País desmembrado
30/03/2018 by j. manuel cordeiro
(c) jmc
Era um Janeiro frio em Bath, Inglaterra, e procurei um pouco de calor escrevendo um postal aos amigos. Com tantas possibilidades de satisfação instantânea, incluindo a de estarmos em contacto com quem nos é querido, um postal chegado à caixa de correio traz com ele uma pequena parte de nós que uma fotografia partilhada pelos skypes da modernidade não capturam: aquele breves momentos enquanto compomos uma prosa de ocasião, antecipando o sorriso no destino perante a inspirada lembrança.
Não sabia, porém que a surpresa seria recíproca.
Soube ontem, para minha enorme estupefacção, que o postal tinha acabado de chegar, passados três meses depois de ter sido escrito. Talvez alguém tenha gostado tanto da Abadia de Bath que acabou por adornar o seu posto de trabalho com a minha correspondência. O mais certo, porém, é que lhe tenha acontecido o mesmo que a outras cartas e encomendas que, ultimamente, têm ficado perdidas por entre o caos criado pela diminuição da qualidade do serviço.
Uns correios que já foram exemplares, com entrega garantida no dia seguinte e sem precisarem de envelopes coloridos de azul e outras variantes, estão reduzidos a uma pálida aguarela do que foi uma empresa vibrante. E isto acontece, ironicamente, num momento em que a entrega de encomendas cresce exponencialmente, capaz até, quem sabe, de equilibrar a redução da circulação de cartas. No entanto, a aposta dos CTT foi a criação de um banco, eventualmente por este ser um negócio que pode falir sem que abra falência.
Eis o novo Portugal, nascido da venda de todo o seu valor para pagar os desmandos da banca. Foram privatizações, dizem, para melhorar os serviços e baixar os preços ao consumidor. Aí está, porém, a electricidade e telecomunicações das mais caras na Europa, como constatamos mensalmente pela cartinha chegada à caixa de correio. Esta, note-se, sem meses de atraso.
Sem comentários:
Enviar um comentário