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terça-feira, 10 de abril de 2018

O dia da raça é quando o homem quiser

Novo artigo em BLASFÉMIAS


por vitorcunha

tupperwareparty

Uma das coisas que mais me irrita – e hoje vou escrever sobre irritações, quem não gostar pode parar já aqui – é a conversa sobre pureza da raça. Quando este assunto é abordado pelo ponto de vista de raças humanas, fujo de imediato: pela parte que me toca só consigo reconhecer duas raças, a dos comprovadamente parvos e a dos que são só assim-assim. Contudo, o tema racial é frequentemente abordado noutros contextos, todos decorrentes da abrangência do verbo “ser”.

Eu sou liberal.
Tu és comunista.
Ela é conservadora.
Nós somos socialistas.
Vós sóis burros.
Eles são eleitores do Costa.

No plano das ideias, principalmente as ideias recauchutadas, a questão racial chateia-me, e não é pouco (sou uma pessoa sensível). O passatempo nacional da urbanidade, o que consiste, além da queixas contra turistas, na distinção da pureza das tribos das raças socialista, comunista, liberal, conservadora e outras anda a maçar-me profundamente, principalmente porque a esquerda já se deixou disso nos idos dos anos setenta, optando, ao invés, por cordões sanitários ideológicos que só foram postos em causa nas últimas eleições por um indivíduo que não se importou de se sujar para ficar como o Napoleão do chiqueiro. Cada um faz pela vida como pode, pelo que nem sequer é uma crítica, é mera característica.

Vai daí, como não me apetece repetir discursos do Álvaro Cunhal sobre o verdadeiro socialismo, tampouco me importa decidir se os novos partidos liberais são mais ou menos socialistas e, muito menos, entrar pela teoria dos conservadores contemporâneos serem os inimigos do eixo socialista-liberal para o progresso. Não digo que não entre numa ou noutra picardia de Facebook, porque, afinal, sou um gajo moderno, dos que entram em picardias inconsequentes de Facebook (é mais aconselhável do que ir abrir gabardinas à porta da escola), mas, mesmo assim, para ir à missa, prefiro a do conceito puramente religioso, a que sobreviveu centenas de anos, em detrimento desta missa progressista, quer a que vem dos auto-denominados liberais (“eu sou liberal”, “eu é que sou o presidente da junta”), quer a que vem dos socialistas (“eu sou de esquerda”). Admito que nem sempre os distingo, o que parece ser o propósito para quem quiser submeter-se ao regime. É que gente que não descansa enquanto não impõe a sua revolução racial interessa-me tanto como um glaucoma. Reaccionário? Soa-me bem.

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