20/03/2018 by Carlos Garcez Osório
As redes sociais têm tanto de bom como de (muito) mau. Só que a parte (muito) má é, avassaladoramente, irritante e desprezível. Nem que não seja pelo evidente “double standard” na viralidade das opiniões publicadas.
Por exemplo, criticar, ridicularizar ou insultar Donald Trump, é algo, largamente, difundido e, pacificamente, aceite. A ideia que perpassa é que as pessoas que o fazem quase que necessitam de o fazer para demonstrar quão inteligentes e perspicazes são. Como se a constatação que um idiota é um idiota fosse género requisito indispensável para entrar na Mensa International.
Já Putin, um assassino sórdido, despudorado e impune, escapa entre os pingos da chuva. São ambos líderes de superpotências, mas criticar ou apontar o constante desprezo pelas regras mais básicas da humanidade que o Russo, desde sempre, ostentou, não tem o “glamour” esquerdista que não deixa de alicerçar o que é ou não viral nas redes sociais.
Um asqueroso atentado a um jornal em Paris, gera uma infinita proliferação de “je suis isto ou aquilo”. A execução diária, consistente, massiva e ininterrupta de civis na Síria (com o apoio de quem?), conduz, no máximo, a um pequeno e efémero esgar de pena que logo é superado com um qualquer vídeo sobre gatinhos fofos ou a última gaffe do Trump.
A tragédia de um povo como o da Venezuela que viu a sua qualidade de vida descer para níveis, criminosamente, desumanos perde, óbvia e desavergonhadamente para a última revelação de mais uma vítima de assédio sexual, sendo indiferente se o assédio em causa foi, realmente, grave ou se não passa de uma patetice de quem procura protagonismo.
A pressão dos cibernautas aumentou, determinantemente, a onde de choque criada pelo brutal assassínio de Marielle Franco. O facto de ser, simultaneamente, de raça negra, homossexual, feminista e de esquerda, transformou-a, de imediato, num ícone do rebanho “politicamente correcto” que mais não é que a STASI das redes sociais. Consequência (entre outras) da pressão exercida: vai haver, e bem, uma escola Marielle Franco no Rio de Janeiro. Helley de Abreu Silva Batista (não sabe quem é, pois não?) que morreu em Outubro, também, terá uma creche com o seu nome. Mas o seu exemplo de coragem e altruísmo não fizeram dela um ícone da manada. Porquê? Porque não era, simultaneamente, de raça negra, homossexual, feminista e de esquerda.
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