por estatuadesal
(In Blog O Jumento, 11/12/2017)
Com ao rasto de miséria deixado pela combinação entre as medidas do memorando com a Troika e a agenda económica de extrema-direita de Passos Coelho a economia social floresceu e a caridade foi institucionalizadas. Aliás, só por acidente um dos senhores desse mundo da caridade e da economia social não foi mais longe: Fernando Nobre foi candidato presidencial e só não chegou a presidente da Assembleia da República devido a divergências dentro do PSD. Para a história ficam as denuncias da forte presença familiar de Fernando Nobre na AMI, uma empresa no negócio da ajuda.
Em Portugal há a falsa ideia de que esses verdadeiros senhores da guerra que gerem as muitas instituições da economia social são gente com lugar reservado no céu, concidadãos que dão o melhor de si para servir os outros e que graças à sua dedicação as instituições conseguem os donativos que lhes permite estar onde falta o Estado. Nada mais fácil, a generalidade da imensidão de instituições do negócio, desde as santas e santíssimas Casas às corporações de bombeiros vivem ou de subsídios estatais ou de mecenatos alimentados por benefícios fiscais, que na prática são uma receita fiscal negativa, o equivalente a uma despesa.
Ainda há poucos dias falou-se muito das refeições dos bombeiros e foi o que se viu, com o senhor da Liga a fazer ameaças e com comandantes de bombeiros a justificarem-se com argumentos como o de gente a mais para comida a menos. Talvez isso tenha sido verdade na hora de cortar os papos-secos para fazerem sandes de ar, mas não o foi certamente na hora de pedirem ao Estado mais de vinte euros por cada papo-seco.
Esta ideia de que a economia social é fundamental para a sobrevivência dos pobres conduz à total impunidade dos muitos senhores deste grande negócio, nenhuma polícia se lembra de investigar um senhor da economia social e o ministro que decida aumentar as auditorias será corrido enquanto o diabo esfrega o olho. Neste imenso mundo de dinheiro fácil do Estado não há regras nem controlo e está apodrecido por uma imensidão de esquemas de compadrio.
O mais grave é que a ligação desta economia social à política é cada vez maior e não faltam deputados, autarcas e governantes que devem o cargo aos favores eleitorais do submundo da economia social. Uma boa parte das campanhas eleitorais consiste em visitas organizadas a velhinhos e o patrocínio destas organizações elege cada vez mais políticos. Aliás, estas organizações multiplicam-se como cogumelos, chamando a si a gestão de cada vez maiores volumes de dinheiros públicos, não sendo de admirar o envolvimento de personalidades políticas na sua criação e gestão.
Um bom exemplo desta relação entre poder e economia social foi dada por Passos Coelho, cortou nos apoios do Estado e com o que tirou aos pobres financiou as instituições da economia social, tendo o cuidado de colocar um dos seus à frente da mais importante dessas agremiações, a Misericórdia de Lisboa. Para a história da última legislativa ficam a intervenção política de personalidades da economia social, com destaque para Santana Lopes, Fernando Nobre e a senhora do Banco Alimentar contra a Fome.
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