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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

BLASFÉMIAS

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97316

por Sérgio Barreto Costa

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- Camaradas, parece que uma jornalista resolveu fazer o seu trabalho sem nos pedir autorização primeiro e agora, por causa dessa inadmissível e incompreensível atitude, temos o país a transpirar indignação. Convoquei esta reunião para prepararmos o controlo de danos do caso Raríssimas, uma vez que, por maldade e aproveitamento político, já estão a associar ao escândalo nomes que nos são próximos. Enfim, a vergonha do costume.

- Camarada n.º 4, não podemos dizer que esses nomes que nos são próximos e que estão a ser associados ao escândalo não estão relacionados com o escândalo?

- Podemos, claro. E vamos dizer, camarada n.º 12, só que não vai resultar muito bem uma vez que esses nomes que nos são próximos e que estão a ser associados ao escândalo estão relacionados com o escândalo.

- Ah, bom, assim é mais difícil. Mas não é impossível, já fomos bem-sucedidos em acrobacias mais complicadas, não custa tentar.

- Calma, camaradas, estou a ter uma ideia espectacular e completamente original: atirar as culpas para o governo do Passos Coelho.

- Parece interessante. Pode aprofundar, camarada n.º 7?

- Há uma lei de 2014 que isentou as IPSS da obrigatoriedade de terem um Revisor Oficial de Contas. Assunto arrumado.

- Podemos anexar a esse argumento as suas propostas, como deputado da actual maioria, para alterar essa lei?

- Isso já vai ser mais difícil, esta maioria só tem 2 anos e ainda não tive agenda disponível para tais iniciativas. Ou bem que tento inventar maneiras de desviar as responsabilidades pelo que corre mal para a legislação aprovada pela direita, ou bem que tento alterar a legislação aprovada pela direita. Sabe como é, o meu tempo não estica.

- Verdade, ao contrário da lata. Camarada n.º 11, o que lhe parece?

- Eu acho que devíamos descredibilizar a reportagem e a jornalista. Ela chama-se Ana Leal, um nome que parece saído dos programas de Domingo à tarde da TVI. É só fazer uma montagem de uma fotografia dela com um acordeão e está feito. Ainda para mais disse que o vestido que a Presidente comprou era alta-costura e na verdade era pronto-a-vestir, nota-se logo que não percebe nada de jornalismo de investigação.

- Há uma jornalista de investigação no DN que se especializou em investigar as investigações dos outros jornalistas de investigação. Vou estar atento ao que ela escreve.

- E se metêssemos o Cavaco na confusão? Ouvi dizer que a mulher dele foi madrinha da Raríssimas durante muito tempo.

- Boa, camarada n.º 9, boa! Eu já vi o filme O Padrinho há muitos anos mas lembro-me perfeitamente que aquilo era tudo uma cambada de bandidos. Se usarmos esse argumento estamos também a defender que uma madrinha consegue ser tão mafiosa como um padrinho, vamos ficar bem-vistos juntos das feministas.

- É uma boa táctica, sem dúvida, mas devíamos aproveitar este caso para um pouco de guerrilha ideológica. Isto passou-se numa IPSS, o que reforça a nossa posição de que o Estado, através do recurso aos impostos, é a melhor entidade para tratar de todos os assuntos em geral. E em particular também.

- Mas os fundos que essa Associação geria não eram concedidos pelo Estado e provenientes dos impostos?

- Que gaita, camarada n.º 10, você está sempre a fazer de advogado do diabo! Eram concedidos pelo Estado mas o anterior governo, ao contrário do nosso, não apostava na inspecção destas instituições.

- Ok, ok, já entendi, peço perdão pela minha postura, camarada n.º 6. E podemos acrescentar que a nossa aposta na inspecção é tão grande que até diminuímos o horário de trabalho dos inspectores para 35 horas semanais, fazendo com que inspeccionem de uma forma mais concentrada. Tipo o Fairy a lavar a louça.

- Isso, camarada n.º 10, essa é que é a atitude correcta. Três vivas a Villarriba!

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