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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Devolução de Natal

por Telmo Azevedo Fernandes

Imbuídos do espírito natalício muitos difundem durante o Advento patetices impróprias para quem quer manter alguma sanidade mental.

Ouvem-se glórias e louvores à “responsabilidade social” de empresários e gente rica que nesta época decidem “devolver à sociedade parte do que esta lhes proporcionou”.

A expressão entre aspas anterior é a fórmula comummente usada por essa gente. O sublinhado enfatiza a ideia central que se pretende transmitir.

Confesso: não tenho pachorra para tamanho dislate!

“Devolver” pressupõe restituir a dono legítimo. Mas alguém roubou ou tirou algo de casa alheia?

Quem acha que houve apropriação indevida, apenas exige a devolução de parte do produto desviado?

Não havia necessidade de insulto nem de desonestidade intelectual…

Por regra, aqueles que têm elevados rendimentos foram capazes de produzir bens ou serviços dos quais a maioria de nós beneficia. De tal modo que estamos dispostos a dar dinheiro por eles.

Em sociedade as trocas são mutuamente benéficas. Facilitam a vida quotidiana, proporcionam-nos divertimento, dão-nos conforto e aumentam a nossa longevidade. Basta pensarmos em tudo aquilo que num só dia utilizamos e consumimos para perceber que é cada um de nós que, voluntariamente, torna ricos os ricos.

A superioridade moral do sistema capitalista advém desde logo de o mercado permitir que se acumule riqueza apenas servindo os interesses e necessidades dos outros. O bem-estar de uns não se faz à custa da miséria de terceiros. Não é um jogo de soma nula.

Uma economia liberal é justa porque defende o direito natural à propriedade daquilo que se cria e ganha em resultado do trabalho e criatividade dos indivíduos.

A retórica marxista da luta de classes e de que a desigualdade de rendimentos existe porque uns tiram a outros não só é factualmente falsa, como também revela um dos mais desprezíveis sentimentos humanos: a inveja.

Este desconforto com o sucesso alheio e o quase ódio aos ricos, aliados à soberba dos que se acham os únicos conscientes e preocupados com o bem-estar dos seus próximos, leva à tentativa de imposição daquilo que consideram ser os comportamentos correctos em comunidade, lá está: de “responsabilidade social”.

Nasce também daqui a ideia da progressividade dos impostos. Quem mais tem deve ser taxado, em termos relativos, de forma mais pesada do que os menos abastados. Mas se a ideia é moralizar o mercado e a sociedade capitalista, o resultado desta política é precisamente o inverso. Um comportamento forçado através da coacção tributária não torna nobre, nem moral nem benevolente a atitude das pessoas. Só a um acto individual, voluntário, emanado da consciência de cada um se pode atribuir valor moral.

A lengalenga da progressividade fiscal apenas serve o propósito da defesa dos interesses de quem não produz riqueza e do disfarce do roubo.

O discurso ardiloso do “devolver à sociedade” acaba por retirar valor a quem pratica a verdadeira Caridade, essa sim virtuosa e digna de elogio, a que a celebração da humanidade do Natal nos convoca.

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