20 mar 2018 17:29
O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, instou hoje o fundador e administrador executivo do Facebook, Mark Zuckerberg, a prestar contas aos eurodeputados sobre o uso de dados de cidadãos europeus na sequência do escândalo da Cambridge Analytica. Porém, este não foi o único 'convite' a si dirigido. Uma comissão parlamentar do Reino Unido colocou a mesma questão ao fundador da rede social.
“Convidamos Mark Zuckerberg para vir ao Parlamento Europeu porque o Facebook precisa de clarificar, diante dos representantes de 500 milhões de europeus, que os dados pessoais não são usados para manipular a democracia”, escreveu Tajani no Twitter.
O pedido surge numa altura em que têm saído notícias de que uma empresa com sede no Reino Unido, a Cambridge Analytica, usou indevidamente informação do Facebook para ajudar o candidato republicano Donald Trump a ganhar as presidenciais norte-americanas em 2016. A empresa, acusada de usar a informação de mais de 50 milhões de contas do Facebook, nega qualquer utilização indevida.
O líder da Eurocâmara já tinha anunciado na segunda-feira a sua intenção de pedir responsabilidades.
“As alegações de uso indevido de dados de utilizadores do Facebook é uma inaceitável violação dos direitos de privacidade dos cidadãos”, salientou Tajani na segunda-feira.
A consultora Cambridge Analytica obteve, em 2014, informação relativa a mais de 50 milhões de utilizadores do Facebook nos Estados Unidos e usou-a para construir um programa informático destinado a prever as decisões dos eleitores e, por isso mesmo, influenciá-los, revelaram no sábado os diários London Observer e o New York Times.
“Têm sido enganadores para com a comissão”
Uma comissão parlamentar do Reino Unido já tinha anunciado hoje que convocou Mark Zuckerberg para responder sobre o alegado uso de dados da rede social para influenciar indevidamente processos eleitorais.
O presidente da Comissão de Media do parlamento do Reino Unido, Damian Collins, revelou hoje que os deputados pediram, repetidas vezes, ao Facebook, que explicasse como é que usa os seus dados, mas que os responsáveis do gigante informático “têm sido enganadores para com a comissão”.
“É altura de ouvir um executivo de topo do Facebook, com autoridade suficiente para dar uma explicação precisa sobre esta catastrófica falha processual”, indicou Collins na carta dirigida diretamente a Zuckerberg. “Face ao seu compromisso, no Ano Novo, de ‘consertar’ o Facebook, espero que o representante seja você”, concluiu.
A comissária da informação do Reino Unido, Elizabeth Denham, também já disse que vai usar todos os poderes ao seu alcance para investigar o gigante das redes sociais e a Cambridge Analytica acerca do alegado uso indevido dos dados.
Denham está a tentar obter um mandato para fazer uma busca aos servidores da Cambridge Analytica. Também solicitou ao Facebook que pare a auditoria que a companhia estava a fazer ao uso de dados por parte da Cambridge Analytica.
“O nosso conselho ao Facebook é o de que se afaste e nos deixe entrar e fazer o nosso trabalho”, disse a comissária.
A Cambridge Analytica já anunciou que está empenhada em ajudar a investigação no Reino Unido. No entanto, Denham deu um prazo limite à empresa para apresentar a informação solicitada – e esse prazo não foi respeitado, indicou o gabinete da comissária.
Denham disse que a principal acusação contra a Cambridge Analytica é a de ter adquirido, por meios não autorizados, dados pessoais. No entanto, ressalvou que as leis britânicas exigem às plataformas como o Facebook que tenham fortes medidas de segurança que previnam o uso indevido dos dados.
Chris Wylie, que já trabalhou para a Cambridge Analytica, afirmou – citado pela imprensa – que a empresa usou os dados para construir perfis psicológicos para conseguir visar diretamente certos tipos de eleitores com anúncios e peças supostamente noticiosas.
Por outro lado, o Channel 4 do Reino Unido conseguiu gravar declarações do principal executivo da Cambridge Analytica, Alexander Nix (sem o seu conhecimento) nas quais este admite usar métodos pouco ortodoxos nas campanhas políticas dos seus clientes.
Nix afirmou que a Cambridge poderia, por exemplo, “enviar algumas raparigas” à casa de um candidato rival, e sugeriu que raparigas ucranianas são bonitas e eficazes nesse tipo de trabalho.
Também disse que a empresa poderia “oferecer uma grande quantidade de dinheiro” a um candidato rival e gravar o momento em que é feita essa oferta, para depois pôr tudo na Internet para mostrar que o candidato é corrupto.
Após a transmissão da peça de investigação do Channel 4, Nix afirmou – em comunicado – que lamenta o papel que desempenhou na reunião fictícia e pediu desculpa aos seus funcionários.
“Estou consciente daquilo que isto parece, mas simplesmente não é o caso. Declaro aqui, enfaticamente, que a Cambridge Analytica não aceita nem se envolve em ciladas, subornos ou as chamadas ‘armadilhas com mel [honeytraps]’, nem usa material falso para qualquer tipo de propósito”, afirmou.
O método de colheita de dados usado pela Cambridge Analytica também motivou investigações por parte da União Europeia, bem como de responsáveis federais e estaduais nos Estados Unidos.
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