Da ilusória vontade de maior entendimento entre o PSD e o PS
Posted: 16 Mar 2018 07:41 PM PDT
De acordo com uma sondagem do Expresso, «60% dos portugueses querem mais acordos entre PSD e PS, a começar pela Saúde». Os restantes 40% dividem-se, segundo o estudo, entre os inquiridos que consideram «suficientes» os entendimentos em matéria de descentralização e fundos comunitários (12,0%) e os que têm dúvidas, não sabem ou não respondem (que representam 28,6% do total).
Lendo o título, fica-se com a ideia que os tais 60% que querem mais acordos entre o PS e o PSD, pretendem igualmente que esses acordos e entendimentos comecem pelo setor da saúde. Lendo a notícia, contudo, verifica-se que não é bem assim.
A infografia aqui ao lado, que o Expresso utilizou para ilustrar a notícia, é esclarecedora. Tomando os cerca de 60% (59,4%), favoráveis a mais entendimentos, como universo de partida (ou seja, 100%), conclui-se que: 41,3% dos inquiridos gostariam que houvesse um acordo na Saúde; 18% um acordo na Justiça; 17% um acordo na Segurança Social e, por fim, 12% um acordo na educação. Por sua vez, os inquiridos que gostariam que houvesse entendimentos noutras áreas, ou que têm dúvidas, representam cerca de 13%.
Recorde-se porém que estes valores percentuais dizem respeito a um sub-universo da sondagem. Ou seja, dão conta de como se distribuem - por áreas de governação - os inquiridos que gostariam que socialistas e social-democratas se entendessem num conjunto mais alargado de áreas. Por outras palavras, no universo total de inquiridos (que inclui também os que acham «suficientes» os acordos entre os dois partidos na descentralização e na gestão dos fundos comunitários, ou que «não têm opinião, não sabem ou não respondem», o seu peso relativo torna-se bem menor.
O que se pode dizer, em termos globais, é portanto que apenas 25% dos portugueses (e não 41%) gostavam que PS e PSD chegassem a acordo nas políticas de saúde; 11% (e não 18%) que esse acordo fosse alcançado na área da justiça; 10% (e não 17%) que houvesse entendimento dos partidos do bloco central na Segurança Social; e, por último, apenas 7% dos portugueses (e não 12%) vêem com bons olhos um acordo entre PS e PSD na educação. Ou seja, se em abstrato mais de metade dos portugueses (60%) querem que socialistas e social-democratas cheguem a acordo num maior número de áreas, segundo a sondagem do Expresso, quando se passa para o concreto, em termos setoriais, essa vontade parece dissolver-se, atingindo no máximo os 25%. Curioso, não é?
Posted: 16 Mar 2018 10:03 AM PDT
Não se percebe muito bem na imagem. Mas de um lado estão bananas da Costa Rica a 1,78 euros/kg e do outro bananas da Ilha da Madeira, a 2,98 euros/Kg.
Muito haveria a estudar sobre a estrutura dos preços destes dois produtos homogéneos.
Mas a tese neoliberal diz que, num mercado globalizado, os custos intermédios tendem a ser semelhantes, à excepção dos custos do trabalho. E que, portanto, essa deve ser a variável a ajustar para que os produtos nacionais sejam competitivos.
Ora, neste caso, admitindo a ideia absurda de que os custos salariais representam metade dos custos de produção (absurda porque são muito menores do que isso), os custos salariais teriam de baixar 40% para que os dois produtos tivessem o mesmo preço em território português...
Peso dos salários nas bananas da Madeira: 2,98 euros x 50% = 1,49 euros
Peso dos salários nas bananas da Costa Rica: 1,78 x 50% = 0,89 euros
Diferença dos salários pagos entre os dois produtos: 1,49 - 0,89 = 0,6 euros
Peso da diferença de salários nos salários dos bananeiros da Madeira: 0,6 / 1,49 x 100 = 40%
E isto é pressupor que os custos intermédios na Madeira teriam de baixar de igual forma os mesmos 40%, o que pode parecer estranho à luz do pressuposto teórico de que nada se pode reduzir nos custos intermédios... Porque se não for possível mexer aí, os cortes salariais teriam de ser ainda mais pronunciados - 80%!
Faz isto sentido?
Ora, não fazendo, isso obriga a que - não se podendo usar outros instrumentos de política económica - Portugal esteja condenado a ficar dependente das bananas da Costa Rica...
Fatalidades a que nos obrigam, em prol de... em prol de quem?
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