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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

“CHAPA GANHA, CHAPA GASTA”!

por estatuadesal

(Joaquim Vassalo Abreu, 20/11/2017)

chapa

É esta a frase a que a nossa Direita agora se agarra, como nova arma de arremesso, para atacar o Governo de maioria Parlamentar de Esquerda actual, insinuando e dizendo mesmo que, no intuito de querer satisfazer as reivindicações dos Professores, este vai gastar as folgas orçamentais que a economia lhe proporciona e, abrindo uma inevitável Caixa de Pandora, desperdiçar irresponsavelmente as mesmas…

Sendo claro que na matéria, como sempre, se mostram inocentes, convém lembrar que este conceito do “Chapa Ganha, Chapa Gasta”está há muitos anos entranhado nos sucessivos passados governos, tanto da Direita como do PS, bastando para isso analisar o que foram as suas execuções orçamentais.

Não só do governo central, como também de todas as instituições por si tuteladas, como os Institutos, Fundações, Comissões de Regulação e tantas outras, mais ainda a Presidência de República e a própria Assembleia de República, entidades cujos recursos provêm de um único Orçamento. E, assim, facilmente chegaremos à conclusão que a frase acima que serve de título a este texto se pode transformar em : “ Está orçamentado? Então é para gastar!”.

Começando pelo orçamento destinado à Presidência da República, esse órgão unipessoal que, pelos vistos, precisava no tempo do anterior (do Sr. Silva) de trinta e seis conselheiros, vejam só, para não falar nos costureiros, nos cabeleireiros, nas esteticistas, nas camareiras, nas cozinheiras e nas arrumadeiras da Maria, de um orçamento anual de 16 milhões de Euros! Alguma vez algo sobrou? É melhor ficarmo-nos por aqui…

Quanto ao actual não sei mesmo mas, se for de igual montante sem uma “Maria”, então ainda pior…

Seguindo com a Assembleia da República que, segundo soube, até tem um Conselho de Administração para a gestão dos não sei quantos milhões a si também destinados. Li que num ano, não posso precisar qual, mas suponho que a situação até seja recorrente, até apresentou prejuízo e terá pedido reforço de verbas! Alguém questionou? Alguém fiscalizou? Alguém denunciou? Orçamentado? Nem para orçamentado gasto deu, quanto mais para o resto…

Já os variadíssimos Institutos, ávidos em aproveitar todas as prerrogativas que têm, como viagens de intercâmbio, de investigação, de estudo e tudo o que de mais alegórico ou eufemístico possam inventar, vão gastando tudo o que lhes é orçamentado e vão sempre argumentando a escassez de meios. Que vão faltando recorrentemente os meios, como todos dizem…Qual a sua função final? O trabalho árduo que dá transformar a transferência que das Finanças recebem para processarem vencimentos e ajudas de custo…

Tal como no Exército, na Marinha e na Força Aérea! As tabelas, as escalas de serviço, os serviços, a gestão das messes e as remunerações, incluindo as horas extras (uma dureza de cálculo!) têm que caber no orçamento, pois se não cabem…pede-se reforço de verba. Argumentando o quê? Falta de meios…

Mas, para este Estado desta maneira funcionando, onde está instituído que tudo o que é orçamentado é para gastar, apresentando o mesmo anualmente um défice, maior ou menor, mas défice, tem que se endividar para o colmatar, não é? É!  É que isto a Escola não nos ensinou. Mas ensinou a Vida…

E agora os tais “Congelamentos”, de si mesmos transformados em “descongelamentos”, a Caixa de Pandora que o Governo aceitou abrir, segundo o Rio! Ou que prova o improviso com que este Governo governa, segundo a Cristas, ou aos repelões, ao facilitismo ou ao oportunismo, segundo o Passos.

Mas estes congelamentos foram feitos num anterior governo (há cerca de nove anos) e, no anterior as carreiras dos Professores ficaram congeladas e, ainda por cima, foi o anterior Governo de Direita que lhes retirou avultados rendimentos. E nem Nogueira nem os Professores vieram para as ruas, para espanto meu e de muitos mais…Ficaram congelados?

Mas, ficamos também a saber, foram igualmente congeladas as dos Polícias, as dos Soldados, as dos armados e não armados, dos à civil e dos fardados, dos GNR, dos Sargentos, Furriéis, Capitães, Majores, Tenentes, Coronéis, Almirantes, Brigadeiros, Generais e demais graduados (ouvi dizer que há mais graduados de alta patente do que veículos de guerra ou barcos), dos do SEF e dos do TEF, dos do FAF e dos do SIF, dos calceteiros, seus substitutos e outros argutos, dos chuveiros e das retretes, dos bombeiros,  das bombas e demais arsenais, dos vedores, dos contentores e dos jardineiros e outros obreiros, dos sinaleiros e de uns tantos jornaleiros! Todas, todas congeladas e há tanto tempo como as dos Professores…

Professores que, pelos vistos, já foram descongelados pois, depois de vários anos de congelamento até vieram para as ruas! Todas suas, mais do descongelado Nogueira, ele também que, durante o congelamento, transformou o bigode em barba! Mas não em “barbudo”, que esses são de outra estirpe!

E agora? Sim, e agora? Qual é então o verdadeiro problema? No meu modesto entender até são dois:

Um, decorrente do atrás referido acerca dos Professores e que resulta numa perplexidade: o porquê de antes nada terem reivindicado, na vigência de um governo de Direita que tanto lhes retirou, e o fazem agora, de um modo assaz radicalizado, num Governo de Esquerda, de precária sustentação, mas que tantos direitos lhes devolveu? Terá como explicação alguma coisa assim parecida com o “Síndrome de Estocolmo”?

O outro, a razão por que, não colocando nunca em dúvida a razão dos Professores e demais ramos da Função Pública na exigência do descongelamento das suas carreiras, aceita neste momento e sob o alto patrocínio da CGTP, do PCP e do BE, na discussão de um orçamento nitidamente progressista, fazer o jogo da Direita? De uma Direita que, apoiando-os por um lado, deseja que a manta do orçamento rompa de tanto esticada e assim culpe de irresponsabilidade e de tibieza este Governo mas, ao mesmo tempo, que o Governo ceda, dando-lhe assim razão…

Querem que o Governo se dissolva por falta de sustentabilidade política? Querem assim fragilizar o Governo para que este perca apoio popular e deste modo aspirarem a recuperar votação à custa do PS e não o contrário? Assim como se fossemos todos muito burrinhos? Não sei, mas fico perplexo.

No entanto, não posso deixar de que referir o que ontem ouvi de um dirigente da CGTP do Porto, afirmando uma coisa que é de uma justeza sem mácula e que requer atenção: “Se há milhões e milhões para as Rendas Garantidas e das PPP´s, como não haver para os descongelamentos?”

Eu responder-lhe ia que tem toda a razão, mas que devia então começar por aí. Porque não lutar por se resolver esse problema em primeiro lugar e acabar com essas rendas ou minimizá-las no mínimo? É que, tendo elas um peso apreciável na nossa despesa, exigindo ao mesmo tempo um reforço significativo e de imediato da despesa, através do descongelamento em tempo mínimo das carreiras dos Professores e não só, deixa de ser razoável a justificação pois vem duplicar a despesa e colocar sérios riscos orçamentais.

Espero bem que a CGTP, o BE e a CGTP estejam bem cientes do que estão a fazer e das estratégias que têm em curso porque, ou muito me engano, e gostaria muito de estar enganado, o que estão a fazer é abrirem um corredor engalanado à Direita!

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Que tal seguir exemplos espanhóis (nos fogos)?


Estátua de Sal

por estatuadesal

(Francisco Louçã, in Público, 20/10/2017)

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O Conselho de Ministros discute no sábado uma prometida reforma da protecção civil. É importante mas, se for só o caso, será pouco. O desleixo das queimadas, conjugada com a vaga de terrorismo incendiário na noite de 15 de outubro, agravada pela desorientação dos mandos da protecção civil perante crises extremas, indica que precisamos de mais do que respostas circunstanciais.

Ora, apesar de seguro da vitória confortável na moção de censura do CDS – que Costa só pode agradecer, veio quando que estava precisado desse reforço e ilumina a vertigem de abutre que precipitou Assunção Cristas –, o governo tem no entanto dois problemas maiores entre mãos. O primeiro é que não tem maioria, se porventura tem vontade, para uma reforma da floresta: a direita, eucaliptocrata, opõe-se a qualquer redução da pira incendiária, enquanto o PCP se opõe à intervenção do Estado nas propriedades sem dono. Ou seja, fica tudo na mesma. O segundo é que os mecanismos de ataque aos fogos são um emaranhado incompetente, agravado pelo apetite partidário (o que levou o PSD-CDS a assaltar antes os lugares de mando na protecção civil e o PS a fazer o mesmo este ano).

É possível contornar o impasse político na resposta estrutural de várias formas. Pode-se, e é desejável, estimular associações de micro-proprietários ou ampliar o número de unidades de gestão florestal que sejam eficientes, pode-se valorizar artificialmente a biomassa para incentivar a limpeza, devem-se registar as vendas de madeira ardida para identificar os negócios obscuros. Mas nada se resolverá enquanto as empresas eucalipteiras, que gerem 200 mil hectares, promoverem outros 700 mil hectares de plantações da espécie, usando os pequenos proprietários que caem no engodo da promessa fácil de venda garantida e que, muitos, deixam depois a floresta ao deus dará. O que faz arder Portugal são as matas de eucaliptos e pinheiros abandonados por quem não tem os meios, se tem a vontade de cuidar da floresta. Ou seja, esta economia promove o fogo e esta propriedade espera pelo fogo. Com 3% de floresta pública em Portugal e 59% na União Europeia, eles é que são mais liberais?

Mas é na resposta ao segundo problema que o governo se está a concentrar. Temo por isso que nada saia do Conselho de Ministros sobre a floresta, além da regulamentação da lei dos cadastros aprovada há dois meses. E também não é fácil alterar um modelo que envolve vários ministérios: a administração interna (na vigilância e combate ao fogo), a justiça (na repressão aos incendiários) e a agricultura (na prevenção).

Pode então vir a ser definida uma carreira profissional para a protecção civil, retirada das nomeações partidárias, e até criada uma secretaria de Estado da protecção civil. A questão é que faltam meios. O número total de bombeiros caiu um terço em dez anos. No fim de semana passado, quando havia fogos em Portugal e no país vizinho, estavam 5 mil bombeiros mobilizados no nosso país como na Galiza: aqui arderam 100 mil hectares e lá 4 mil. Os nossos eram maioritariamente voluntários; os deles eram profissionais e militares.

Portugal usa 20% do seu orçamento para os fogos (vinte vezes inferior ao de Espanha) para limpeza e prevenção e 80% para extinção dos incêndios. Espanha gasta dois terços em prevenção. Resultado: em Portugal temos metade da área ardida da União Europeia.

Sugeri por isso que a responsabilidade da prevenção e de apagar os fogos estivesse nas mesmas mãos de quem determina a política da floresta, de quem sabe do terreno e trata com quem vive da floresta. Na falta dessa decisão, já aplaudia se houvesse política florestal e bons meios de prevenção e de combate aos fogos. Mas não sei se aprendemos as lições espanholas.

terça-feira, 12 de julho de 2016

Sancionistas e Predadores




Hoje, 12 de Julho, o Conselho, do Ecofin decidiu aplicar sanções a Portugal e à Espanha por défice excessivo, seguindo as recomendações da Comissão Europeia.
No caso de Portugal e esse de que me interessa divagar, esteve sob intervenção da Troika desde 2011 e, as “receitas” aplicadas pra o equilíbrio das nossas contas não resultou, apesar do Governo PSD/CDS ter ido além da Troika. Os chamados “bons alunos” falharam e os seus “professores”, nomeadamente a senhora Lagarde, dizem que e aconselham a Comissão Europeia a ser dura com os países incumpridores.

Os portugueses conheceram a maior carga de impostos de que há memória, os reformados viram as suas parcas pensões reduzidas, os serviços de saúde foram reduzidos aos mínimos, o estado social foi arrastado para o seu desmantelamento, além de outros malefícios a que nos conduziu a Troika e o Governo PSD/CDS. É claro que é nesta fase que entram os predadores que se aproveitaram de tudo o que o Estado punha de lado, para devorarem tudo o que ficava à sua disposição. Exemplos disso não faltam, basta ver o que os hospitais privados ganharam por falta de assistência aos doentes nos hospitais públicos, o que ganharam os colégios privados à custa da diminuição do ensino público e assim por diante.



A cereja em cima do bolo seria a privatização da Caixa Geral de Depósitos, descapitalizando-a, para se proceder à sua privatização.

E o que ganharam os portugueses com as privatizações da REN, da EDP, dos CTT, da Galp e outras? Ganharam preços mais elevados na prestação ou fornecimento de serviços e viram os lucros irem parar aos bolsos dos predadores e os seus prejuízos distribuídos por todos nós.

Francamente, não é esta Europa com que sonhei. Esta Europa está a ser dominada por “sancionistas” e “predadores”, a começar pelo “império germânico”. Por este caminho, vamos avançar para a implosão da União Europeia, porque outros “exits” estão a caminho, a começar pela Holanda.

Vamos aguardar os acontecimentos, mas o futuro não se apresenta nada risonho.

Ovar, 12 de Julho de 2016

Álvaro Teixeira