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domingo, 1 de abril de 2018

Centros do mundo

Entre as brumas da memória


Posted: 31 Mar 2018 01:31 AM PDT

Quando cheguei a Paris pela primeira vez, no fim da década de 50, não duvidei de que estava no centro do mundo. Ida de uma Lisboa aferrolhada, a beleza e a força da cidade, o encontro com a pátria cultural que já então era a sede dos meus sonhos de liberdade, tudo convergiu para me maravilhar.

Mais tarde, bem mais tarde, os tempos tinham mudado e, com alguma pena minha, Nova Iorque impôs-se e destronou Paris.

E assim cheguei ao século XXI, em que tenho viajado muito por todos os continentes. Que seria, que está a ser, um século asiático, tornou-se uma convicção mais do que trivial. Que reencontraria a China como a entrevi agora, sobretudo em Pequim (ainda não voltei a Xangai), foi um verdadeiro murro no estômago: nunca vi nada que, de longe ou de perto, se parecesse com uma tal demonstração urgente de poder, de força, de organização. Feliz e optimista com esta realidade? Claro que não, sabendo nós o que está subjacente e que não se vê, sem ponta de democracia no horizonte. Tudo isto pode implodir? Sim, mas nada leva a crer que aconteça, pelo menos tão cedo, estando o resto do planeta como está. O centro é agora aqui e já estende os seus tentáculos pelo mundo inteiro.

Por tudo isto, regresso a casa com uma ideia que não me sai da cabeça: preparemos os nossos filhos e os nossos netos para aprenderem a viver em sociedades pós-democráticas, porque é bem provável que elas sejam uma realidade por aí, talvez mais depressa do que possamos imaginar. Pessimismo? Olhem que não…

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