QUE “FALTA DE POUCA VERGONHA!”
por estatuadesal(Joaquim Vassalo Abreu, 15/11/2017)
A gente, nas aldeias e meios mais populares, onde a exigência linguística não é bem de primeira necessidade, ouve frequentemente esta frase, em que o “pouca”, é bom de ver, está a mais. Mas é assim que se usa dizer, do mesmo modo que se costuma também dizer “eu não me acredito”, estando, também aqui, o “me” a mais. E até poderia dar mais exemplos…
Mas, apesar de tudo e disso sabendo, percebemos o sentido e o regionalismo. O que é mais difícil de entender é dizer-se de alguém que “ tem pouca vergonha” , logo a seguir, que “tenha vergonha” e, ainda, que “tem vergonha”!. Não é, portanto, de difícil conclusão que quem assim o diz tem é “falta de vergonha”! Mas aqui de “muita vergonha”!
É que, agora afundando-me na política caseira, ouço constantemente o imberbe Huguinho dizer, por tudo e por nada, que “Costa tem falta de vergonha”! Dou como exemplo o congelamento, ou antes, o descongelamento das carreiras dos Professores, pois congeladas já elas estavam e há muito.
E diz ele que é “recorrente a falta de vergonha do Primeiro Ministro”. Mas, logo a seguir, ele afirma que Costa “tem vergonha”! E de quê? De ter estado vários anos nos Governos do PS e do Sócrates em particular! E diz mais ainda: que ele (o Costa, bem entendido) “deve ter vergonha de constantemente não assumir as suas responsabilidades”.
Mas responsabilidades de quê? De ter sido Ministro no governo de Sócrates! Vejam lá o que o cérebrozinho do Huguinho consegue concluir. Assim sendo ele, que não foi Ministro do Passos Coelho, disso se safou e, por isso, assim conclui. E os colegas, ó moço? Enfim, gente iluminada!
Portanto o Costa, para o Huguinho, coitadinho, tem ao mesmo tempo “falta de vergonha” e “vergonha”! Decide-te, ó Huguinho, coitadinho, é o mais que eu posso dizer já com uma indigestão de tanta “sem vergonhice”.
Mas o Huguinho, coitadinho, para além de um grande pândego, de um ofensivo malcriado e de um político de pacotilha e feito à pressa, é um perito em silogismos.
Notem este raciocínio do Huguinho, coitadinho, por exemplo: Premissa primeira: quem congelou as carreiras foi o Sócrates; Premissa segunda: o governo que nos levou à pré-bancarrota, que foi salva ( a rota, porque a outra não salvou) pelo governo da PAF; Premissa terceira: eles, a Paf, coitados, embora o quisessem não o puderam fazer, mais uma vez coitados, pelo que quem as deve descongelar, agora que já se pode, é o seu herdeiro Costa! Estão a ver a clarividência?
Lavoisier, Pascal, Aristóteles, Arquimedes, Pitágoras e mesmo o próprio Sócrates, devem dar pulos nas tumbas com tamanha argúcia interpretativa das suas teorias…mas eu, mais comedido, fico-me muito simples e prosaicamente pelo mero silogismo!
Mas mais ainda: como acrescento à sua silogística argumentação, perante o crescimento económico que se tem vindo a verificar, que eles também queriam mas, coitados outra vez, não puderam, e as consequentes folgas orçamentais, o Huguinho, o seu PPD ou PSD e todos aqueles pontas de lança que pululam pelos Expressos e demais Comunicação Social e ainda mais a Teodora, que vêm dizendo? Que existem latentes perigos e que é preciso fazer como a formiga: amealhar e poupar para quando vierem tempos mais difíceis…
É bonito sim senhor mas, mais uma vez, daqui deriva como conclusão mais um silogismo : pois se o Governo, gastando ( só, segundo o Expresso, ao PCP e ao BE foram entregues 1,2 mil milhões de aéreos), é irresponsável e o Costa um marginal mesmo (pouca vergonha de quem tem vergonha), também o será se não proceder ao descongelamento de todas as carreiras…custe o que custar. Porquê? Porque o Huguinho assim quer e lhe mandaram dizer…Para quê? Para minar o Governo, claro, e para isso nada melhor que inundá-lo de silogismos à Huguinho…
De modo que, para finalizar, direi como o nosso Povo: Que “falta de pouca vergonha”, ó Huguinho!
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