(Por Valupi, in Blog Aspirina B, 15/09/2017)
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Igual a Trump quando carimba a imprensa livre como geradora de “notícias falsas”, ele que será provavelmente o político no Mundo que mais mente, Passos passou a incluir no seu reportório de líder da oposição a retórica do ataque aos “populistas” e “demagogos” quando se dirige à maioria legítima no Parlamento, ele que seria o principal protagonista de uma qualquer história do populismo e da demagogia em Portugal nos últimos 10 anos.
Em 2010, andou a pedir prisão para políticos que se tinham limitado a cumprir o seu programa e ideário. Em 2011, jurava de manhã em Lisboa que não haveria cortes em salários e pensões nem despedimentos, para no mesmo dia à tarde em Berlim jurar que faria tudo o que fosse preciso fazer aos portugueses se ficasse a governar sujeito a um resgate de emergência draconiano – o tal que tornou num desastre inevitável com a aliança negativa do PCP e BE. Após tomar o poder, continuou a mentir. Negociava ainda mais empobrecimento com a Troika, garantindo-lhes que seriam medidas estruturantes, e depois vinha dizer publicamente que eram medidas provisórias, que tinha de ser por causa do “buraco colossal”, que no próximo ano é que era, vinha aí a retoma e a glória.
À sua volta, no período em que afundaram Portugal e foram para eleições, a demagogia foi desvairada e ubíqua. Relvas garantia que o PSD tinha estudado todos os dossiers, feito todas as contas, e que não seria preciso subir impostos. Moedas anunciava que as agências de notação financeira subiriam o “rating” em seis meses assim que lhes chegasse a notícia de Passos estar a mandar nisto. O “corte nas gorduras do Estado” era uma promessa esfuziante de riqueza para todos ao virar da esquina, bastando desmantelar o Estado que só servia para encher o bolso dos socialistas corruptos e para dar dinheiro aos madraços que se rebolavam na sua zona de conforto sem quererem pegar na enxada ou darem o salto para a estranja.
Cavaco apelava ao derrube do Governo socialista pela rua e declarava que não queria mais “sacrifícios”, ao mesmo tempo que tudo fazia para que o País fosse obrigado a seguir um plano do FMI criado por fanáticos do castigo moral sobre a população da estirpe de António Borges. O resultado foi uma devastação económica e social que apenas serviu para colocar uma direita traidora e decadente no poder.
Há quem relacione a abertura do PCP para finalmente viabilizar uma governação do PS ao sentimento de culpa dos comunistas pelo que permitiram acontecer a milhões de pessoas por causa do chumbo do PEC 4; tese que merecia investigação ou que ficará como abandonada sugestão romântica para os apaixonados pela política e pela extraordinária complexidade sociológica da democracia.
Nesta citação, retirada de uma entrevista de Passos na CMTV, lemos a cifra da estratégia secreta seguida pelo Ventura: “Não podemos ter medo”. Também em Loures há cartazes onde o Ventura aparece com uma legenda onde declara não ter medo. Já em entrevistas, diz que tem medo. Das duas formas, e elas completam-se sem contradição, o terreno que explora é o do medo por ser aquele que está na origem das patologias do racismo, da xenofobia e de qualquer forma de estigmatização que se queira promover. Estamos face a mecanismos psicológicos, mesmo antropológicos, universais. É difícil, para qualquer um de nós, resistir aos apelos do medo pois o nosso instinto de sobrevivência fica estimulado num ambiente onde haja informações alarmantes a circular. O processo comunicacional é simples de explicar: ao declarar que não tem medo, a sua mensagem igualmente estabelece que há razões para ter medo – assim despertando uma reacção de validação do próprio medo que cada um calhe sentir, ou despertando a dúvida naqueles que até então não se tivessem definido em relação a qualquer experiência subjectiva de medo. Medo do quê? Tanto faz, é escolher. Ciganos, pretos, muçulmanos, paquistaneses, paneleiros, romenos, pobres, desempregados, bêbados, gajos com turbantes, velhos, novos, pessoas esquisitas, estranhos, os outros. Quão mais isolados, mais fechados, mais fragilizados, mais estupidificados, mais medo teremos.
Trump apostou tudo nessa dinâmica, o tendem Ventura-Passos limita-se a repetir a fórmula, agora com o líder partidário que pela primeira vez na História de Portugal utilizou pseudo-suicídios como matéria para ataques políticos de braço dado com o candidato autárquico que promete um exército na rua e o regresso ao cordame para tratar da malandragem nas árvores do concelho.
Passos não se cola ao Ventura por acaso. O único acaso nesta original situação, contemplando o que tem sido a axiologia do nosso sistema partidário, diz respeito ao PSD. O acaso de estarem entregues a uma desgraça ambulante que não se importa de conspurcar a memória e missão do partido.
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