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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Língua Portuguesa: 7 vezes em que a sua professora lhe ensinou coisas erradas

Novo artigo em VortexMag


por admin

Não, não estamos a afirmar que a sua professora de português era uma grande mentirosa, nem que estava completamente errada. Estamos apenas a dizer que, muitas vezes, de forma a simplificar a informação transmitida, são cometidas incorrecções, contribuindo para a criação de verdadeiros mitos gramaticais. A criação de regras é ainda mais acentuada devido à tendência generalizada que existe entre os estudantes de decorar regras. Mais importante, contudo, do que decorar regras, é entender o funcionamento e a estrutura da língua e saber aplicar as regras nos diversos contextos, sendo feita uma análise e reflexão sobre a língua em uso.

Incorrecção 1: Há sempre crase antes da indicação exacta e determinada de horas

Esta regra é usada para indicar que as seguintes construções frásicas são escritas com crase (à ou às):

  • Eu saio para o trabalho todos os dias às sete da manhã.
  • O fogo de artifício começará à meia-noite.
  • Chegaremos ao aeroporto às 18h.

Apesar disso, é possível o uso de as, sem acento grave, em construções que indiquem intervalos exatos de horas:

  • Você ficou as nove horas em jejum, conforme pedido pelo médico?
  • Ele acabou por esperar as cinco horas previstas pela recepcionista das urgências do hospital.
Incorrecção 2: Não se usa crase antes de pronomes

O mais usual é, efectivamente, a inexistência de crase antes de pronomes, porque há apenas a presença da preposição a, não sendo usado o artigo definido a antes de pronomes. Apesar disso, é possível que ocorra crase antes de diversos pronomes, em situações já previstas na gramática:

  • Você entregou todos os papéis à senhora?
  • Você entregou todos os papéis à própria senhora?
  • Você entregou todos os papéis à mesma senhora?
  • Você entregou todos os papéis àquela senhora?

É também possível o uso do acento grave antes de pronomes quando existem termos que se encontram omitidos:

  • Comprei uma blusa igual à que você usou ontem.
  • Passei por uma depressão similar à que você passou.

Atenção!O uso da crase antes de pronomes possessivos femininos é facultativo:

  • Dei o colar a minha mãe.
  • Dei o colar à minha mãe.
Incorrecção 3: Um ditongo é o encontro de duas vogais na mesma sílaba

Na realidade, nunca ocorre o encontro de duas vogais na mesma sílaba. Um ditongo é o encontro de uma vogal e de uma semivogal na mesma sílaba. A vogal actua como o núcleo da sílaba, sendo pronunciada de forma mais forte e nítida. A semivogal é pronunciada de forma mais fraca e menos nítida, apenas acompanhando a vogal.

Nos ditongos crescentes, a semivogal está posicionada antes da vogal.

  • goela (o=semivogal, e=vogal)
  • quase (u=semivogal, a=vogal)

Nos ditongos decrescentes, a semivogal está posicionada depois da vogal.

  • caixa (a=vogal, i=semivogal)
  • flauta (a=vogal, u=semivogal)
Incorrecção 4: Nunca se separam os ditongos na divisão silábica

Embora esta regra englobe a maioria das palavras com ditongos, não há consenso entre os estudiosos da língua portuguesa relativamente às palavras terminadas em -ea, -eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo.

Essas palavras são, tradicionalmente, paroxítonas terminadas em ditongo crescente. Logo, o encontro vocálico mantém-se na mesma sílaba:

  • água (á-gua)
  • génio (gé-nio)
  • ânsia (ân-sia)

Apesar disso, devido à flexibilidade na pronúncia do ditongo, essas palavras podem ser também classificadas como proparoxítonas aparentes, sendo o ditongo convertido para hiato e ficando em sílabas separadas na divisão silábica:

  • água (á-gu-a)
  • génio (gé-ni-o)
  • ânsia (ân-si-a)

No actual acordo ortográfico, essas palavras foram categorizadas como palavra proparoxítonas, terminadas em hiatos.

Incorrecção 5: Não se usa vírgula antes da conjunção e

Embora não se use habitualmente a vírgula antes da conjunção e em enumerações, é possível o uso da vírgula antes dessa conjunção em diversas situações:

  • Quando a conjunção e tem um valor diferente de uma conjunção aditiva: O meu filho estudou durante dias, e mesmo assim não passou na prova.
  • Quando o uso da conjunção e tem como objectivo um efeito enfático: Ele disse, e fez, e desfez, e refez, e se contrariou, e repetiu tudo outra vez!
  • Quando orações coordenadas possuem sujeitos distintos, sendo marcadas por uma pausa: Eu é que fui assaltada, e ele é que ficou traumatizado.
Incorrecção 6: Não se pode iniciar uma frase com a conjunção mas e com a conjunção e

O uso da conjunção mas e da conjunção e no início das frases é, habitualmente, desaconselhado por terem uma marcada função de conectores, ou seja, de elementos de ligação entre termos ou orações.

Apesar disso, podem ser usados no início das frases em diversas situações, principalmente com finalidades literárias e expressivas, dando ênfase ao enunciado e simplificando o discurso. Esse recurso é utilizado por muitos autores de renome.

  • Mas como é que isso foi acontecer? Alguém viu alguma coisa?
  • Sozinha, a Maria fez os salgadinhos, os docinhos e o bolo. E ainda fez todos os enfeites da festa!
Incorrecção 7: Não devem ser usadas construções frásicas com dupla negação

Embora seja frequentemente dito que a dupla negação deve ser evitada porque transmite uma ideia afirmativa, isso não é correcto. A dupla negação reforça o sentido negativo da frase. É uma construção sintaticamente correta, sendo muito usada na linguagem oral.

  • Não foi nada! Está tudo bem!
  • Ela não me pediu nada.

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