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José Sócrates dá conferência em Coimbra sobre o projeto europeu depois da crise. "Gabo-vos a coragem", disse aos alunos. Antes, rejeitou estar a preparar candidatura presidencial: isso é "bruxaria".
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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“Gabo-vos a coragem e o desassombro de não cederem ao politicamente correto e fazerem o que acham que melhor contribui para a perceção do projeto europeu”, disse quando tomou a palavra, depois de Simão de Carvalho ter reforçado que a Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra é “inequivocamente um local de reflexão social sem doutrina política vinculada”.
Prova disso é a escolha de José Sócrates como orador deste ciclo de conferências, que arrancou em fevereiro com Pedro Passos Coelho, e por onde já passaram nomes como Marques Mendes, Jorge Coelho ou Teodora Cardoso.”Primamos pelos pilares democráticos e pelas opiniões díspares”, disse ainda o presidente do núcleo de estudantes, lembrando que para as 17h30 está marcada naquela mesma universidade uma manifestação de estudantes contra o aumento das propinas e do regime fundacional. “Só esperamos que seja dado à manifestação dos estudantes pelo futuro do ensino superior o mesmo eco que foi dado a esta conferência”, ironizou o jovem.
À entrada do auditório, quando foi questionado pelos jornalistas sobre se a sua presença naquela conferência era uma espécie de regresso à política ou, até, o início da preparação de uma candidatura presidencial, José Sócrates foi parco nas palavras, mas irónico no tom: “Não me parece que isto seja uma matéria de política, é mais uma matéria de bruxaria. Deixemos essa matéria entregue aos videntes, que fazem disso profissão”, disse, rejeitando comentar o que quer que fosse.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
A sala do auditório da Faculdade de Economia encheu até às costuras, com jovens estudantes sentados ao longo das escadas, à falta de lugares. Na verdade, não foram só estudantes de economia que quiseram ir assistir à palestra. O Observador encontrou mais estudantes de Gestão, e até de Relações Internacionais, do que apenas de Economia. Gonçalo e Lara, por exemplo, estudam Gestão e até nem se tinham inscrito para assistir à conferência, mas como tiveram uma “aula que foi cancelada”, resolveram ir espreitar.
“Vim para me rir”, dizia Gonçalo à entrada, explicando que achava “irónico” o núcleo de estudantes ter convidado o ex-primeiro-ministro que está acusado de 31 crimes, de corrupção passiva a branqueamento de capitais passando por fraude fiscal qualificada. Mas ao seu lado, Lara não concordava com o amigo: “Ainda assim foi primeiro-ministro, terá sempre alguma coisa a dizer e contributos importantes para o debate”, dizia.
O mesmo pensa Renato Correia, também estudante de Gestão, de 29 anos. “Não foi ainda julgado, por isso não achei mal esta conferência”, disse ao Observador o jovem estudante, que sabe muito bem o que gostaria de perguntar ao ex-primeiro-ministro no âmbito desta conferência sobre o projeto europeu depois da crise: “Tenho curiosidade de saber de que maneira as políticas dele influenciaram ou não o início da crise, porque dizem que a crise foi internacional, mas o impacto que teve nos vários países foi diferente, e isso dependeu das políticas que foram implementadas em cada um”, disse ao Observador. Ou seja, “o que poderia ter sido feito que [Sócrates] não fez”. No final da intervenção inicial aos alunos haverá espaço para os estudantes fazerem perguntas, mas Renato Correia não estava certo sobre se quereria fazer uso da palavra.
Hannah Braz e Lauren Bento, estudantes de Relações Internacionais de 21 e 19 anos, por sua vez, estavam mais curiosas em ver “a forma como ele se comporta”, e a “postura que os estudantes vão ter” perante a presença do ex-primeiro-ministro. “Esta é uma universidade muito crítica, por isso é importante ouvir o que estas personalidades de peso têm para dizer”, afirmava Hannah ao Observador, dizendo que “achou bem” o convite feito a José Sócrates para dar esta palestra: “É preciso ouvir para criticar”.
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