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sábado, 23 de setembro de 2017

Ganhar parado



PSG
Pedro Santos Guerreiro
Os favoritos em Lisboa e Porto adoram arruadas ruidosas em que ficam calados. É a estratégia fácil para não cometer erros. Mas ficar quedo para não expirar na eleição é deixar de inspirar os eleitores
A melhor maneira de não fazer uma asneira é não fazer nada. O mundo dos políticos favoritos sabe-o e o submundo dos seus assessores recomenda-o: não mexer, falar pouco, sorrir muito, evitar perguntas, encurtar respostas, usar uma carteira com frases preparadas em vez de uma pasta de projetos, mostrar superioridade, representar confiança, porque o risco dos favoritos é deitar tudo a perder ao abrir a goela.
Os que os desafiam que estridulem, pulem, exagerem, que passem debaixo de pianos pendurados, corram sobre os fios das navalhas e percorram os limiares dos invernos prometendo primaveras.


As campanhas autárquicas em Lisboa e no Porto são um belo exemplo disso: está tudo ao rubro em torno dos pálidos Fernando Medina e Rui Moreira. Os casos são diferentes, os objetivos não. Ambas as campanhas estão carregadas de intenção, de excitação, de incitação, mas colidem no pouco substancial dos favoritos. Não é bonito nem feio, é só pouco entusiasmante, ainda que provavelmente eficaz. No discurso destes candidatos não há promissórias, há a sua própria imagem. Não há futuro, mas presunção de continuidade do passado. A naftalina contra a adrenalina. A paciência como caminho da presciência.
Em Lisboa, a dúvida é se Medina tem ou não maioria absoluta, mas o confronto dominante está na direita. A disputa entre Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho projeta-se como a afirmação da líder do CDS e o declínio do líder do PSD, o que dispersa a sua batalha eleitoral da carga sobre Medina, candidato virgem em eleições, que tem à sua esquerda entre 15 e 20% disputados pelos candidatos do PCP e do BE.
No Porto, a última semana de campanha vai ser uma fartura, depois de uma inesperada sondagem ter dado ontem empate técnico entre Moreira e Pizarro. O candidato do PS passou de não ter nada preparado em maio para uma campanha bem preparada em setembro, enquanto Moreira preferiu aparecer sem estar e parecer sem ser: a estratégia do quedo é tão pouco entusiasmante que o próprio se enfada nos debates.
Na sexta, o Expresso estará nas bancas com as últimas sondagens de Lisboa e Porto e dois dias depois o país vai a votos. Nessa noite, as análises passarão a medir os erros e os acertos pelos resultados: quem ganhar terá feito boa campanha, quem perder será sovado pelos erros que hoje nem destrinçamos. Mas já é uma pena que os favoritos proponham vencer os outros vencidos de si próprios, falando dizendo pouco e agitando bandeiras com os braços sem abrir as mãos para mobilizar futuro algum. Uma cidade não é só gestão de trânsito e preços de imobiliário, uma cidade é vida se estiver viva. Não fazer nada pode ser uma grande asneira.

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