Translate

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

a queda da cinderela

por rui a.

img_828x523$2017_12_11_17_06_56_97810

Uma jovem suburbana de Loures, de origens alentejanas, detectou um problema social grave e procurou contribuir para a sua solução: a inexistência de instituições escolares que apoiassem e, na medida do possível, instruíssem crianças e jovens com doenças profundas raras.

Aprendeu, infelizmente, à sua conta, porque teve um filho com uma doença terrível, com a qual faleceria aos 16 anos de idade. Incentivada por essa fatídica e infeliz circunstância, a jovem suburbana, que entretanto fizera pela vida como manequim e dona de um pequeno quiosque, criou uma instituição que procuraria responder a essa necessidade, que é, infelizmente, sentida por tantas famílias portuguesas.

O sucesso começou a fazer-se imediatamente sentir, porque, como é próprio de qualquer empresa que se torna necessária, aquilo que a jovem suburbana fizera respondia a necessidades reais do mercado e, por isso, não poderia deixar de ser procurada e os seus serviços estimados. Em razão do que, o estado, sem capacidade e/ou sem vontade de fazer o que a jovem já estava a fazer bem feito, muito sensatamente, em vez de procurar repetir e imitar a fórmula que a jovem suburbana descobrira, resolveu apoiá-la com transferências de dinheiro e louvores públicos.

Dinheiro que, à medida que crescia a casa crescia também em donativos públicos e privados. A jovem suburbana viu-se, subitamente, uma pessoa importante. Os políticos, os «pais da pátria» e as «madrinhas de Portugal» procuravam-na e queriam associar-se ao empreendimento. Alguns sugeriam-lhe que poderia obter muito mais do que aquilo que já conseguira. Outros, ofereciam-se para lhe angariar subsídios chorudos. Então, a nossa jovem suburbana, entretanto arvorada em senhora doutora e em figura semi-pública, percebeu que o seu empreendimento poderia ser um enorme caso de sucesso. E um fantástico negócio, também.

Para reforçar o projecto, tendo percebido muito bem como funcionam as coisas em Portugal, começou a contratar políticos estrategicamente colocados. Alguns anos na cidade fizeram com que ela entendesse que, em Portugal, «quem tem amigos não morre na prisão». Ou, nas suas próprias palavras, se contratarmos o senhor X, que nos vai sair caro, «o guito há-de aparecer»

Aparecendo o «guito», sempre aparece quem o saiba gastar. Onde andava um político passaram a estar vários. Onde se pagava uma sinecura, outras se lhe seguiram. Não por acaso, todas estas instituições têm a abrilhantá-las inúmeros servidores do povo. A instituição da nossa jovem, que era e já não é suburbana, não foi excepção.

Entretanto, tamanho sucesso alcançado, com tantas relações com gente importante e tantas distinções e deferências atribuídas, fez mal ao espírito da nossa jovem. Dizem que o brilho da luz cega e que a chama queima. Na nossa presidente logo surgiram os tiques de prepotência, de arrogância, de insolência e até de malvadez para com os mais fracos, que mais não significavam do que um carácter deficientemente educado e gravemente pervertido por um novo-riquismo para quem não estava preparado.

Sabendo como o sucesso inebria a alma e os corpos, a senhora presidente entregou-se à volúpia do poder e começou a fazer enormes asneiras: gastou o que não devia ter gasto, com quem não o merecia e que até a renegou, depois de uma linda de história de amor vivida em alcovas secretas de Copacabana.

A coisa estoirou, caiu na comunicação social, e a senhora presidente, qual Cinderela à saída do baile da meia-noite, viu-se desnudada de todas as honrarias e glórias conseguidas pelo seu mérito, e, com a polícia à porta, regressou aos subúrbios donde viera. Aqueles de quem se julgara íntima, a começar pelo seu devaneio carioca, renegaram-na e certamente dirão que nunca a conheceram, a não ser que lhes esfreguem nas faces comprometedoras fotografias. Os outros que se acolitam noutras coisas parecidas ou iguais, recebendo delas sinecuras variadas, farão deste um «caso exemplar», para que os seus passem despercebidos.

Moral da história: se tiveres um bom negócio não o estragues.

Assinatura de Posts

Sem comentários:

Enviar um comentário