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terça-feira, 8 de maio de 2018

Entre as brumas da memória


Sabemos que somos burros

Posted: 08 May 2018 01:12 PM PDT

… mas só eu é que acho isto uma ofensa, num país com 12 anos de escolaridade obrigatória?

Já agora, podiam pôr na factura 5000 desenhos de garrafas de litro. Ainda era mais fácil.

(Expresso diário de 08.05.2018)

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Dica (757)

Posted: 08 May 2018 10:09 AM PDT

Debt, Underemployment, and Capitalism: The Rise of Twenty-First-Century Serfdom (Cherise Charleswell e Colin JenkinsI)

«Systemic contradictions of capitalism have only intensified in the neoliberal era. Structural unemployment, a phenomenon directly related to capitalist modes of production, has continued unabated, creating a massive and ever-growing "reserve army of labor" that has been disenfranchised on an unprecedented scale. (…)

The twentieth-century liberal experiment has failed, bringing down with it the delusional hopes of constructing a manageable and benevolent form of capitalism. The ripple effects of capitalism's structural failures, intensified by modern forms of government-facilitated debt slavery, job markets that can no longer keep pace with wage demands, and interrelated housing insecurity and displacement, have pushed us into a twenty-first-century serfdom. We are left wondering how long this balancing act can last.»

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Quem manda na sombra

Posted: 08 May 2018 06:26 AM PDT

«É uma pedra no sapato do Banco de Portugal. A empresa de investimentos BlackRock faz parte de um consórcio da mais alta finança mundial que ameaça boicotar o país por conta da transferência de 2000 milhões de euros de dívida que vinha do antigo BES e que passou do Novo Banco para o "banco mau". Mas, como relata o jornalista Paulo Pena em dois artigos recentes no "Público", esta não é a única ligação do BlackRock ao banco de Ricardo Salgado e à economia portuguesa. (…)
Não é um banco, nem está obrigado às regras de regulação e supervisão do sistema bancário. Mas gere, sozinho, 5,2 milhões de milhões de euros, ou seja, 26 vezes o PIB português. Seja por sua conta ou por conta da gestão de dinheiro de clientes, a BlackRock detém participações em 17 mil das maiores empresas mundiais.»


Mariana Mortágua

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O charme discreto da presunção da inocência

Posted: 08 May 2018 02:34 AM PDT

«Foi em Março, mas podia ter sido ou poderá ser num qualquer mês dos últimos anos ou dos vindouros. Tinha vários jornais comigo e num deles li o obituário da atriz Stéphane Audran. Nesse dia, já tinha lido outras coisas, entre elas várias notícias e opiniões sobre casos de justiça, e numa ou noutra questionava-se como é que alguém suspeito de qualquer coisa ainda estava numa certa função. Li e passei adiante, mas ao ler o obituário da atriz lembrei-me de um dos filmes que ela protagonizou e de como a presunção da inocência é entre nós - pelo menos fora dos tribunais, um dia direi como é lá dentro - como o jantar daquele mesmo filme: um jantar esperado, desejado e celebrado, mas que não acontece. Os mais cinéfilos já perceberam que me refiro ao filme de Luis Buñuel "O Charme Discreto da Burguesia".

A presunção da inocência, pura e simplesmente, não existe na esfera pública. Talvez nunca tenha realmente existido, talvez sempre tenha sido, apenas e só, um desejo e um comando do legislador para que se ficcionasse a sua existência (como escrevi num livrinho há quase já vinte anos). Mas, até certo ponto da nossa História, esse comando era mais ou menos cumprido na esfera pública, como se fosse uma convenção de boas maneiras. No seu íntimo, cada qual presumia (ou tinha mesmo a certeza) do que lhe parecia, mas havia um certo cuidado no discurso e nas manifestações públicas, sobretudo de quem tinha mais responsabilidades (de autoridade, formativas, informativas ou outras). Era, por exemplo, como aquelas convenções sobre o que pode ou não fazer à mesa, sobretudo na presença de visitas. Até porque a presunção da inocência sempre é uma coisa importante, até está na Constituição, e eu até arriscaria dizer (mesmo que, para além das suspeitas do costume, fiquem a olhar para mim como se fosse um espécime de museu de História Natural) que é uma trave mestra do Estado de Direito.

Mas tudo isso acabou, está morto e enterrado. Como ao grupo de convivas do filme de Buñuel, tudo correu mal à presunção da inocência na esfera pública, e quem se atreve a invocar esse comandozinho constitucional ou é parvo ou então é logo suspeito de péssimas intenções e ainda piores interesses e agendas. Às vezes, há quem, ao mesmo tempo que discorre sobre a profunda culpa de alguém que ainda não foi julgado (ou sequer acusado), diz com ares de cuidado: "Mas atenção, há a presunção de inocência, eu não sei, veremos." E eu, quando ouço isso, lembro-me logo das crianças e dos adultos descuidados que, depois de serem surpreendidos por um flato embaraçoso, tossem para disfarçar.

Assumamos as coisas como elas são, e marchemos para o velório da presunção da inocência. Desde que certos processos, por tantas razões (que justificam uma biblioteca), se tornaram tema de interesse primordial e, ao mesmo tempo, tema de espetáculo quotidiano, qualquer crença de que a presunção da inocência pode ter lugar ou vida no espaço público é pura ilusão. E não venham já as carpideiras habituais e os guardiões da moral republicana de almanaque acusar-me de interesses e propósitos obscuros, até porque não estou ainda (aqui) a valorar o fenómeno, muito menos a querer colocar travão à discussão ou ao escrutínio público das coisas. Estou, agora e aqui, apenas a constatar e a dizer o óbvio - um óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Acreditar hoje na presunção da inocência em processos que estão no espaço público é como acreditar no Pai Natal. E, por favor, não tussam para disfarçar.»

Rui Patrício

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