por estatuadesal
(Por Isabel Moreira, in Blog Aspirina B, 23/03/2018)
O CDS adotou uma estratégia que poderá ter algum sucesso (para além da estratégia, o PSD está como se sabe).
Assunção Cristas afirmou-se como líder no seu Partido, sem se prestar a ser sombra de Paulo Portas, é jovem e é mulher.
Optou por apostar no “pragmatismo”, isto é, optou por renegar à ideologia para fins eleitorais.
Por quê? Porque a líder do CDS sabe que há um eleitorado flutuante – que vai da direita ao BE – que, precisamente, não é ideológico.
Assim, junta tudo no seu projeto de “pesca de votos a qualquer custo”: democracia-cristã; a direita de sacristia que está lá, mas que Cristas não evidencia; e, finalmente, as caras da “modernidade”.
Como o meu amigo Adolfo Mesquita Nunes: jovem, inteligente, liberal, com um historial de defesa, no Parlamento, com o seu voto, de todas as causas LGBT (e uma estranha abstenção em matéria de PMA para todas as mulheres).
O Adolfo tem um discurso fluente e com a técnica da advocacia toda nele. Consegue ser um defensor histórico da IVG (contra Cristas) e agora, como dirigente do CDS, acompanhar a rejeição da eutanásia, mas com o truque de o fazer com apelo à “liberdade negativa”.
O truque é fácil de desmontar, mas não o vou fazer aqui. Fica para outro texto.
A verdade é que consigo detetar a tática do CDS e, por isso, vejo ali o que sempre esteve.
Assunção Cristas pode ter deixado de falar no aborto, mas deve-se a ela, e a muita gente, a luta pela penalização da pobreza.
Deve-se ao CDS e ao PSD a escandalosa aliança com o grupo mais reacionário do país quando, em 2015, reverteram a lei da IVG.
O CDS continua a ser vincadamente contra todos os direitos das pessoas LGBT.
Todos.
De nada serve ter na sua liderança o Adolfo, porque há um diário da luta do CDS contra a igualdade, nas uniões de facto, passando pelo casamento igualitário, pela adoção, pela PMA e, nas próximas semanas, pela população trans.
O CDS continua a albergar gente que defende a “terapia gay”, gente que Cristas integrou na sua equipa (“moderna”, claro) na corrida à CML de Lisboa.
Cristas nunca desmentiu os fanáticos que dizem falar como gente do CDS.
Pelo contrário: contou com eles.
Conta com eles.
E com o Adolfo.
Esperta, não é?
De repente parece que não foi ministra de um Governo que nos convidou à decadência moral e social, todo um feito. Até se preocupa com o “interior”, imagine-se.
Mas tenho memória.
E tenho apego pela ideologia.
Cristas pode usar do pragmatismo, da aliança de tudo e do seu contrário, da semântica em tom doce que visa assustar o país (esquerdas unidas, radicais e encostadas, vai mudando).
Cristas pode continuar a ser uma populista descarada, apresentando projetos ignóbeis, mas que “enganam” ao ouvido (criminalização do abandono de iodos), reagindo a cada notícia com o dedo em riste e lendo relatórios de 300 páginas em dois segundos para culpar o Governo.
Sei o que é o CDS.
O Adolfo não o muda. Convive com o reacionarismo do seu próprio partido. É com ele.
Sei que nada há de moderno no CDS de Cristas. Está lá a direita de sempre.
Há uma novidade: a tática para apanhar o eleitorado não ideológico e a excelente cobertura mediática de que o pequeno Partido goza.
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