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Em entrevista à Visão, o primeiro-ministro afastou a hipótese de formação de um "Bloco Central" com o PSD na próxima legislatura, por considerar que esse tipo de solução é "negativa para a democracia"
AFP/Getty Images
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- Agência Lusa
O primeiro-ministro afirma em entrevista à revista “Visão” que se mantém contra um “Bloco Central” PS/PSD e afasta o cenário de demitir-se da chefia do executivo caso no próximo Verão se repitam tragédias com os incêndios florestais. Estas posições foram assumidas por António Costa durante uma entrevista à revista Visão, que será publicada na íntegra na quarta-feira e durou uma hora e 13 minutos, período durante o qual o primeiro-ministro respondeu a 55 perguntas formuladas pelos jornalistas Filipe Luís (editor executivo) e Octávio Lousada Oliveira.
Questionado sobre a possibilidade de se formar um “Bloco Central” PS/PSD na próxima legislatura, agora que os sociais-democratas têm um novo líder, Rui Rio, o secretário-geral socialista volta a afastar esse cenário. “Temos de distinguir o que são soluções de Governo – e isso sempre achei que soluções tipo ‘Bloco Central’ são negativas para a democracia, porque a empobrecem, diminuem a escolha que os eleitores têm para procurar caminhos alternativos. Num sistema partidário como o que temos em Portugal, necessariamente as soluções de Governo serão polarizadas ou pelo PS ou pelo PSD e, portanto, a junção dos dois diminuía a possibilidade de geração de alternativas”, sustenta.
Em relação à nova liderança dos sociais-democratas, António Costa considera que “está manifestamente a incomodar grande parte do PSD e da chamada direita inorgânica, aquilo que alguns costumam designar a direita do Observador”. Afastado o cenário de uma coligação de Governo com o PSD, António Costa insiste na tese de que, após as eleições legislativas de 2019, será viável reeditar a actual plataforma de forças de esquerda que suporta executivo minoritário socialista na Assembleia da República (PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV).
António Costa também desdramatiza as crescentes críticas que têm sido feitas pelo PCP ao seu Governo. “Acho legítimo e natural que o PCP queira também, conforme se vai concluindo a legislatura e se vai aproximando das eleições, sinalizar quais são as suas marcas identitárias e diferenciadoras relativamente ao PS”, alega. Já sobre a possibilidade de o PS apoiar a recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa nas presidenciais de 2021, o líder socialista remete essa questão para 2020. “Para já é preciso saber se [Marcelo Rebelo de Sousa] é candidato presidencial, visto que ele próprio já disse publicamente que ainda não tomou a decisão sobre essa matéria. O PS sempre teve como tradição apoiar candidatos e não propor candidatos. Portanto, aguardemos para ver quem são os candidatos em 2021 e, depois, o PS seguramente tomará a sua decisão”, responde.
Nesta entrevista, o primeiro-ministro foi também questionado se admite demitir-se caso se repitam no próximo verão tragédias com os incêndios – um cenário que afastou. “Demitir-me, se houver mais incêndios? Quando há um problema, a solução não é demitirmo-nos, é estarmos prontos para resolver o problema. É isso que temos feito e é isso que vamos continuar a fazer”, responde. António Costa demarca-se também da ideia de que haja politização da justiça, advogando que não lhe parece que esse juízo seja partilhado pela sociedade portuguesa, “nem que haja motivos para o fundamentar”. Interrogado sobre as pressões para uma eventual recondução da procuradora-geral da República, Joana Marques Vidal, o líder do executivo desdramatiza e aponta que “é da tradição o Governo não fazer propostas, nessa matéria, que o Presidente da República não possa aprovar”.
No que diz respeito ao Governo, no momento próprio falaremos com o senhor Presidente da República e concertaremos com ele a proposta que faremos”, sublinha. Já sobre os protestos das autoridades políticas angolanas contra a intenção de a justiça portuguesa julgar o seu ex-vice-presidente Manuel Vicente em Portugal, o primeiro-ministro afirma compreender a pressão diplomática e económica que está a ser exercida no sentido de transferir o processo para Angola. “Se num Estado estrangeiro fosse levantado um processo-crime contra o nosso Presidente da República, contra o primeiro-ministro ou contra deputados, muito provavelmente Portugal também diligenciaria no sentido de preservar as imunidades de que essas entidades gozam no nosso país”, argumenta.
Ainda em matéria de justiça, nesta entrevista à revista Visão, António Costa demarca-se também dos casos que envolvem o Benfica, frisando que não é adepto do clube por causa dos seus dirigentes”. “Num Estado de Direito, ninguém, está acima da lei”, salienta. Em matéria económico-financeira, o primeiro-ministro reconhece mudanças no Conselho de Finanças Públicas, organismo presidido por Teodora Cardoso. “O Conselho de Finanças Públicas ganhou nova confiança na estratégia que temos vindo a adopar. Significa que água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Os factos impuseram-se aos preconceitos”, diz.
No que respeita à questão da eutanásia, o secretário-geral do PS defende que a legislação não deve limitar a liberdade de opção individual, embora o seu “arreigado optimismo” lhe coloque “dificuldades em aceitar a prática da eutanásia como uma boa solução”.
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