Posted: 31 Jan 2018 11:21 AM PST
«Há uns anos, até o mais despudorado dos jornalistas teria vergonha em publicar uma notícia sobre a suspeita de favorecimento de um ministro que ousou pedir dois bilhetes para um Porto-Benfica. Hoje esse assunto é manchete de jornais, notícia nas rádios, abertura das televisões e um maná para as redes sociais exultarem com mais uma “prova” da indecência dos políticos. E é assim não apenas por causa da degradação do jornalismo ou pela persistente mania da gente da Justiça em tornar público o que deve ser segredo: é-o também por directa responsabilidade de quem nos representa. Quando um partido como o PS se dedica a criar “códigos de ética” nos quais governantes e deputados são vistos crianças que precisam de ser adestradas para resistirem a ofertas de bilhetes para espectáculos, está a alimentar as suspeitas que pretende combater; quando a classe política deixa subentender que nas suas consciências há lacunas de princípios que impedem a separação entre o que se pode ou não pode fazer, estão escancaradas as portas para o gérmen do populismo que transforma um bilhete para a bola num caso de corrupção. (…)
Que se legalize o exercício do lobbying, que se criminalizem as omissões ou “os esquecimentos” em torno das declarações obrigatórias dos bens patrimoniais dos políticos no Tribunal Constitucional, tudo bem. Mas evite-se a tentação de dar à turba o que a turba mais deseja: cimento para a sua cultura de ódio a quem nos representa. Seguindo esse caminho, o da cedência, o da cobardia e o do medo de enfrentar o fel que se derrama das redes sociais, acabaremos por ter de viver todos os dias com epifenómenos como o que afecta Mário Centeno. E então a democracia não agonizará pelo mal mas pela sua suposta cura.»
Posted: 31 Jan 2018 08:24 AM PST
Vou contar uma história. Um grande amigo anglo-indiano, com quem lidei muito durante três anos numa tarefa internacional, explicou-me que, na empresa onde trabalhava em Inglaterra (a mesma que era a minha em Portugal), era impensável que alguém fosse obrigado a anexar facturas às notas de despesas feitas em serviço (por exemplo em viagem), já que isso seria considerado uma falta de confiança no empregado, absolutamente inaceitável.
Mas existiam regularmente auditorias internas aleatórias e, aí sim, era pedido que fulano ou beltrano justificasse o que parecesse estranho. E se fosse «apanhado», o resultado não era pêra doce: tinha efeitos em promoções, aumentos ou não de salários, alteração eventual de responsabilidades nas funções atribuídas. E era «vergonha» garantida no meio.
Passaram mais de 20 anos, não sei se isto se mantém, mas nunca mais me esqueci da história. Assim é que devia ser: sem códigos de conduta para minudências, sem denúncias anónimas, sem a Justiça de um país a perder tempo com insignificâncias.
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31.01.1891 - A Revolta no Porto
Posted: 31 Jan 2018 06:33 AM PST
Foram necessários quase 20 anos para a implantação da República, depois da revolta de 31 de Janeiro de 1891, no Porto.
«A Revolta de 31 de Janeiro de 1891 foi o primeiro movimento revolucionário que teve por objectivo a implantação do regime republicano em Portugal.
A revolta teve lugar na cidade do Porto, registando-se um levantamento militar contra as cedências do Governo (e da Coroa) ao Ultimatum inglês por causa do Mapa Cor-de-Rosa, que pretendia ligar, por terra, Angola a Moçambique. As figuras cimeiras da "Revolta do Porto" foram o capitão Leitão, o alferes Malheiro, o tenente Coelho, o dr. Alves da Veiga, o actor Verdial e Santos Cardoso, além de vultos eminentes da cultura como João Chagas, Aurélio da Paz dos Reis, Sampaio Bruno, Basílio Teles, entre outros.
Os revoltosos descem a Rua do Almada, até à Praça de D. Pedro, (hoje Praça da Liberdade), onde, em frente ao antigo edifício da Câmara Municipal do Porto, ouviram Alves da Veiga proclamar o governo provisório da República e hastear uma bandeira vermelho e verde. Com fanfarra, foguetes e vivas à República, a multidão decide subir a Rua de Santo António, em direcção à Praça da Batalha, com o objectivo de tomar a estação de Correios e Telégrafos.
No entanto, o festivo cortejo foi bruscamente interrompido por uma forte carga de artilharia e fuzilaria da Guarda Municipal, posicionada na escadaria da igreja de Santo Ildefonso, no topo da rua, vitimando indistintamente militares revoltosos e simpatizantes civis. Terão sido mortos 12 revoltosos e 40 feridos.
A reacção oficial seria implacável, tendo os revoltosos sido julgados por Conselhos de Guerra, a bordo de navios de guerra, ao largo de Leixões. Para além de civis, foram julgados 505 militares. Seriam condenados a penas entre 18 meses e 15 anos de prisão mais de duzentas pessoas.
Em memória desta revolta, logo que a República foi implantada em Portugal, a então designada Rua de Santo António foi rebaptizada para Rua de 31 de Janeiro.»
A comunicação social é que está a produzir a política
Posted: 31 Jan 2018 03:12 AM PST
«Já há muito tempo que falo sobre o contínuo política-media, uma realidade já com vários anos, em que não se pode analisar a acção política sem incluir a sua componente mediática e comunicacional. Mas agora, na empobrecida política nacional, com actores muito medíocres, que vivem nas chamadas "redes sociais", começa a haver apenas uma agenda mediática na política, com total dependência das regras mediáticas e do contínuo passa-se à dependência.
Já repararam que cada vez menos a política produz política? Ou seja, são cada vez menos actos e actores políticos que geram controvérsia ou debate ou novidade ou atenção, a não ser pela mediação da comunicação social. É o que a comunicação decide colocar na agenda, seja importante ou trivial, que move politicamente partidos, políticos, o parlamento, o Governo e o Presidente da República e que dá amplitude às questões. Isso significa que o aspecto anedótico dos "casos" se sobrepõe a questões estruturais, e o efeito perverso é que, ao ser assim, ficam dependentes do ciclo de atenção dos media, que é como sabemos muito curto. Ou, se não é muito curto é artificialmente empolado, quando o assunto pode ganhar em ser tratado de forma populista ou tablóide, como foi o caso da Raríssimas ou das "adopções" da IURD. À falta de produtos próprios, ou seja de políticas próprias, os políticos acabam por ser porta-vozes do tabloidismo nacional e, mesmo que haja no meio deste lodo matérias genuinamente relevantes, o modo como são tratadas retira-lhe significado político, acentuando apenas o aspecto casuístico.»
Posted: 30 Jan 2018 02:08 PM PST
Expresso diário de 30.01.2018.
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