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sexta-feira, 27 de abril de 2018

A Vitória de Trump

por estatuadesal

(Dieter Dellinger, 27/04/2018)

coreia

Donald Trump é um presidente populista, mentiroso, arrogante e altamente imprevisível. Como tal suscita temor a uns e pouca credibilidade a outros. No fundo é um segundo Ronald Reagan que derrotou a URSS com uma ideia estapafúrdia, a da Guerra das Estrelas.

Trump sempre quis travar os avanços da Coreia do Norte no campo do nuclear militar e a construção de mísseis balísticos intercontinentais, sabendo, como toda a gente, que por de trás da Coreia do Norte está a China que mantém relações comerciais intensas e fornece muito do que o país necessita e importa e exporta.

Há quem acredite que o armamento nuclear do Norte tem origem parcial ou total na China que admitiria um conflito nuclear por interposto país. Mas, se todos pensarem bem, o nuclear militar não tem qualquer sentido, é quanto muito um conjunto de armas de resposta, pelo que não servem para o ataque e a Coreia do Norte nunca poderia destruir os EUA, podendo suceder o contrário, os americanos podem anular a capacidade nuclear do Norte. Todavia, a arma termonuclear dá um estatuto de potência e importância a qualquer país e regime político. É, no fundo, uma arma diplomática a nível mundial.

Os EUA possuem 6.800 ogivas e 450 mísseis de grande alcance, enquanto a China terá 260 ogivas e 62 mísseis. A diferença numérica não tem sentido e é quase uma igualdade, dado o enorme poder destruição de cada ogiva. Em caso de guerra seria como uma pessoa morrer com duas balas ou com 20.

Por isso, a questão nuclear é secundária e os EUA não entrariam em conflito militar com a China, mas não toleram a ideia de uma guerra nuclear por interposto país, A China é a nação mais gigantesca do Mundo em população e tropa numerosa, cuja conquista não interessa a ninguém como não interessa a ninguém outras conquistas.

Trump ameaçou, mas não se meteu em qualquer conflito militar. Em vez disso, fez aquilo que os chineses não esperavam, desencadeou uma GUERRA COMERCIAL. Há poucas semanas ou dias as alfândegas passar a exigir 25% do valor do aço importado pelos EUA e 10% do alumínio.

Além disso, Trump anunciou que mais de 120 artigos diversos - tidos como cópias de inventos americanos - seriam taxados a valores elevados se não pagarem royalties ou direitos de autor. Estão aí quase todos os telemóveis, computadores e muita coisa mais da Huawei e outras empresas chinesas. Uma verdadeira catástrofe para a China.

Foi instantâneo, a Coreia do Norte deixou imediatamente de lançar os seus perigosos mísseis que passavam por cima do Japão e nunca mais fez explodir qualquer ogiva nuclear de ensaio.

Em vez disso lançou a mão ao presidente Mon Jae da Coreia do Sul com a participação de desportistas do Norte nos Jogos Olímpicos de Inverno e agora com o abraço fraternal na fronteira. Ambos os presidentes defenderam as duas Coreias desnuclearizadas, apesar de muita gente não acreditar que Kim o faça.

Pelo menos pode congelar o desenvolvimento do seu armamento que deveria custar uma fortuna para uma nação com uma área ligeiramente superior à de Portugal e cerca de 24 milhões de habitantes, enquanto a Coreia do Sul tem uma área semelhante e 48 milhões de habitantes e é uma potência económica mundial que produz tudo desde os maiores navios do Mundo aos mais pequenos smartphones de pulso tipo relógio e um grande concorrente da China e do Japão nas suas exportações. Os sul coreanos já vendem mais automóveis na Europa que o Japão.

O PIB per capita da Coreia do Sul é ligeiramente superior ao português (multiplicado por 48 milhões no total), sendo da ordem dos 25 mil dólares, enquanto o do Norte anda pelos 2.500 dólares, mas não “desperdiça” em milhões de automóveis e aparelhagem eletrónica pessoal, exceto televisores que o regime de Kim necessita para comunicar ao minuto com o seu povo.

Kim já convidou Donald Trump a visitar o seu país ou a encontrar-se com ele como fez ao presidente do Sul. Para além da questão comercial que é de importância vital, a China, cujo crescimento está em desaceleração, necessita de uma imensa reconversão industrial para não se afundar numa poluição quase mortal para a sua população.

A Coreia do Norte pretende a saída das tropas americanas da Coreia do Sul, o que não teria qualquer problema dado que o sul possui muita tecnologia e forças armadas muito bem armadas com material moderno não nuclear. Nada que se compare com a situação de 1950 quando o Norte invadiu um Sul quase desarmado. Além de que num improvável conflito, os aliados americanos estariam em poucas horas a lançar os seus mísseis de cruzeiro contra bases e centrais nucleares norte-coreanas.

Curiosamente, a Coreia do Sul nunca defendeu a unificação como fazia a Alemanha Ocidental que cortava relações diplomáticas com todos os países que reconheciam a Alemanha Oriental e sempre defendeu a integração do leste na sua República Federal como veio a acontecer há 28 anos.

Por outro lado, talvez Kim não deva querer ser o líder de um protetorado da China como foi a Coreia durante séculos ou uma segunda Cuba impossibilitada de exportar e importar. Por último, há a questão da mãe do presidente da Coreia do Sul que estava retida no Norte e suponho que tenha tido autorização de se juntar ao filho. A não ser assim, seria tudo uma farsa hipócrita.

Ao contrário da Coreia do Norte, a Alemanha Oriental ou Comunista deixou sair todos os reformados para o Ocidente. Assim, o Estado Oriental Alemão poupava nas reformas e nos cuidados de saúde e espaço habitacional. Já nos anos 50, a RFA já era tão rica que pagava a reforma de todos os idosos vindos do Oriente e cuidados de saúde, lares, etc., mesmo à minha avó quando veio para Portugal nessa década.

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