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segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

12 personalidades para 12 meses, no ano em que Sócrates é julgado

O julgamento de José Sócrates deve começar na segunda metade do ano

  |  FILIPE AMORIM / GLOBAL IMAGENS

Em 2018, os partidos começam a aquecer os motores para as legislativas de 2019. O Presidente da República vai estar atento aos "eleitoralismos" exagerados. Marcelo Rebelo de Sousa vai manter-se ao lado das populações, sobretudo das mais fragilizadas. O PSD muda de liderança e abre-se um novo ciclo na oposição. António Costa tentará gerir as pressões à direita, mas também à esquerda para que a geringonça se mantenha oleada. E no interim da normal vida democrática, vai começar aquele que é considerado o julgamento dos julgamentos, o do antigo primeiro-ministro José Sócrates.

1. José Sócrates
Ex-primeiro-ministro

O maior julgamento da democracia

Aconteça o que acontecer, a democracia já estremeceu e pode ainda sofrer um abalo maior com o julgamento inédito de um ex--primeiro-ministro. A acusação tem 4000 páginas, 28 arguidos na Operação Marquês, em que José Sócrates é acusado de 31 crimes. O ex-governante do PS deverá sentar-se no banco dos réus no segundo semestre do ano e vai marcar muito do debate político em 2018, até porque com ele serão julgados outros nomes grandes da vida nacional, entre os quais Ricardo Salgado, Henrique Granadeiro e Zeinal Bava. Seja Sócrates acusado ou absolvido, uma coisa é certa: nada será como antes na pacata democracia portuguesa, em que sempre houve a perceção de que os "grandes" escapavam às malhas da justiça.

2. Marcelo Rebelo de Sousa
Presidente da República

Um Presidente todo-o-terreno

Marcelo Rebelo de Sousa já deu todas as provas que de que com ele a Presidência da República é o eixo central da política nacional. O inquilino de Belém estará ainda mais presente no terreno - se é que isso é possível -, sobretudo junto da população mais fragilizada. As zonas atingidas pelos incêndios e a proteção do interior vão ser seguramente as suas bandeiras. O Presidente já fez o aviso de que em ano pré-eleitoral estará muito atento às medidas eleitoralistas que por aí se adivinham e às revindicações da esquerda, que quer marcar terreno a tempo das legislativas de 2019. A estabilidade da vida financeira e económica do país serão mensagens constantes durante os próximos meses. O Presidente também se irá confrontar com uma nova liderança do PSD, que irá introduzir outra dinâmica na oposição ao governo.

3. António Costa
Primeiro-ministro

Um ano para fugir de todas as tragédias

O primeiro-ministro pisou no ano que agora termina uma camada fina de gelo, que à superfície se fez de sucesso económico, mas que estalou com tragédias, como as mais de cem mortes dos fogos, e várias polémicas, entre as quais a de Tancos e a da Raríssimas. António Costa tem um ano para reparar os danos que os incêndios de Pedrógão e de outubro causaram na imagem do governo, a tempo de entrar em 2019 com capacidade de mobilização do eleitorado. Costa já deu sinais de que vai apostar na reposição dos direitos do trabalho, o que permitirá estancar as reivindicações dos partidos à esquerda e das centrais sindicais e colher a simpatia em vastos setores laborais. O dossier do Código Laboral pode ser mesmo a ferramenta para o líder do governo conseguir roubar as bandeiras que a esquerda que o apoia no Parlamento se prepara para agitar.

4. Mário Centeno
Ministro das Finanças

Um ministro mais por cá ou mais na Europa?

Mário Centeno vai ser uma das personalidades que mais tempo de antena terá nos meios de comunicação social e sobre o qual os holofotes estarão virados. Incluindo os de Belém. O ministro das Finanças terá a dupla condição de presidente do Eurogrupo, num momento em que na União Europeia se debatem matérias escaldantes sobre o futuro no pós-brexit - reforma das instituições, completar a união bancária e fechar o programa grego com sucesso. Centeno vai ter que encontrar o tom certo entre o que os pares europeus decidirem e a política interna e os interesses do país. Marcelo já o avisou com muito tempo de antecedência que não se pode distrair com as novas funções e deixar as finanças nacionais menos controladas. Costa também o quererá muito atento, o crescimento económico é fertilizante para as legislativas de 2019.

5. Rui Rio ou Santana Lopes
Futuro líder do PSD

Um novo rosto para a oposição ao governo

A 13 de janeiro já se saberá quem vai suceder a Pedro Passos Coelho na liderança do PSD. Rui Rio ou Santana Lopes vão protagonizar a oposição ao governo, num momento em que António Costa ainda andará a correr contra os prejuízos do ano anterior. Santana mostra-se mais intransigente quanto à possibilidade de estabelecer quaisquer entendimentos com o governo ou o PS, o que porá em risco o processo de descentralização que está em curso. Rui Rio também afasta pactos, mas é menos taxativo na possibilidade de entendimentos a bem das reformas urgentes no país. E a descentralização, segundo a sua perspetiva, é mesmo uma delas. O novo líder do PSD também terá de encontrar o registo certo no relacionamento com o CDS. A presidente Assunção Cristas tem tomado a dianteira na oposição, até por uma certa paralisia do PSD neste momento de mudança de direção. Hostilidade a mais não é aconselhável contra um eventual e natural parceiro de coligação, se os ventos eleitorais se revelarem favoráveis ao PSD em 2019. Rio e Santana vão ter de saber gerir sabiamente a relação com Belém.

6. Jerónimo de Sousa
Líder do PCP

Como recuperar a força do PCP?

O líder do PCP foi arrojado ao dar a mão ao governo socialista, mas teve alguns amargos de boca. Jerónimo de Sousa confrontou-se com um mau resultado da CDU nas eleições autárquicas de 2017, o que é um duro golpe para um partido que sempre teve no poder autárquico o seu grande suporte. O secretário-geral comunista terá de ser mais ágil para acompanhar a pedalada do outro parceiro do governo no parlamento, o BE, que conseguiu comunicar bem e tirar melhor partido das medidas mais simpáticas nos dois anos de governação socialista. É provável que as reivindicações do partido de Jerónimo subam de tom, muito alavancadas pelo braço sindical da CGTP. O pacote laboral vai dar que falar.

7. Catarina Martins
Líder do BE

Manter a pressão para marcar terreno

O Bloco de Esquerda tirou proveito da geringonça, um termo aliás que está a cair em desuso e que provavelmente será pouco repetido em 2018. Catarina Martins, líder do BE, que vai ter convenção este ano, só tem de manter a pressão sobre o governo para marcar o terreno, tendo em vista os resultados eleitorais do próximo ano. Sempre sem pôr em causa a possibilidade de, em caso de uma maioria relativa do PS nas legislativas, vir quiçá a integrar o próprio executivo. Essa porta não foi fechada. Também os bloquistas irão, certamente, apostar no pacote dos direitos laborais.

8. Assunção Cristas
Líder do CDS

Consolidar mais a posição do CDS

Assunção Cristas parte para 2018 numa posição muito confortável, já que reforçou a sua liderança com o resultado que obteve nas eleições autárquicas em Lisboa, onde ficou à frente do PSD. Mas é precisamente perante uma nova liderança do partido que há pouco tempo ainda era aliado do CDS no governo, que a presidente centrista terá de se destacar se quiser continuar a comandar a oposição ao governo. O partido também tem congresso este ano, a 10 e 11 de março - já depois das diretas e do congresso do PSD - e nessa altura se deverá perceber qual a linha de estratégia de Assunção para os próximos dois anos.

9. Tiago Brandão Rodrigues
Ministro da Educação

Carreira de professores encarreira?

Um dos mais poderosos sindicatos, comandados pelo comunista Mário Nogueira, é a Fenprof. É um dos motivos pelo qual os detentores da pasta da Educação nunca podem dormir tranquilos. O atual ministro da Educação já provou isso mesmo com o descongelamento das carreiras dos professores, que não satisfizeram a classe e a Fenprof. Tiago Brandão Rodrigues vai estar sob fogo nas negociações durante os primeiros meses do ano para que seja tido em conta nas progressões o tempo em que as carreiras dos professores estiveram congeladas. Há um acordo de princípio, que travou uma greve geral, mas que depois foi alvo de declarações contraditórias por parte de membros do governo. Tudo pode correr muito bem como pode vir ainda a ser um foco de tensão para o executivo e em particular para Tiago Brandão Rodrigues.

10. Adalberto Campos Fernandes
Ministro da Saúde

Infarmed de malas aviadas para o Porto?

O ministro deu um tiro no pé ao anunciar de supetão a transferência do Infarmed para o Porto, sem ter cuidado de preparar a instituição para o processo complexo. O próprio primeiro-ministro deu um puxão de orelhas a Adalberto Campos Fernandes ao reconhecer publicamente que foi um erro a gestão deste dossier. Há um grupo de trabalho agora a estudar a decisão política de transferir a autoridade nacional do medicamento para-o norte. Mas não é pacífico que mesmo muito bem fundamentada, a decisão seja acolhida de ânimo leve pelos trabalhadores do Infarmed. A par deste problema, o ministro da Saúde tem ainda que gerir um Serviço Nacional de Saúde com vários achaques. E evitar a todo o custo que se repita um problema semelhante ao que originou o surto de legionela no Hospital São Francisco Xavier e que vitimou cinco pessoas. Está ainda latente o mal-estar entre os médicos e os enfermeiros.

11. Eduardo Cabrita
Ministro da Ad. interna

Ministro sujeito ao teste do verão

De todo o governo, até mais do que o titular das Finanças, o ministro da Administração Interna vai ser uma das personalidades mais visadas em 2018. Caiu no colo de Eduardo Cabrita algumas das pastas mais complexas, em primeiro lugar a da reestruturação da Proteção Civil. Será Cabrita a colocar em marcha muito do que terá de ser feito para prevenir e evitar que se repita o cenário dantesco dos incêndios de Pedrógão e de outubro e as 110 vítimas que provocaram. Mas é também nos seus ombros que repousam as forças de segurança, que têm vindo a dar novamente sinais de que estão descontentes com a evolução das condições de trabalho. Outro dossier importante que manteve sob a sua tutela é o da descentralização, uma das bandeiras do governo socialista, que tem de ser negociada com a Associação Nacional de Municípios e até com a oposição.

12. Ricardo Robles
vereador do BE

Ensaio para a entrada no governo?

Porquê destacar entre as personalidades do próximo ano o discreto vereador do Bloco de Esquerda na Câmara de Lisboa? Pela simples razão que Ricardo Robles, que integrou o executivo camarário de Fernando Medina, poderá ser uma espécie de balão de ensaio do PS e do BE para a eventual entrada do Bloco num executivo socialista. Se tudo correr bem na capital porque não experimentar no governo central?

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