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domingo, 4 de março de 2018

Apologia de Sócrates

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04/03/2018

by Bruno Santos

O cargo – pesemos bem as palavras – de Primeiro Ministro de Portugal, tem uma dignidade própria, dignidade essa que não está dependente das características pessoais do cidadão que o ocupa ou ocupou, nem da maior ou menor simpatia que suscite a forma como o exerceu. É uma dignidade inerente à função e à suprema Honra de servir Portugal.

Ser, ou ter sido, Primeiro Ministro, é ter alcançado o topo da hierarquia do Estado de Direito Democrático, e ter tomado posse, no ritual próprio desse Estado, de um grau e de uma qualidade cívicos, dos quais não há reversão. Por isso sucede ao título de Primeiro Ministro o de ex-Primeiro Ministro e a ninguém pode ser subtraída a Honra que é servir ou ter servido Portugal na chefia do seu Governo.

Nesse contexto, a maior perplexidade que resulta do alarido público formado em torno do futuro profissional do Dr. Pedro Passos Coelho, ex-Primeiro Ministro de Portugal, não é tanto se ele tem ou não tem o estatuto cívico, académico ou administrativo para vir a tomar posse do título de Professor Catedrático – em qualquer dos casos uma despromoção relativamente às altas responsabilidades governativas que exerceu. O que causa verdadeira perplexidade é a diferença incompreensível entre o tratamento que lhe é dispensado e aquele que mereceu o ex-Primeiro Ministro de Portugal, José Sócrates, credor, no mínimo, de uma honra igual. Coisa que, como se sabe, não aconteceu.

À Justiça o que é da Justiça, mas à dignidade institucional o que também lhe pertence. E se o modo como José Sócrates exerceu o cargo de Primeiro-ministro é susceptível de muitas críticas, elas não são nada que se compare ao que merece Passos Coelho, o pior e mais destruidor governante que Portugal conheceu em Democracia.

Não embarcarei, portanto, quer enquanto cidadão, quer enquanto militante do Partido Socialista, nesta evidente tentativa de mistificação da História e na eliminação institucional e simbólica do mais importante militante socialista do pós- 25 de Abril: José Sócrates.

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