A notícia de que o governo pagou a figurantes para irem ao conselho de ministros fazer perguntas combinadas que façam o governo parecer bem não deveria surpreender ninguém. Em primeiro lugar porque, de graça, não se arranja ninguém para fazer o governo parecer bem; em segundo lugar porque nesta fase precoce da evolução social do Homem (e da Mulher, e do Coisa, não esganicem) ainda é preciso convencer a ralé a enaltecer o querido líder; um dia, noutra fase mais evoluída, bastará um fuzil apontado à testa do inquestionável devoto de forma a obter milhares de apoiantes.
A imagem não está esbatida, é só um filtro moderno do Instagram®
Os membros do focus group recebem 200 euros por dizerem ao querido líder que ele está no bom caminho, nomeadamente no bom caminho para que cada um receba mais 200 eurinhos. Por 300 euros até lhe levaria uma sopinha caseira e, em dias de festa, como no dia de ocultação de cadáveres, uma sandocha de mortadela. Porém, a precariedade do focus group perturba-me: não têm progressões na carreira, não recebem nem duodécimos nem subsídio de Natal e de Férias, não têm acesso a faltas justificadas e podem inclusivamente perder o emprego tão necessário ao país se faltarem para casar com pessoa do mesmo sexo ou por maternidade de substituição. Isto parece-se imenso com a exploração do Homem pelo Homem (e da Mulher pela Mulher, e do Coisa pelo Coisa, não esganicem). Assim, agradeço à Ana Avoila que trate imediatamente da exigência de integração destes funcionários no rol dos beneficiários directos do orçamento de estado.
Admito que estou ansioso por ver as perguntas que os precários vão fazer ao querido líder. Eu perguntaria se a história da Bela Adormecida é uma alegoria do Partido Comunista Português.
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