recado para dizer que para o ano não aprovam o OE?

A nossa perspetiva é de uma legislatura. Mas, nas próximas eleições para a AR e mantendo-se a relação de forças atual, continuo a considerar que não é preciso uma posição conjunta. Obviamente, muita coisa acontecerá entretanto e isso é fazer futurologia, mas pode não ser necessária uma posição conjunta. É preciso que o futuro Executivo afirme, neste caso concreto o PS, que vai prosseguir esta linha de avanços e de justiça social.

O PS forma Governo com maioria relativa e sem acordos conjuntos como Guterres?

Na posição conjunta ficou claro que o PCP não abdica da sua independência e autonomia de decisão, afirmando perante o PS que votaríamos a favor de medidas positivas e votando contra o que não consideramos positivo. Aliás, isso aconteceu em muitas votações e foi evidente no caso Banif. Sem drama nenhum.

O impacto nas autárquicas fez o PCP rever sua posição? O modelo já vos prejudicou o suficiente para se voltar a repetir?

Não. Foi decisivo o papel do PCP para ver PSD e CDS saírem do Governo. O objetivo político era interromper a política de terra queimada e, perante uma calamidade, a primeira resposta foi repor alguma justiça, ainda que de forma insuficiente. No futuro próximo não abdicamos deste princípio: há necessidade de uma política alternativa patriótica e de esquerda.

O resultado das autárquicas pesou sobre como lidar com o PS na próxima legislatura?

Não pesou. Nem alterou o nosso comportamento e perspetiva.

Mudou, pelo menos, a estratégia de comunicação do PCP sobre os seus ganhos. Dizia que o BE era mais expedito.

Percebo o BE, a tentar meter a bandeirinha. Nós empenhámo-nos a fundo na discussão do OE e conseguimos muitas coisas. Depois, vemos outros fazer anúncios desses mesmos avanços. Fomos agora mais expeditos mas numa expressão honesta, nunca tentando pôr ovos em ninho alheio. O nosso problema não é que o BE nos acompanhe, mas que as pessoas percebam o que é a marca do PCP.

Este é o melhor dos três orçamentos da geringonça?

Este OE do Governo PS consolida os avanços alcançados em 2016 e 2017 e portanto tem um ponto de partida diferente. Ainda assim, apesar das limitações e insuficiências, é um Orçamento que vai mais longe nos avanços.

Qual foi a medida do PCP de alteração ao OE mais arrancada a ferros ao PS?

Desbloqueamento dos investimentos, na Educação, Saúde e Transportes (fim das cativações) e a proposta que prevê a possibilidade de contratação na Administração Pública.

Depois das autárquicas, ouviu camaradas seus dizerem que a ‘geringonça’ não foi uma boa ideia?

Continuo a ter como referência a resolução política do XX congresso aprovada por unanimidade. Eu ando pelo país e há alguma tristeza em relação ao resultado das autárquicas, daí a haver arrependimentos... isso não tem expressão.

No Comité Central não foi motivo de crítica?

Não, aliás as últimas reuniões do CC têm sido praticamente todas por unanimidade. Nos contactos que temos no terreno há muita confusão. Muitos consideram que há uma maioria de esquerda, outros que há um acordo das esquerdas. E nós dizemos que é um governo minoritário do PS e que não há um acordo parlamentar.

Mas depois de 2019, não querem continuar a dar a mão ao PS?

Daremos a mão ao povo e faremos tudo para conseguir novos avanços.

Se o PS ganhar sem maioria absoluta e o PCP não estiver disponível, empurra-o para um bloco central. Prefere isso?

Este processo tem valido a pena. Não temos nenhum arrependimento das posições que tomámos e pelo que conseguimos avançar. Quanto às próximas eleições deixemos o povo decidir. Diálogo haverá sempre. Mas com que programa se vai apresentar o PS?

Fazer parte do Governo está fora de questão?

Participar no Governo para quê? Para uma política que não resolve os problemas centrais ou para realizar uma política de crescimento económico e de justiça social? O meu partido sente-se orgulhoso, até aqui, pelo trabalho muito exigente que foi feito, num quadro de contradições. Depois, perante o pano é que se talha a obra...

Pode haver um entendimento pré-eleitoral com o PS? Já foi falado?

Não. Há aqui um pedregulho difícil de remover. Em matérias estruturantes, o PS não abdicou de uma política de direita.

A possibilidade do ministro das Finanças presidir ao Eurogrupo aumenta o ‘pedregulho’ ou pode mudar alguma coisa? 

A experiência com responsáveis portugueses nas instituições europeias não é, propriamente, para entusiasmar. Demonstrou-se que não é condição suficiente para que os interesses de Portugal sejam defendidos. O diretório de potências da UE é quem determina.

O Governo às vezes esquece-se que não tem a maioria absoluta?

Não é uma orientação geral, mas tem acontecido. Obviamente não queremos ser juízes-conselheiros nem a voz da consciência do Governo do PS. Não queremos favores nem lugares. Queremos ajudar a resolver problemas.

“Não sou o suprassumo da batata”

Tancos, incêndios, INFARMED. Costa é um primeiro-ministro para as boas notícias e tem dificuldade em lidar com as más?

Não sou capaz de fazer uma análise a perfis, mas em relação aos incêndios não houve a resposta que se justificava. Era preciso uma resposta imediata, aparecer com um sentido de esperança, de reposição das condições de vida de muitas pessoas e empresas.

Isso deve-se a alguma falta de humildade?

Não, acho que foi mais subestimação do que propriamente indiferença.

... ou falta de conhecimento do mundo real que o Jerónimo conhece bem?

Na sua responsabilidade governativa, acho que tem conhecimentos. Mas essa realidade foi capaz de o surpreender. O primeiro-ministro não percebeu o sentido exato do drama que aconteceu.

É um problema dos chamados ‘políticos de gabinete’?

Há muitos. Não me considero o suprassumo da batata no contacto direto. Mas é evidente que tenho a vantagem de viver no meio em que nasci e fui criado, de muita iniciativa, de calcorrear milhares de quilómetros. Depois, há características próprias que permitem a aproximação das pessoas.

Acha que o primeiro-ministro demorou a pedir desculpa?

Para mim, o mais importante era ter tido uma resposta eficaz.

Já pediu desculpa por atitudes que tomou, nomeadamente, no seu partido?

No meu partido nunca ninguém me exigiu um pedido de desculpa. Às vezes peço, mas não por razões políticas. Obviamente.

Declarações de António Costa geram “preocupação”

O líder do PCP confia na palavra de António Costa e “ainda” não considera que o Governo esteja a dar o dito pelo não dito no caso da contagem integral do tempo de serviço dos professores para efeitos de descongelamento de carreira. Mas há necessidade de esclarecimento. “Um retrocesso teria leituras e consequências políticas”, avisa.

O Governo assinou um acordo com os professores e já diz que é uma ilusão pensarem que vai ser contado o tempo de serviço. Está a incumprir o que acabou de acordar?

Independentemente desta declaração, o importante é tomar como adquirido que na questão da progressão das carreiras o tempo deve contar para todos. Sejam professores, enfermeiros, médicos, forças de segurança, trabalhadores da Justiça. Esta consideração teve acolhimento. Outra coisa é discutir o modo e o calendário em que será concretizado. Propomos que o Governo discuta isso com os sindicatos.

Essa é a proposta do PCP. Mas o Governo vem dizer que é uma ilusão que os professores pensem que o tempo conta todo...

Não acompanhamos essa afirmação. A proposta que fizemos em sede de orçamento salvaguarda que o tempo conta. Até porque ninguém entenderia que o tempo de trabalho efetuado não viesse a ser contado!

Então, como entende as declarações do primeiro-ministro?

É uma declaração sem expressão concreta naquilo que estamos a aprovar no OE. Fica a preocupação, obviamente.

O Governo pode estar a dar o dito pelo não dito?

Ainda não considero isso. Seria profundamente negativo um retrocesso em relação aos passos que foram dados.

O que foi acordado entre o PCP e o PS? Falou-se concretamente que seria tido em conta o tempo todo de serviço?

O mais importante, numa fase preliminar de exame comum, foi a consideração que a progressão das carreiras deveria ser concretizada até ao final da legislatura. Ouvimos opiniões diferentes, nomeadamente do ministro das Finanças que admitiu ir além de 2019. Batêmo-nos para que fosse concretizado na legislatura. Houve um entendimento que nós consideramos que continua a valer.

Mas aí não está o tempo de serviço... O PCP presume que está incluído?

Presumimos que sim! Não se justificaria uma concordância se não houvesse essa salvaguarda em relação à contagem do tempo!

Quando se ouve o primeiro-ministro falar, nota-se um entendimento diferente...

Para nós o entendimento é claro em relação aos limites da legislatura e à contagem do tempo. A proposta que fizemos partia dessa consideração e dessa possibilidade. A única coisa que se compreenderá, tendo em conta os montantes, é o faseamento no tempo e o modo de consideração. Não questionamos o direito adquirido pela contagem do tempo de serviço.

Se o Governo não fizer a contagem do tempo de serviço dos professores nesta legislatura está a incumprir o acordo?

Digamos que ninguém esperaria, muito menos os trabalhadores, que isso não fosse considerado na progressão das suas carreiras.

É uma surpresa a forma como a questão está a ser colocada pelo Governo?

Entendo-a como uma afirmação que precisa de ser clarificada.

Confia na palavra de António Costa?

Continuo a confiar, sim.

O silêncio do ministro das Finanças sobre este dossiê é motivo de preocupação?

O primeiro e principal responsável é o primeiro-ministro. É ele quem tem a responsabilidade das escolhas. Lembro-me de, há uns tempos, o ministro das Finanças colocar esta questão além da legislatura. Mas houve evoluções na fase de exame comum que consideramos positivas. Vamos ver o desfecho.

Marcelo disse que as pessoas podiam ter ilusões e que nada voltaria a ser como dantes, referindo-se em concreto ao tempo de serviço dos professores.

A tese que a destruição de direitos não pode ser reposta é preocupante. Lembra a afirmação de um dirigente do PSD de que o país estava melhor, mas o povo estava pior. Não há desenvolvimento sem que o povo se sinta bem. Não estamos a reivindicar direitos novos, mas a restituição do que foi extorquido. Um retrocesso desta natureza teria leituras e consequências políticas.

O primeiro-ministro disse que o Estado só vai pagar aquilo que consegue.

E nós consideramos que o Estado tem condições de pagar aquilo que é devido aos trabalhadores.

De outra maneira: gostou de ouvir Costa a repetir as palavras de Marcelo?

Não fico triste nem alegre, faço uma avaliação política.

O Presidente da República mudou de atitude? Teme que haja dificuldade de promulgação do OE?

Não tenho nenhum indicador que me leve a ter essa preocupação. É evidente que hoje temos um quadro muito complexo. A CIP aumentou de galão em termos de pressão. Lá veio, mais uma vez, a ameaça de Bruxelas. Mas a essas ameaças e avisos a resposta deve ser de firmeza e não de cedência.

O PM e o PR estão a acusar essa pressão dos patrões e de Bruxelas?

Não faço juízos de intenção. Constato um facto que não é novo: sempre que há um encaminhamento positivo das coisas, lá vêm as imposições como se fossem os mandões do meu país. Acho inadmissível essa pressão! Há umas semanas, o Conselho Europeu defendeu a valorização dos salários mas depois, quando há uma proposta concreta...

... 600 euros, que o PCP pede desde 2015. É uma batalha que perdeu?

A nossa batalha tem sido por este valor. O Governo vai invocando a concertação social mas é bom lembrar que a responsabilidade do aumento do salário mínimo não é do CES. O Governo não pode encontrar ali o biombo. Fico chocado que um trabalhador que trabalhe a vida inteira recebendo na casa dos 500 euros vá empobrecendo. É uma contradição insanável: trabalhar e ir empobrecendo!

É um dos amargos de boca desta solução governativa?

Isso não constava da posição conjunta.

Porque foi fechado um acordo entre o BE e o PS...

O BE partiu do pressuposto que aquilo era um mínimo. Quem tem alguma experiência de negociação sabe bem que quando se apresenta uma proposta ela é sempre o máximo. O BE também está de acordo com a nossa proposta. O problema continua a ser a falta de determinação do Governo. Apresentámos a proposta, ela foi recusada. Podemos usar aqui o nosso chavão — a luta continua.

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Da geringonça à passarola

Posted: 13 Nov 2017 02:57 AM PST

«A temível geringonça fez agora dois anos. A designação, usada para definir aquilo que parecia ser uma disforme máquina voadora, e que, na opinião dos seus detractores, acabaria por se desintegrar no pó, continua a voar.
Não tão elegantemente como no passado recente, mas de forma inesperada. Voa com propulsão da economia, combustível julgado impossível de alimentar uma invenção de uma maquineta de esquerda. Talvez por isso se tenha transformado numa passarola, aquela invenção de Bartolomeu de Gusmão, que hipnotizou a corte de D. João V em 1709, quando o balão aquecido a ar subiu até ao tecto da sala e só foi destruído com varas porque havia o medo de poder incendiar o recinto. É esse o receio: que este modelo possa frutificar numa Europa desorientada. Cercada por todos os lados, a solução governativa liderada por António Costa conseguiu um equilíbrio digno de um aprendiz do Chapitô: contenção orçamental para lograr um défice sustentado, com uma política de mãos largas para alimentar as clientelas políticas do BE e do PCP. Sabe-se que esta passarola não voará para sempre. O PCP, depois da derrota autárquica, viu ressurgir o lado sindical, que sempre foi contra o acordo governativo. E este só conhece a guerra.
É por isso que todos olham para 2019. Para ver qual será o futuro do PS e qual será a reacção do PSD. Porque, por enquanto, uma das forças do Governo é a inabilidade do PSD. Olhe-se, nos últimos dias, a forma como o PSD se auto-imola. Não bastava a frase do especialista em fazer contas de somar e subtrair, António Leitão Amaro, transfigurado em humorista ("Foi pela lei anterior que a legionela passou a ser totalmente proibida, passou a ser zero"). Basta ler a entrevista de Maria Luís Albuquerque ao Público: "Afectos? Acho que os portugueses precisam, sobretudo, é de ter uma alternativa." A galinhola do PSD poderá voar? Não. O PSD ainda não aprendeu: foi o discurso da insensibilidade que o perdeu. E isso é a proteína deste Governo, que percebeu, tal como Marcelo, o valor do afecto.»




sábado, 11 de novembro de 2017

Era uma vez

por estatuadesal

(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 11/11/2017)

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Era uma vez um governo de coligação entre o PSD e o CSD do qual Assunção Cristas fez parte, embora agora finja que não. Era uma vez esse governo de direita que fez da troika o pretexto para a implementação do seu programa ultraliberal. Era, portanto, uma vez um governo de direita que sem nenhum memorando que o obrigasse a isso cortou pensões e salários em violação da Constituição, cortou nas prestações sociais mais importantes para idosos e crianças e destruiu os serviços públicos que integram dimensões essenciais do Estado social, como o SNS. Era uma vez um governo de coligação entre o PSD e o CDS que empobreceu o país para crescer, dizia, que fez o maior aumento de impostos de que há memória e que convidou os jovens a emigrarem. Era uma vez Passos e Cristas num governo que afirmava uma, duas e as vezes que fossem necessárias que não havia alternativa àquela austeridade furiosa em face dos compromissos internacionais, que afinal não foram cumpridos. Era uma vez um governo de direita que fazia orçamentos regulares e retificativos violando a lei fundamental, como se nela não estivesse incluída a proteção dos direitos sociais.

Era uma vez uma alternativa. A alternativa surgiu e a esquerda uniu-se para apoiar o governo do PS. O irrevogável Portas apelidou a democracia de geringonça e a direita cruzou os dedinhos à espera de uma queda do Executivo que, ups, não aconteceu.

Era uma vez uma alternativa real, uma política que conjuga crescimento económico, cumprimento das regras orçamentais e dos compromissos internacionais e devolução de rendimentos e direitos. Era uma vez a devolução ao país de paz institucional, de sinais positivos quanto a crescimento económico, à descida do desemprego e à subida do emprego.

Era uma vez a possibilidade de termos uma oposição que explicasse do seu programa. Mas isso só em ficção, porque o programa da direita era a queda do governo “das esquerdas radicais” (como eu gosto do populismo semântico).

Que fazer, terá pensado a direita?

Ser populista, viver de casos, colando-os uns aos outros, ainda que sem nexo algum ente os mesmos, incutindo no povo (que tem por iletrado) sentimentos de medo e de insegurança quanto ao funcionamento do Estado.

Foi assim com a legionella. Pegar num caso evidentemente grave e fazer dele o espelho da ação do governo, num populismo radical, perigoso e talvez apostado na amnésia do tal povo que tem por iletrado. É ver Cristas e o que resta do PSD a fazerem exigências e a apontarem para um alegado desinvestimento no SNS.

A sério? Era uma vez um governo de direta do qual Cristas fez parte que revogou a legislação que torna as vistorias a sistemas de ventilação, nomeadamente nos hospitais, obrigatória e que continua até hoje a opor-se à repristinação do regime jurídico tido por adequado por todas as entidades do sector. Era uma vez uma oposição de direita convencida de que o “povinho” não se recorda do surto de legionella de 2014 em Vila Franca de Xira.

Era uma vez um governo que apresentou uma alternativa ao país e demonstrou que a mesma era possível. Por isso a história de uma direita que se agarra a casos como uma lapa abusando da paciência de quem sabe o quanto custa repor a qualidade dos serviços púbicos massacrados pela austeridade entusiasmada de PSD e CDS e de quem sabe que aquilo que foi orçamentado e executado no SNS em dois anos é o dobro do que o governo anterior tem para mostrar.

Era uma vez um orçamento de estado para 2018, mais uma vez de esquerda, mais uma vez a prometer uma direita de casos.

Era uma vez.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Os geringonçólogos



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 19/09/2017)
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No tempo da União Soviética, que deus tenha, havia uma trupe de analistas encartados que se reconheciam como “sovietólogos”. Competia-lhes a tarefa árdua de olharem à lupa para as fotos, que a televisão era pouca, e de colecionarem boatos para poderem chegar à conclusão de que o secretário-geral estava com azia, se fosse o caso, ou outra infâmia qualquer. Da influência de casos desse tipo nos misteriosos destinos do planeta reza a história.
Suponho que, perante o inesperado, é assim que reagem as sociedades perfeitas e os seus mestres de cerimónias. Querem saber e, se não sabem, querem adivinhar. Se for coisa de Ficheiros Secretos, se for eco da Cidade Proibida de Pequim, se for boato da mansão de Futungo de Belas em Luanda, até se for de tumulto no parlamento de Brasília, é esta classe de analistas que é chamada ao palácio para traduzir os sinais, os hieróglifos e as entoações. Sinal dos tempos, agora dedicam-se a Trump e a outras surpresas, e não lhes faltará assunto.

domingo, 17 de setembro de 2017

Um Eixo anti Passos Coelho



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 17/09/2017)
eixox
Estive a ver o Eixo do Mal. Interessante. Traziam um guião afinado, desde o Luís Pedro Nunes até mesmo ao Daniel Oliveira. O Eixo anti Passos.
A direita anda preocupada. Com Passos, um cavalo morto, que só ele não sabe que está morto, a direita não vai a lado nenhum. Passos é uma passadeira vermelha para António Costa e para o partido socialista. A esperança da direita é que Passos seja defenestrado e, com outro líder mais macio, seja possível uma reedição do Bloco Central, a aliança entre o PS e o PSD, já tão distante no tempo. Balsemão encomendou-lhes o guião. Com Passos a liderar o PSD a Geringonça vai durar até à eternidade.
E pior, Passos anda a virar xenófobo, racista e troglodita apoiando o candidato a Loures, André Ventura. Ou seja, como dizia o Pedro Marques Lopes, quem não gostar da Geringonça que alternativa de voto terá, sendo de direita? Votar num PSD xenófobo, não subscrevendo tais posturas? Pois.
Quer dizer. A campanha para as eleições legislativas de 2019 já começou. E qual o programa da direita? Apenas um: evitar uma Geringonça II e o afastamento de Passos é fundamental para que esse programa possa almejar ter sucesso.
A segunda parte do programa seguia o mesmo guião de forma sub-reptícia. Era o dossier Fernando Medina. Todos consideraram que usar uma campanha negra para atacar um adversário político - e ainda sem qualquer fundamento, ao que parece e foi documentado -, é o limite máximo da sujeira. Ora, ainda que o não tivessem dito, a sujeira só pode vir da direita, a saber do PSD, ou seja de Passos. E com isto se pretendeu provar que Passos e seus acólitos não sabem fazer oposição séria, e não são credíveis para enfrentar António Costa em 2019, na pior hipótese. Quando os comentadores da direita e do centro tem necessidade de vir a terreiro defender um alto dirigente socialista em época de pré-campanha eleitoral, é estranho, e tal só prova que o contexto político nacional e internacional é, no mínimo, uma tela surrealista. São precisas inovadoras grelhas de leitura para a conseguir ler e descodificar. E, infelizmente, tardam em surgir.
Ainda deram uns toques na proibição de existirem ou não jogos de futebol em dia de eleições. Nada de importante.
Mas enfim. Coitado do Passos. É, neste momento, tão insignificante que não tem quem o empurre do seu lado esquerdo mas os empurrões surgem dos seus pares do lado direito.
Ora, eu que tanto zurzo e zurzi no Coelho, só posso esboçar um sorriso de satisfação.
Até ando com uma certa comiseração dos próceres da direita. Serviram-se do Passos para fazerem a travessia da troika que ele cumpriu com afã e desvelo. Agora estão aflitos para o chutar para canto. Seria fácil se a direita tivesse um nome credível e alternativo a Passos para liderança do PSD. Mas, até ver, só surgem fogos-fátuos e promessas sem garra.
Meu caro António Costa, pode dormir descansado. E a esquerda, BE e PCP, não abdicando dos seus valores e princípios, que não estiquem demasiado a corda, empurrando o PS para os braços da direita, com Passos ou sem Passos. A política é a arte do possível. E, quase sempre, o possível fica sempre aquém do desejável.

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Sem ironia, isto é chocante



por estatuadesal
(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 10/09/2017)
ISA_MOR
Não é verdade que em política se deseje a desgraça dos outros. A nossa democracia representativa precisa de partidos estruturados, espelhos reais da diversidade social, ativos nas propostas para o país. Não é bom para ninguém que a estabilidade governativa não encontre a alternativa de uma oposição atenta, com substância.
A universidade de Verão do PSD serve para falar de política. É para isso que iniciativas destas foram criadas. A universidade de Verão é um espaço de formação de quadros políticos, jovens que felizmente estão interessados em fazer política.
A universidade de Verão retratou um PSD vazio, mesquinho, ressabiado, populista e isto é chocante. O maior Partido da oposição ainda não fez as pazes com a circunstância de não ser Poder, o PSD ainda perde tempo a agitar fantasmas, a sua verborreia confirma a inexistência de alternativa à solução governativa atual e isto é chocante.
De bandeira na lapela, uma espécie de afirmação de inconformismo perante o normal funcionamento da democracia, os “sociais-democratas” são o palco de Cavaco Silva, o ex-presidente mais impopular da nossa história, desesperado com a popularidade do atual Presidente, desesperado por a democracia ter feito dele o PR que empossou o atual Governo, desesperado perante o fracasso de anos da sua vida dedicados à tentativa de destruição da esquerda e de favorecimento do seu Partido. Foi este Cavaco Silva que falou aos jovens quadros políticos de uma alegada revolução socialista em curso, de “pios” e da realidade imaginária do orador, a tal que trava as nossas ideologias perigosas.
De bandeira na lapela, os “sociais-democratas” são o palco de Paulo Rangel, o reacionário populista de serviço que não hesitou em afirmar que as políticas do atual governo já mataram De bandeira na lapela, os “sociais-democratas” são o palco de Poiares Maduro, o ex-governante que compara a credibilidade de Costa ao cabelo de Trump, todo um momento de elevação política aplaudido pelos jovens que querem ser os atores políticos de amanhã.
Nada disto é normal, tudo isto é chocante, não temos memória de um PSD entregue ao populismo primário e à desistência do seu papel histórico na governação de Portugal.
Passos enfurece-se com as críticas, acena a bandeira da liberdade de expressão (como se alguém tivesse silenciado os seus convidados), confirma o seu apoio ao candidato a Loures e mostra o saco vazio das suas propostas.
A verdade é que não há ideologia sem realidade, a verdade é que a realidade se mostra com factos, a verdade é que esses factos são a prova de que existia alternativa a Passos. O PSD sabe dos resultados da alegada “revolução socialista”, sabe do défice mais baixo da história, sabe do crescimento sem paralelo do investimento, sabe do aumento das exportações, sabe do estancar da perda de jovens para a emigração, sabe da diminuição dos níveis de desemprego e sabe do aumento dos níveis de criação de emprego, sabe dos níveis recuperados de confiança, sabe.
O PSD sabe e prefere recusar qualquer consenso, o PSD sabe e prefere o maldizer à apresentação de alternativas, o PSD sabe e escolhe falar em eleitoralismo em vez de dar voz a um eleitorado que existe.
Hoje, ninguém sabe de uma única proposta do PSD para o país. A universidade de Verão do PSD foi um espelho assustador do que é atualmente a alternativa destruída ao governo socialista.
Isto não é só mau. É mesmo chocante.
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sábado, 9 de setembro de 2017

As greves “más” e as greves “boas”



por estatuadesal
(Por Estátua de Sal, 09/09/2017)
A cavaca
O país anda confrontado com greves, as que se fazem ou já se fizeram, mais aquelas que estão anunciadas, e parece que há, para a comunicação social dominada pela direita, umas que são "boas" ou neutras e outras que são "más". Passo a explicar.
No caso da Auto Europa a greve era muito "má". Era o PCP, através da CGTP, que andaria a manipular os trabalhadores para ter ganhos de causa na discussão do orçamento (o espírito conspirador dos comentadores da direita chega a ser ridículo). E era uma greve "má" porque os alemães ainda fazem as malas e vão-se embora, as exportações caem, o PIB desmaia, o Estado fica sem dinheiro e lá vem a troika outra vez. Enfim, uma desgraça. Como se os trabalhadores fossem todos uma cambada de anormais que não conseguissem ver o que é melhor para eles, podendo votar livremente as deliberações colectivas, como o fizeram, e viesse o PCP obrigá-los a votar mal e, pior ainda, a votar contra os seus próprios interesses. E quando as greves são das "más", os comentadores de serviço começam sempre por dizer que "a greve é um direito legítimo dos trabalhadores e está inscrito na constituição", mas acrescentam logo que não pode ser usado de qualquer maneira, bla, bla, bla. Quer dizer, existe o direito à greve mas não se deve usar o direito à greve, porque é mau para o país e para os próprios trabalhadores exercerem esse direito. Ora, se o exercício de tal direito traz resultados perniciosos para todos, a que título é constitucional, pergunto eu? A resposta é simples, a direita aceita o direito à greve, em termos do texto constitucional, desde que tal direito não seja exercido nunca, na prática. Quando é exercido, no caso das greves "más", é um coro de assobios que se ouvem das bancadas dos opinantes comentadores. Isto no caso das greves "más", porque no caso das  "boas", é o malandro do empregador (leia-se o Estado) que se porta mal.
Uma greve "boa" é a greve dos enfermeiros que está anunciada. Curiosamente, neste caso, como a greve nada tem a ver com a CGTP, antes pelo contrário, ela já é "boa" ou neutra. E a comunicação social não diz que os enfermeiros estão a ser manipulados pela bastonária, Ana Rita Cavaco, dilecta prosélita de Passos Coelho e pertencente à Comissão Nacional do PSD, o que é estranho. E mesmo se estiverem a ser manipulados pela bastonária, com o objectivo de causar dificuldades ao governo na gestão do déficit e da dívida pública, e de criar ao mesmo tempo um clima de intranquilidade social no sector da saúde que ensombre os bons resultados que estão a acontecer na frente económica, tudo isso não é suficiente para que seja considerada uma greve "má". Se acrescentarmos a tudo isso que, contrariamente ao ocorrido na Auto Europa em que a greve foi causada pelo facto de o empregador se propor reduzir direitos dos trabalhadores, esta greve dos enfermeiros resultar de reivindicações irrealistas dos próprios enfermeiros que pretendem aumentos na casa dos 100% que qualquer mortal - a começar pelos próprios enfermeiros -, sabe que não podem ser atendidos, mesmo assim ainda não é tida como uma greve "má".
Ora, como diz o blog 77 Colinas onde obtive a ilustração deste texto, e passo a citar: "Ana Rita Cavaco, Bastonária da Ordem dos enfermeiros e dirigente do PSD, durante o reinado pafioso, não apareceu a contestar quando os enfermeiros tinham que emigrar para ganhar mais que os 3 ou 4 euros/hora que lhes eram oferecidos. Agora, como convém à sua cor política, aparece a reivindicar aumentos de 800 euros. Ao Cavaco, sucedeu uma Cavaca. "
Mas estas greves "boas" promovidas pelo Coelho e seus sequazes tem ainda um outro objectivo: tentar provar que a austeridade não acabou com o governo da Geringonça, contrariamente ao que António Costa afirma, pelo que a direita tenta passar a ideia que aquilo que a fez tombar - o excesso de austeridade -, não deve ser um critério para o eleitorado decidir as suas escolhas porque, no fim da linha, todos tem que fazer austeridade.
O que a direita ainda não interiorizou é que os portugueses já conseguem distinguir entre aqueles que praticam a austeridade com todo o gosto e um sorriso sádico nos lábios e aqueles que, praticando-a, o fazem contrariados e tentando reduzir ao mínimo a carga que cai sobre os que menos podem. E é esse pequeno detalhe que os irá afastar do poder, felizmente, por muitos anos.
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sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Um partido sitiado



por estatuadesal
(José Pacheco Pereira, in Sábado, 03/09/2017)
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1. Os militantes do PSD que genuinamente apoiam o partido e que dele não esperam nenhuma benesse, particularmente os que ainda conheceram o PSD pré-Passos, deveriam estar muito, muito preocupados. Não é que o partido não tenha um importante núcleo duro eleitoral, não seja um grande partido autárquico, não seja uma referência da democracia portuguesa, é tudo isso sem qualquer dúvida. Ainda se pode afirmar com grande certeza que o PSD pela sua própria existência molda a forma da democracia portuguesa, mas nenhum partido tem um contrato com a eternidade, nem negociou com o demónio nunca morrer ou ter o elixir da juventude.
2. Na verdade, o PSD está neste momento não só numa situação de irrelevância, como cercado politicamente, e, pior que tudo, dentro dele existe uma profunda apatia em relação ao destino partidário. Essa apatia é o caldo de cultura em que prolifera uma oligarquia partidária que enquanto tiver o mínimo dos seus lugares garantidos agarra-se a eles como uma lapa, mantendo qualquer debate como uma coisa pestífera, quase uma traição. Traição a quê? Aos dirigentes actuais, Passos Coelho e a sua entourage.
Ilustração Susana Villar
Ilustração de Susana Vilar
3. Qual é a política actual do PSD? Uma combinação fatal de dois elementos: uma nostalgia justificativa do passado nos anos do "ajustamento", e uma espera apocalíptica pela crise económica e financeira do governo PS-PCP-BE. No seu conjunto, esta é uma política "antipática" como Passos Coelho gosta de lembrar como se fosse uma medalha. Até podia ser "antipática" e ser justa e necessária, mas não é nem uma coisa nem outra. É uma política injusta socialmente, e que economicamente garante apenas uma medíocre estabilização do crescimento económico.
4. A nostalgia do passado é muito autojustificativa, centrada na altura em que a direcção de Passos se colou à troika primeiro com equívoco e depois com convicção. Hoje sabemos que muito do que foi atribuído à troika foi iniciativa do governo PSD -CDS. O PSD tornou-se um dos partidos de passado social-democrata e centrista que mais se deslocou à direita e, se isso consolidou um bloco político com o CDS de Portas, criou um animal híbrido em que umas patas andam para um lado e outras arrastam-se pelo chão.
5. Politicamente isolado, o PSD esbraceja oscilando entre uma política tribunícia, muito semelhante à que criticava no BE, e críticas ao Governo PS que são inaceitáveis vindas de quem governou com maioria absoluta durante uma longa legislatura. O caso mais exemplar é a questão dos fogos, em que um PS e um Governo fragilizados acabam por se sair melhor devido ao estilo agressivo e insensato das críticas de Passos e de algumas figuras menores do grupo parlamentar. A exploração da tragédia por táctica política, que é evidente para todos, tem aspectos de "trumpismo" à portuguesa que não dão um voto ao PSD, porque há gente muito melhor para ser o interlocutor populista dessa política, felizmente ainda só quase nos media e não na política institucional.
6. A apatia no interior do partido, em que muitos sabem que esta política é má, nada tem a ver com a herança social-democrata e gera inércia e fragmentação. As estruturas locais do partido, como se vê nas autárquicas, avançam com listas e candidatos quase em autogestão, e onde é a direcção do partido a interferir, como acontece nas grandes cidades e candidaturas urbanas como Loures, os resultados estão e vão estar à vista. As distritais gerem o seu poder de forma sindical, o mesmo acontecendo nas outras estruturas, mas sem qualquer lógica nacional ou partidária global.
7. Periodicamente, na comunicação social e numa ou noutra personagem partidária, há surtos de agitação, muito superficiais e pouco duradouros. Fala-se então de Rui Rio. Na verdade, quer a inércia de muitos, quer a barragem do bloco de poder à volta de Passos, quase todo por interesses de carreira, bloqueiam qualquer movimento de mudança, conduzindo à tese pouco sadia de que as coisas só mudam com uma derrota eleitoral flagrante. Tenho sempre dito e repito que nem isso é líquido, dado que o partido está ao mesmo tempo mais "capturado" por interesses e mais "morto" do que se pensa. Só havia uma alternativa: abrir as eleições a simpatizantes e eleitores sociais-democratas, como fez o PS, com um colégio eleitoral de dezenas de milhares que ultrapassam a capacidade do aparelho de controlar as eleições. É a única chance de Rio ou de qualquer outro que queira sair deste marasmo.
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Passos curtos e pavio longo



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 08/09/2017)
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No meio de notícias contraditórias sobre as negociações para o Orçamento de Estado de 2018, o primeiro-ministro reuniu com alguns parlamentares do seu partido e declarou que nessa lei que define o próximo ano se manteria um “progresso sustentável”, com uma gestão “prudente”, mas sem dar “passo maior do que a perna“. É vantajoso que, de vez em quando, seja deitado um balde de água fria nas especulações que correm. Mas não creio que o processo esteja a correr como devia.
Até agora, os negociadores já têm dois problemas em mãos. Primeiro, estão demasiado atrasados: o novo Secretário de Estado de Assuntos Fiscais só reuniu com as esquerdas em Setembro, falta um mês para o documento ser entregue na Assembleia. Todo o trabalho feito com o anterior titular da pasta parece ser ignorado. Ou seja, a negociação de impostos, como de pensões e carreiras, vai ser feita em poucas semanas.
Segundo problema, o governo já por várias vezes apresentou em público números errados, o que tem um efeito comunicacional prejudicial. A criação de um novo escalão entre o primeiro e o segundo não beneficia 3,6 milhões de pessoas, é melhor dividir por três e ainda tirar alguma coisa (entre 7 e 20 mil euros anuais estão 1,128 milhões de contribuintes). A alteração do mínimo de existência de 607 para 632 euros não beneficia 1,6 milhões de pessoas, como sugerido por fonte governamental, é melhor dividir várias vezes.
A consequência do atraso é a total sobreposição com a campanha eleitoral. Seria menos problemático não fora o tempo curto e a tentação de fazer o debate fora da mesa da conversa. Não é assim que se negoceia, e sobretudo o governo não deve fazer este jogo. É evidente que as esquerdas, que não têm poder de governo, só podem fazer pressão apresentando as suas agendas, mas têm-no feito com o cuidado necessário para reservar para a negociação o apuramento de compromissos. Da parte do governo tem inteiramente outro significado quando são apresentadas conclusões, que não correspondem a nenhuma negociação, pois, uma vez publicada a decisão do governo, mais difícil será que haja um compromisso distinto. O governo está a negociar anunciando a lei antes de a discutir com os parceiros (por exemplo, remeter o essencial do descongelamento das carreiras para o próximo governo). Está a reduzir o diálogo a factos consumados, apoiando-se para mais em jogos com números demasiado fáceis mas sem rigor. E está a abdicar de fazer um contrato legislativo sólido para o ano inteiro.
O tempo passa a ser um factor porque, na pressa, se torna mais difícil pensar, corrigir e propor. De facto, o governo parece convencido de que basta oferecer discricionariamente algum ganho de causa a propostas das esquerdas para arrumar o assunto. Favorece assim quem prefere este tipo de negociação, um pouco de braço de ferro de última hora e ficamos satisfeitos, vale mais a aparência do que o trabalho aturado para soluções esforçadas e imaginativas, que abram caminhos novos.
Ora, as escolhas em Portugal não se compadecem deste jogo. Mesmo presumindo que o pavio é longo e que a bonança europeia se prolongue por mais uns meses, que Trump não destrua algum pilar da economia mundial e que o castelo de cartas aguente, Portugal precisa de um governo com mais ambição nos serviços estratégicos, com mais capacidade de mobilização de recursos para consolidar a recuperação económica e, portanto, não pode adiar medidas essenciais.
Será esse passo muito ou pouco curto? Pois até agora os resultados falam por si. Os únicos festejos que houve nos últimos dois anos foi quando se saiu do mapa estabelecido pela austeridade. Mais valia continuar a fazer o que tem sido bem sucedido.
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terça-feira, 5 de setembro de 2017

Agradecimento ao Professor Cavaco Silva


por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 05/09/2017)
louca
Francisco Louçã
A intervenção de Cavaco Silva na universidade de verão dos jovens do PSD é um triplo erro para ele e uma tripla vantagem para a esquerda.
Em primeiro lugar, o contexto. O ex-presidente esteve quase sempre discreto durante o mandato do seu sucessor, ao longo de ano e meio. Apresentou um controverso livro de memórias, mas a reacção da opinião pública já o devia ter feito perceber que as suas quezílias com Sócrates não aquecem nem arrefecem o país. Assim, ao escolher fazer pela primeira vez um discurso político de fundo, poderia ter optado por um cenário nacional mais abrangente, que evocasse o seu tempo em Belém. Não, escolheu voltar ao partido para perorar perante uma centena de jovens laranja. Quis portanto fazer-se pequeno.


Os insondáveis mistérios da estabilidade fiscal


por estatuadesal

(Mariana Mortágua, in Jornal de Notícias, 05/09/2017)
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"O Governo devia privilegiar a estabilidade fiscal, o que significa não andar a mexer nos escalões". Estas declarações de Passos Coelho são uma boa oportunidade para tentar esclarecer alguns mistérios associados à dita estabilidade fiscal. Em primeiro lugar, o mistério da relatividade. Porque é que descer o IRS através do aumento de escalões é prejudicial à estabilidade fiscal, mas reduzir o IRC, como propõe o PSD, não é? Dirão que a descida já estava prevista na reforma do IRC começada pelo anterior Governo e que foi - e bem - interrompida. Mas, então, porque é que PSD e CDS se opõem ao aumento da derrama sobre as empresas com mais lucros, tal como também estava previsto como contrapartida da segunda redução da taxa de IRC, em 2015? "Estabilidade fiscal" é, conceptualmente, afinal, muito mais do que a sua mera interpretação literal possa sugerir.
Mas consideremos também o mistério da supremacia. Porque é que a estabilidade fiscal deve, por si só, ser privilegiada ou prevalecer sobre outros princípios? É preciso perguntar porque é que o princípio da estabilidade não vingou quando PSD e CDS fizeram aprovar as novas regras para taxação de patentes ou de mais -valias distribuídas pelos grupos económicos. Será que é porque ambas as medidas promovem o planeamento fiscal e, por isso, neste caso, a "competitividade fiscal" se sobrepõe à "estabilidade fiscal"?
Se há outros princípios, porque é que uns são aceites e outros não? Um dos mais dolorosos pontapés que o governo de PSD/CDS deu na dita "estabilidade fiscal" foi precisamente a alteração do número de escalões de IRS. A consequência foi o brutal aumento do imposto pago pelas famílias com menos rendimentos e pela classe média. Porque haveria um Governo de manter uma regra fiscal, sabendo que esta é injusta e que diminui o caráter progressivo (previsto constitucionalmente) do IRS? Porque é que a "competitividade fiscal"" vale mais que a "estabilidade fiscal", mas a "justiça fiscal" perde para ambas?
O aumento do número de escalões é essencial, não só para reduzir o imposto a pagar, mas para aumentar níveis de progressividade e justiça do IRS. Se fosse irrelevante, Vítor Gaspar não tinha passado de oito para cinco, chamando-lhe "enorme aumento de impostos".
Bem vistas as coisas, não são assim tão insondáveis os mistérios da estabilidade fiscal. Uma coisa é certa, o PSD terá de se esforçar mais para explicar a sua oposição à alteração dos escalões do IRS.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A censura e outros totalitarismos da Geringonça inquisitória

04/09/2017 por João Mendes
Vivem-se dias de terror nesta pátria totalitária à beira-mar plantada. O advento da Geringonça trouxe consigo muitas maleitas, que fariam a Santa Inquisição corar de vergonha, e já ninguém está seguro. A censura é apenas uma das muitas faces do terror da impune revolução socialista. Ou estás com os estalinistas, ou serás perseguido e ferozmente punido.
Enquanto escrevo estas linhas, a imprensa livre no exílio reporta a prisão de inúmeros jornalistas e cronistas portugueses, havendo relatos que nos chegam desde a reactivada prisão de Caxias, onde grandes heróis da democracia contemporânea como José Manuel Fernandes, Camilo Lourenço, Rui Ramos, José António Saraiva ou David Dinis são sujeitos às mais bárbaras práticas de tortura.
Nada escapa às garras afiadas da revolução socialista. O grupo Impresa foi tomado de assalto por milícias armadas pelo PCP, que forçaram Francisco Pinto Balsemão a vender todas as revistas e a despedir Henrique Raposo, João Vieira Pereira e o Comendador Marques de Correia, posteriormente detidos para interrogatório e confinados à solitária.
O Correio da Manhã, o Sol e o i foram ocupados pelas forças armadas e imediatamente nacionalizados, de onde conseguiram escapar André Ventura e António Ribeiro Ferreira, que lideram a resistência desde Santa Comba Dão, sob fogo cerrado da artilharia venezuelana.
Blogues como o Blasfémias, o Observador e O Insurgente, entre muitos outros, exclusivamente de direita, foram encerrados pelo KGB lusitano, estando os seus autores encarcerados nos Aljubes, aguardando transferência para Peniche. Igual destino tiveram os bravos por trás de páginas nas redes sociais como Direita Política ou PSD Europa, que viram os seus bens confiscados pelas perigosas irmãs Mortágua, imediatamente entregues à Coreia do Norte para financiamento da bomba H.
Eu próprio tenho já os comunistas à porta de casa, munidos de foices e martelos, a ameaçar a minha esposa e o meu gato. Ainda este texto não estava publicado e já eles me observavam pela webcam, que isto é pior que o 1984 do Orwell. Ninguém escapa à fúria totalitária da revolução socialista. A democracia acabou. Resta-nos a violência indiscriminada, o racionamento de bens de primeira necessidade e a opressão absoluta. Toda a esperança se foi. Que Deus tenha compaixão de nós e nos abençoe com um fim sem dor.

Fonte: Aventar

Cavaco Silva 0 – 1 Mário Centeno


por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 01/09/2017)
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"Com tal força contra a retórica dos que no Governo querem realizar a revolução socialista que acabam por perder o pio, ou fingem apenas que piam mas não têm qualquer credibilidade”, Cavaco Silva
A presença de Cavaco Silva em Castelo de Vide apenas pode ser entendida como um ato de desespero de Passos Coelho. Com as intenções de voto a aproximarem-se dos 20% até um depauperado Cavaco Silva poderá dar uma ajudinha a um líder partidário que nem com os incêndios e falsos suicidas conseguiu aquecer nas sondagens.
Foi mais um dos muitos erros estratégicos de Passos Coelho, a intervenção de Cavaco Silva em nada ajudou o PSD e apenas evidenciou a desorientação da atual liderança do PSD. Cavaco fugiu da economia como o diabo foge da cruz, isto é, fugiu do único tema em que os seus admiradores ainda confiam nele.
Cavaco poderia ter tentado dar coerência técnica à teses de Passos de que os bons resultados da economia se devem mais às suas políticas do que à Geringonça. Mas Cavaco receou falhar nessa tentativa e depois de tantos anos a invocar os seus conhecimentos e experiência evitou o discurso económico. Cometeu um grande erro e em vez de ajudar Passos enterrou-o mais um pouco.
Cavaco nunca foi um pensador político, foi um bom manipulador e gestor da imagem, soube usar a imprensa em seu favor e passou a imagem do homem que faz obra, quando, na verdade, dava mais atenção às sondagens do que aos projetos e foi assim que acumulou vitórias. Sempre que Cavaco fez intervenções de natureza política foi um desastre, e sem contar com os bons assessores que teve no passado teve de ser igual a si próprio.
O resultado foi um desastre, o discurso quase neo-salazarista de Cavaco em nada ajudou um Passos Coelho cada vez mais identificado com a extrema-direita chique. Ao fugir dos temas económicos Cavaco reconheceu o falhanço do governo que apadrinhou e admitiu de forma implícita que os bons resultados da economia se devem às mudanças na política económica.
O discurso de Cavaco mais não foi do que o atirar a toalha ao tapete, Cavaco teve receio de enfrentar Mário Centeno, um economista que está brilhando a um nível que Cavaco nunca brilhou. Cavaco usou o convite desesperado de Passos no seu próprio proveito e falhou, enterrou-se e enterrou Passos mais um bocadinho.

domingo, 3 de setembro de 2017

Piam ou não piam?


por estatuadesal

(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 01/09/2017)
nicolau

Cavaco Silva saiu da sua reforma política para enviar um conjunto de indiretas ao atual Governo e à maioria que o apoia, bem como ao seu sucessor em Belém. Como de costume, o ex-Presidente da República não nomeou ninguém, mas toda a gente percebeu a quem se referia. Deixando de lado os aspetos menos elevados da intervenção, vale a pena discutir o essencial, ou seja, aquilo que a direita há muito vem afirmando: que a austeridade não acabou e que, mais coisa menos coisa, António Costa está a fazer o que Passos Coelho fez e estaria a fazer.
Para chegar ao recado que queria passar, Cavaco Silva deambulou pelos “devaneios ideológicos” do ex-presidente francês, François Hollande, a “bazófia” do ministro grego das Finanças Yannis Varoufakis e a forma como o atual primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, “pôs a ideologia na gaveta e aceitou iniciar um terceiro resgate com uma austeridade mais dura do que aquilo que ele tinha recusado”. Concluiu, dizendo que “a realidade tira o tapete à ideologia” e que essa realidade (as regras da disciplina orçamental impostas pela União Europeia) tem uma “tal força, contra a retórica dos que, no Governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem que piam, mas são pios que não têm qualquer credibilidade e refletem meras jogadas partidárias”.
Bom, comecemos por sublinhar que a realidade é dinâmica e que quando Hollande, Tsipras e Varoufakis tentaram aplicar receitas diferentes das impostas pelo “diktat” de Berlim e do Eurogrupo os tempos eram bem diferentes: estava-se em plena crise das dívidas soberanas e praticamente não havia contestação científica à receita que estava a ser aplicada, apesar dos resultados provarem que se estava muito longe de chegar à terra de leite e mel prometida pelos seus arautos neoliberais.
Logo, o primeiro ponto a ter em conta é que o atual Governo e a maioria que o apoia chegaram ao poder num contexto diferente, a saber: o BCE, contra a opinião de Berlim, passou a comprar dívida pública dos países da zona euro; reputados Prémios Nobel de Economia, como Paul Krugman ou Joseph Stigliz, colocaram em causa do ponto de vista científico o processo de ajustamento que vinha a ser seguido; mesmo no plano das organizações internacionais, como o Fundo Monetário Internacional, se ouviram declarações (nomeadamente da diretora-geral, Christine Lagarde) ou foram conhecidos estudos (do departamento liderado por Vítor Gaspar, ex-ministro português das Finanças) reconhecendo erros graves e consequências negativas para as economias e os povos que foram sujeitos aos programas de ajustamento; e todos os governos que aplicaram a receita foram afastados do poder.
Ou seja, no final de 2015 vivia-se já o início de um novo clima político, económico e social na Europa. E foi essa janela de oportunidade que o atual Governo e a maioria que o apoia aproveitaram.
Diz Cavaco Silva que a realidade tem uma tal força que se impõe a todos os que querem fazer a revolução socialista. Bom, não me lembro de alguma vez António Costa ter dito que queria fazer a revolução socialista e confesso que tenho alguma dificuldade em ver num primeiro-ministro que por vezes usa sapatos com berloques um perigoso revolucionário. Mas tudo é possível, tudo é possível.
Em qualquer caso, lembro que a anterior maioria dizia que queria devolver ao longo de quatro anos pensões e reformas que tinham sido cortadas entre 2011-2015; foram devolvidas num ano. A anterior maioria queria acabar com a sobretaxa de IRS em quatro anos; também já foi eliminada. O défice que, segundo a direita ia disparar de acordo com a tradição socialista, passou de 3,2% em 2015 para 2% em 2016 (bem abaixo dos 2,5% acordados com Bruxelas) e vai a caminho dos 1,5% este ano. A economia, que tinha crescido 1,6% em 2015, caiu para 1,4% em 2016 mas vai este ano ficar pelo menos em 2,5%, o maior crescimento desde o início do século. O investimento, que a direita insistia que não voltaria com um governo socialista apoiado por bloquistas e comunistas, cresceu acima de 10% em termos homólogos no segundo trimestre deste ano, “o que acontece pela primeira vez em 19 anos”, segundo a insuspeita Católica – Lisbon Forecasting Lab. O desemprego, que iria aumentar com a subida do salário mínimo, não cessa de cair; de 12,6% está agora em 9,1%. Os índices de confiança dos consumidores e de clima económico estão nos valores mais elevados desde há 17 anos. E mesmo as agências de rating melhoraram o outlook da dívida pública portuguesa e provavelmente virão a tirá-la da classificação de “lixo” no próximo ano.
Convenhamos, portanto, que se as ideologias não resistem à realidade, os discursos demagógicos resistem bastante menos aos factos. E o que está escrito acima são factos, factos e mais factos revelados pelo Instituto Nacional de Estatística, pelo Banco de Portugal e por universidades.
Sim, nem tudo está bem e as preocupações são mais que muitas. A dívida pública continua a crescer em valor absoluto, apesar do Governo manter que ficará em 127,7% do PIB no final deste ano. O Orçamento do Estado para 2018, que está em fase de elaboração, parece contemplar um conjunto de encargos de despesa ou de cortes de receita que se podem vir a revelar contraproducentes a prazo para o objetivo de redução do défice nos próximos anos. No crescimento do investimento há um peso muito significativo na importação de veículos automóveis, o que não é seguramente bom. Também o regresso em força da construção, sendo bem vinda, precisa de ser temperado com a aposta em maquinarias e equipamentos para os setores industriais. As exportações podem sofrer com um eventual abrandamento da economia mundial devido à política económica errática e protecionista do presidente norte-americano. As taxas de juro na Europa vão inevitavelmente começar a subir, provavelmente em 2019. E um conflito nuclear na península da Coreia colocará o mundo em ebulição, com os preços do petróleo e das matérias-primas a disparar.
Mas isso é o futuro – e o mais difícil de prever é o futuro.
Até lá, o Governo e a maioria que o apoiam tem resultados para apresentar, a par das boas expectativas dos agentes económicos. E não, não foi a fazer a mesma política do anterior Governo: foi a alterá-la em múltiplos aspetos, por muito que a direita, interna e externa, Berlim e o Eurogrupo, o PSD e o CDS, para se consolar, digam que o que está a ser feito era o que estava na cartilha neoliberal do programa de ajustamento. Convenhamos que há quem pie pior do que aqueles que são acusados de não piar.

terça-feira, 22 de agosto de 2017

O gambozino da maioria absoluta



por estatuadesal
(Francisco Louçã, in Público, 22/08/2017)
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Este texto sugere-me alguns comentários caro Louçã:
1. A direita já viu que a Geringonça vai até ao fim da legislatura.
2. Tenta atrair o PS com "os cânticos da sereia" da maioria absoluta.
3. Prepara a saída de Passos Coelho para tornar acordos ao centro mais tentadores e menos indigestos para o PS.
4. Tenta convencer o PS que, mesmo sózinho, a maioria absoluta pode estar ao virar da esquina.
5. Tudo fábulas encantatórias. Em eleições gerais, em 2019, antevejo um reforço eleitoral dos partidos à esquerda do PS, se até lá não cometerem grandes asneiras, como, por exemplo, abrirem uma crise política.
6. E a razão é simples: todas as reversões na política de rendimentos que melhorou a vida das pessoas foram consequência das exigências ao PS feitas por esses partidos. Os eleitores viram que o seu voto quer no BE quer no PCP deixou de ser apenas um voto de protesto e que passou a ter influência na governação, logo nas suas vidas.
7. Logo, não há razão para que mudem o seu sentido de voto,, antes pelo contrário: muitos pragmáticos de centro-esquerda terão tendência a reforçar tal sentido de voto. Porque ele passou a ter relevância prática e para que o PS enterre de vez as suas tentações de construir alianças ao centro, tipo bloco central.
Estátua de Sal, 22/08/2017

Que há quem garanta que os gambozinos existem, é ponto assente; mas que nunca foi caçado tal bicho, parece mais do que certo. Descontando as inquietações popperianas sobre a dificuldade de refutar a primeira hipótese, resta o problema maior para os duvidantes: devemos caçar gambozinos na presunção de que existem ou de que não existem? A questão complica-se ainda mais para quem sustenta que a inexistência de provas documentadas sobre alguma aparição do animal sugere que se trate de uma ficção. Então, a questão passa a ser: devemos aceitar a ideia da caçada que tomamos por pueril ou devemos recusar o jogo, ainda que algum dia pudesse ser provado que a ausência do registo do bicho foi descuido nosso?


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Portugal em guerra


por estatuadesal

(Por Dieter Dillinger, in Facebook, 13/08/2017)
fogo

Portugal está em GUERRA declarada pelos Inimigos da Geringonça a começar pelo PSD/CDS, magistrados e muita gente.
Por ódio à democracia e desejo que o DIABO venha, muita gente está a atear milhares de fogos no País.
A PÁTRIA arde por causa do ódio político de quem NADA perdeu com este governo e até ganhou alguma coisa, apesar de não ser muito.
Mas, os juízes, as polícias, os jornaleiros dos pasquins e televisões e os militantes da oposição não suportam a ideia da Geringonça estar a reduzir o desemprego e a melhorar as contas públicas.

Nada pois como lançar FOGO à PÁTRIA para Gáudio de todos os FDPs.
Temos de os ODIAR, seja o Guerra do DCIAP, a Joana da PGR, o Passos do PSD ou a Cristas do CDS.
 

É por eles ou em nome deles e do seu ódio que a PÁTRIA arde.
Até os israelitas da Vinci declararam GUERRA a Portugal, sabotando o SIRESP. Eles podem matar porque sabem que não temos magistratura para os condenar, nem que seja a penas de prisão com pena suspensa quanto mais à morte nas fogueiras que atearam que é o que merecem.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

8,8%

por João Mendes


Foto: Lusa@Dinheiro Vivo
é o valor em que se fixou a taxa de desemprego no 2º trimestre de 2017. Falamos de um recuo na casa dos 19% face a período homólogo (10,8%), 13% quando comparado com o primeiro trimestre do ano (10,1%). A catástrofe é tal que, para atenuar a carga negativa desta posta, citarei esse jornal esquerdalho que é o Expresso:
Estes números significam que o crescimento do emprego líquido ultrapassou a redução do desemprego, indicando que se está a ir buscar pessoas à emigração (regresso de emigrantes portugueses ao país) ou à inatividade.
E pronto, agora é esperar pela chegada do Diabo, que segundo informações avançadas pelos papagaios do líder da oposição deve estar mesmo mesmo para chegar. E ter medo, que isto não vai lá com gente de tomates.

Fonte: Aventar





sexta-feira, 21 de julho de 2017

A comparação desleal entre Marcelo e governo


por estatuadesal
(Daniel Oliveira, in Expresso Diário, 20/07/2017)
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Como diria Herman José, as dinâmicas mediáticas são como os interruptores: umas vezes para cima outras vezes para baixo. E se há um mês e meio o Super Mário fazia as maravilhas dos jornalistas, que se ririam de quem não vaticinasse todos os sucessos para este governo, agora não há nada que não confirme a dinâmica do desastre. Até outra coisa voltar fazer mudar o tom. Sendo certo, isso nem António Costa ignora, que Pedrógão deixará marca permanente, mesmo que ela não seja eleitoral, é sempre bom relativizar este mundo muito próprio em que vivem jornalistas, comentadores e políticos. As sondagens conhecidas recordam isso mesmo.
A última novidade é o facto do Presidente da República ter respondido a uma carta de uma sobrevivente de Pedrógão, que justamente se queixava de várias falhas do Estado, e o governo não o ter feito. Na SIC, Clara de Sousa até perguntou a Pedro Marques se o executivo não se sentia “humilhado”. A partir disto construiu-se uma nova narrativa, diferente daquela que punha o Presidente a reboque do governo, sempre pronto para aparar os seus golpes: num mar de incompetência que assola, como nunca antes aconteceu, o Estado, há um Presidente absolutamente excecional. Uma ilha de competência e sensibilidade.

terça-feira, 18 de julho de 2017

É INTOLERÁVEL O QUE SE ESTÁ A PASSAR NA NOSSA COMUNICAÇÃO SOCIAL.

segunda-feira, 17 de julho de 2017


É INTOLERÁVEL O QUE SE ESTÁ A PASSAR NA NOSSA COMUNICAÇÃO SOCIAL.


Só comparável ao tempo do fascismo salazarista. As campanhas da direita têm como porta-vozes os jornalistas, estes, para ganhar a vidinha, obedecem cegamente à Redacção e esta é subserviente aos interesses dos patrões e accionistas. Nunca a manipulação foi tão descarada. Diga-se que o Ministério Público também contribui para este estado de coisas trazendo aos jornais o resultado de investigações com séculos de existência – deviam ter vergonha de andar a pisar ovos durante anos, mas não, tudo serve para descredibilizar o Governo da Geringonça e, em última análise, o Estado – que, nos querem fazer crer são um bando de ladrões e corruptos – é falso! O Estado somos todos nós. Mas se as televisões e rádios privadas têm a sua agenda própria – os bons “shares” a qualquer preço e rapidamente para dar lucros chorudos. O mesmo não se devia passar com a RTP e demais comunicação social paga com o dinheiro dos impostos dos contribuintes que somos nós todos. NÃO ACEITO SUBSIDIAR, SEJA DE QUE MODO FOR, AS CAMPANHAS DA DIREITA. Como se pode estar constantemente a ouvir uma mulher, não digo senhora, pois já vi mais compostura em vendedoras de lugares na praça, que neste momento representa 5% da população. O seu tempo de antena devia corresponder a esses 5% e não mais. Quanto a Passos e aos seus suicídios não faço comentários. A verdade é que há assuntos importantes a discutir e com estes jornalistas não é possível. Como foi possível que os cabos de fibra óptica da PT/ALTICE estivessem alcandorados em postes por cima dos eucaliptos de Pedrógão Grande e não nas condutas que existem para o efeito e se encontravam a meros meia dúzia de metros dos postes? Para poupar dinheiro?… com vidas humanas, viu-se. Isto explica os remoques de António Costa à dita empresa. E a demora das Misericórdias em fazerem chegar o dinheiro dos apoios às populações, não lhes foi entregue mais de um milhão euros? O Presidente da de Pedrógão é candidato do PSD e foi cúmplice na invenção dos suicídios. Temos que saber isto tudo direitinho e não me parece que com esta comunicação social consigamos chegar lá. É UM IMPERATIVO NACIONAL A DEMISSÃO DA DIRECÇÃO DE INFORMAÇÃO DA RTP E O SANEAMENTO DE MUITOS JORNALISTAS E PIVOTS QUE MAIS NÃO FAZEM QUE O TRABALHINHO DE MISTIFICAÇÃO E MENTIRA QUE A DIREITA QUER. Recordo-me do Verão quente e do ambiente de permanente boataria que então corria. Isso não pode acontecer na comunicação social que todos pagamos! Não quero que se nomeiem boys, nem apaniguados, quero gente decente e imparcial a informar-me objectivamente. É um direito que todos temos. Desafio todos a partilhar este “post” e a criar uma página no Facebook bem como uma Petição para ir ao Parlamento. Só peço que tanto a página como a Petição sejam feitas com imparcialidade e apartidarismo.
Mario Gomes.
Antonio Garrochinho à(s) 08:16:00

Fonte: Desenvolturaedesacatos

sábado, 15 de julho de 2017

Tremam de aborrecimento: vamos para a silly season em plena estagnação política



por estatuadesal
(José Pacheco Pereira, in Público, 15/07/2017)
Autor
                 Pacheco Pereira
Caro Pacheco Pereira,
Essa de dizeres que o "país está estagnado" é uma forma sibilina de dizer que só uma solução, "bloco central" pode ser fautora de mudanças de fundo. Na verdade, devias dizer que, no actual quadro económico-financeiro e tendo em conta a arquitectura jurídico-institucional do Euro e do quadro europeu, quaisquer mudanças de fundo tem que passar pela benção de Bruxelas e de Frankfurt. E por isso, qualquer governo, seja ele qual for, desde que não ponha em causa esse quadro, só pode "navegar à vista". Os portugueses já perceberam isso e preferem um governo que lute no quadro da nossa soberania limitada, do que um governo que se renda e seja conivente com os ocupantes. É por isso, sobretudo, que a Geringonça está e estará de pedra e cal, mais por isso do que pelo facto de os seus actores e encontrarem numa espécie de equilíbrio de Nash, que tu descreves, apesar de não nomeares o conceito.
Estátua de Sal, 15/07/2017)

Às vezes acontece que as coisas param, o que não é muito normal. Mas a verdade é que, no plano estritamente político, o país está parado, para não dizer estagnado. Esta linha flat não se estende para tudo, bem pelo contrário. No plano económico, social, cultural, e outros mesmos de intersecção entre a política e a sociedade, algumas coisas estão a mudar, mas a estagnação política reduz o ritmo de tudo. O que é que eu quero dizer quando afirmo que em matéria política tudo está parado? Que não estão em curso factores de mudança no plano político, nem no lado do Governo, nem da oposição, que permitam sair da estagnação. Podem acontecer amanhã — sei bem que a história faz-se por surpresas imprevisíveis —, mas não existem hoje.
Explico-me. Do lado do Governo, três partidos convergem numa solução política sui generis, mas muito estável. Há uma razão para essa estabilidade: o facto de esta aliança político-parlamentar-governativa ser vantajosa para todos os seus parceiros e nenhum achar que fora dela teria mais vantagens. Não há no PS, nem no BE, nem no PCP nenhum movimento interior que conteste a aliança actual. No PS, a oposição que veio do sector de António José Seguro está limitada a meia dúzia de vozes que se manifestam sempre que alguma coisa corre mal ao Governo e a António Costa, mas fala muito sozinha. Do lado do interior do PS está tudo morto, como, aliás, é normal que aconteça em partidos deste tipo quando estão no poder.