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terça-feira, 6 de março de 2018

Ladrões de Bicicletas


Algo de podre

Posted: 06 Mar 2018 12:35 AM PST

Fonte: AMECO

Poderíamos estar aqui até ao fim da noite.
Todos a falar de populismos, como é grave a situação italiana, como é mau para as democracias um país tão importante como a Itália ter votado desta forma tão desconforme àquilo que seria bem educado votar, ao nível europeu. A dizer mal dos italianos, que são loucos, que não podem ser bons da cabeça por ter eleito um partido que nem tem ideias fixas sobre nada. Ou que nem se percebe por que razão Berlusconi consegue ainda assim ter aquelas votações. A Europa sempre tão próxima do iluminismo e cair no barbarismo do voto na extrema direita ou da direita sem extremos.

Fonte: AMECO

E depois olhemos para os números.
Como é possível que a Itália mantenha há quatro anos cerca de três milhões de desempregados oficiais (11,3% de taxa de desemprego oficial em 2017, o mesmo valor sensivelmente desde 2012) sem que esse valor pareça alterar-se substancialmente desde a crise internacional?
Como é possível que ao longo dos anos mais recentes, a Itália tenha perdido o élan face à Alemanha e o seu PIB esteja a estagnar há 20 anos? Repita-se: há 20 anos! Em 1991, o PIB italiano representava 64% do PIB alemão. Chegou a ser 66,7% em 2005. E desde aí é só cair. Já vai em 53,1% ao fim de 13 anos em queda. O PIB italiano estagna, mas o alemão progride sem interrupção.

Fonte AMECO

E, sim, o seu PIB per capita está há mais de dez anos sem crescer que se veja.
Como é possível que nada seja feito na Europa em prol das pessoas? E depois se brame contra os italianos que não querem mais imigrantes?  E que votam à direita para que se feche as fronteiras?
E depois voltamos a ler o artigo mais recentemente de Teresa de Sousa, que saiu ontem na edição do Público, a elogiar o fecho das negociações na Alemanha entre a CDU e o SPD: "Boa sorte à grande coligação. Mesmo numa situação de fraqueza que nunca se verificou antes, precisa de provar que o centro consegue aguentar"...
E pensamos: há algo de podre no meio disto tudo.
Não são os italianos que estão doidos. Algo de errado está a funcionar no centro da Europa e está a enquinar as sociedades, a levá-las a uma descentragem à direita que, por sua vez, reforça todos os elementos que conduziram a esse resultado. Fecho das sociedades, acentuação das políticas de segurança e de política externa agressiva,  políticas de austeridade, maior aperto laboral, maior controlo sindical e redução de rendimentos, maior desigualdade social e económica. Votação eurocéptica, sem consequências. À direita... E tudo se mantém.
Até quando?

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