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sexta-feira, 27 de abril de 2018

Isto não é não jornalismo não é não isto

por estatuadesal

(Por Valupi, in Aspirina B, 27/04/2018)

MCOSTA

«É jornalismo por estar editado, enquadrado e escolhido, expurgado do acessório, gratuito ou privado. Por ser feito por pessoas que acompanham o caso desde o início, jornalistas altamente especializados, que leram tudo o que existe no processo, que já falaram com os envolvidos, que sabem distinguir o trigo do joio, que fazem escolhas, que editam e enquadram. Que fazem reportagem na rua, que fizeram dezenas e dezenas de trabalhos sobre este caso, que têm fontes, que contam histórias.»

«A luta pela liberdade de imprensa e pelo direito à informação nunca acaba. E cruza-se, sempre, com outros direitos, num difícil equilíbrio que está na base de qualquer democracia. O jornalismo não pode abusar das suas prerrogativas, mas tem que ter sempre presente a sua missão principal, que é a de informar.»

Ricardo Costa


O director-geral de Informação da IMPRESA escreveu um texto a justificar os crimes por si cometidos com a publicação de registos audiovisuais de interrogatórios. À mistura com ranger de dentes e mordidelas dadas em quem o denunciou publicamente como o traste profissional que é, conseguiu reunir umas vacuidades para embrulhar a  irresponsabilidade e a soberba.

Na primeira citação, recorre à falácia do argumento de autoridade. “Pessoas que acompanham o caso desde o início”, “jornalistas altamente especializados”, fulanos que isto e aquilo, estabelece, podem cometer crimes que devem ficar impunes. Na segunda citação, declara que a nossa Constituição deve ser anulada perante o exercício “de informar”. Informar o quê e como? Ora, aquilo que os tais indivíduos referidos na citação anterior decidirem quanto ao conteúdo e quanto à forma. Corolário: vivemos numa república de informadores.

Ricardo Costa seguiria o mesmo critério caso os interrogados fossem Balsemão ou amigos e familiares seus? Ricardo Costa publicaria escutas em áudio entre Marcelo e Ricardo Espírito Santo? Ricardo Costa irá tentar sacar as escutas entre Sócrates e António Costa, e quem mais tiver sido apanhado a falar de política ou da vidinha, em nome do óbvio – porque é óbvio – interesse do público em conhecer o que disse o actual primeiro-ministro àquele que o próprio Ricardo Costa considera ser uma ameaça tão grande à democracia que se justifica anular os seus direitos constitucionais?

O Expresso, recordemos, é o tal jornal que recusou publicar as provas de que Cavaco tinha organizado uma golpada mediática para perverter as eleições legislativas de 2009, a pícara “Inventona das Escutas”. A IMPRESA, pois, não pode ser acusada de falta de critérios jornalísticos. Dá-se é o caso de terem tantos que se podem dar ao luxo de irem usando um de cada vez ao sabor dos ventos e das correntes.

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