por estatuadesal
(Isabel Moreira, in Expresso Diário, 27/01/2018)
(É deprimente o estado da Justiça em Portugal. O MP só pega nos casos que lhe dão protagonismo mediático, ou que servem para atacar as forças políticas da esquerda. Os casos que envolvem figuras da direita vão direitinhos para o caixote do lixo. Os casos que respeitam aos cidadãos anónimos demoram décadas a serem julgados. Os casos que envolvam violência sobre as mulheres são esquecidos ou são estas as condenadas, se não forem liquidadas antes. É uma corja com a Joana ao leme. Hoje, a cambada decidiu atacar o Ministro Centeno, mandou uma brigada ao Ministério das Finanças e bufou logo a notícia para o Correio da Manhã. Claro que, o objetivo não é investigar coisa alguma, mas sim tentar denegrir a imagem do ministro.
Continuo a aguardar que a Joana reabra o processo da Tecnoforma, dos submarinos e investigue o Frasquilho.
Comentário da Estátua de Sal, 27/01/2018)
Na notícia que estou a ler enquanto escrevo está lá a expressão: “esta mulher”. A tal, cujo nome real não sabemos, a tal mulher, “ela”, de Valongo, que apresentou queixa ao MP contra o ex-marido 37 dias antes de este a assassinar (Ver notícia aqui)
Trinta e sete dias.
Diz a notícia que estou a ler enquanto escrevo que o MP está a analisar o relatório da Equipa de Análise de Homicídios em Violência Doméstica, o tal relatório que critica a atuação do MP: “desperdiçou” três oportunidades de intervenção.
As três oportunidades “dela” foram “desperdiçadas” ao longo de “37 dias”.
Trinta e sete dias.
“Desperdiçadas”?
Não. “Ela”, de Valongo, tem uma história que começa antes dos 37 dias que marcam a coragem de clamar por justiça. Essa justiça foi-lhe negada ao longo dos tais 37 dias que são o cume de muito tempo para sofrer o medo, a dor, a ansiedade, a falta de auto-estima, a sensação de paralisia, a violência.
“Ela” dirigiu-se ao MP e deixou claro que estava em perigo de morte.
O ex-marido “dela” avisou que a matava se “ela” fizesse queixa e matou-a à paulada.
Depois de morta, “ela” foi o tal do “desperdício”. Morreu. Pediu ajuda três vezes e esteve três dias morta sem que ninguém desse por isso.
Não houve desperdício algum. Houve denegação de justiça e abandono. Diz-se que é preciso mais formação dos magistrados em violência doméstica. De acordo. Mas foi o que faltou aqui? A sério?
Trinta e sete dias com o aviso sério em três oportunidades de que “ela” estava em risco e a procuradora responsável pelo processo precisava de mais “formação” para fazer um juízo de prognose simples?
Recuso-me a ficar por aí.
“Ela” tinha um nome, podia ser o meu, podia ser o teu, e morreu de morte evitável.
“Ela” é “ela” e “ela” somos nós.
Quem passou trinta e sete dias sem evitar esta morte que grita tantas outras tem de ser responsabilizado.
E nós temos de meter na cabeça que a violência doméstica é uma guerra civil com causas profundas – mas conhecidas - e todos os dias, em cada merda (por aparentemente pequena) que contribui para a morte “delas” /” nossa”, temos de estar no lado certo da história.
Não há mistério.
É público.
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