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terça-feira, 22 de maio de 2018

Ladrões de Bicicletas


António Arnaut

Posted: 21 May 2018 07:22 AM PDT

«De facto, para quem nasceu há setenta e oito anos numa pobre aldeia do concelho de Penela, chamada Cumieira pela sua localização no cimo de um pequeno monte, que nunca aspirou a ser montanha, estava longe de sonhar com este agora que me acontece. Naquele tempo, as pessoas comiam o pão duro dos dias sem sol, viviam à míngua e morriam, em regra, sem assistência médica. Foi essa paisagem humana de sofrimento e resignação que, sem metáfora nem retórica, despertou em mim o inconformismo activo perante as injustiças evitáveis e me fez um cidadão comprometido com o Povo e a Pátria. Anos mais tarde escrevi num livro meu: "Não me conformo com as pequenas injustiças. Aceito as grandes, porque são inevitáveis, como as catástrofes, e atestam a impotência dos deuses. Aquela criança, descalça, apenas precisava de uns sapatos. Se tivesse nascido sem pés, não era tão grande a minha revolta". Creio que foi esta rebeldia, e também a minha intervenção cívico-social, para ajudar, embora modestamente, a construir uma sociedade mais livre, justa e solidária, que justificaram a alta distinção que me vai ser conferida. A criação do Serviço Nacional de Saúde, trave-mestra do Estado Social, iniciada no segundo governo de Mário Soares e concluída com a publicação da Lei 56/79, de 15 de Setembro, deve ter pesado nessa magnânima decisão. Sendo assim, é meu dever recordar intimamente todos os que ajudaram a concretizar essa grande reforma de Abril e os que têm lutado para não deixar apagar a luz de esperança que então se acendeu e que ainda bruxuleia no horizonte nublado de Portugal.»
Da alocução de António Arnaut (1936-2018) na sessão do seu Doutoramento Honoris Causa, pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, a 29 de maio de 2014.

Estão por todo o lado

Posted: 21 May 2018 07:02 AM PDT

Abre-se o Negócios em papel de hoje e pode ler-se o presidente da BP Portugal a afiançar que existem “tiques de populismo no gás de garrafa” ou Fernando Sobral a garantir que “Bruno de Carvalho está a criar o primeiro movimento populista em Portugal”. Enfim, do gás de garrafa ao futebol, o populismo está por todo o lado e logo parece não estar em lado nenhum. O termo é hoje convencionalmente usado e abusado para descrever qualquer fenómeno, real ou imaginário, de que o seu utilizador não goste.
Obviamente, existem lógicas populistas que podem ser descritas e avaliadas com o rigor possível nestas coisas da política e da economia política, onde factos e valores estão sempre entrelaçados. Pela minha parte, tenho defendido que populismos há muitos, dos bons e dos maus. Fi-lo uma vez mais no primeiro número da nova edição da revista Manifesto. Não sou original, naturalmente.
Por exemplo, na economia convencional Dani Rodrik, que aí refiro, tem ensaiado uma rara economia dos populismos ligada às crises geradas pela globalização. Numa crónica já com alguns meses, mas de que só tomei conhecimento agora, questiona-se sobre os contornos de um “verdadeiro populismo” e chega à conclusão já relativamente batida, mas que vale a pena lembrar, de que o New Deal foi o culminar histórico, nos EUA, de uma tradição populista na economia a resgatar, tratando-se do “bom populismo que contém o mau”.
O espectro do populismo, que pode assustar verdadeiramente certas elites, procurando exorcizá-lo preventivamente, através de associações espúrias, é precisamente o que pode operar mudanças na economia política, de modo a transferir recursos em sentido contrário ao que tem sido dominante: em vez de fluírem de baixo para cima, fluíriam de cima para baixo. Para isso, o medo tem mesmo de ser transferido de baixo para cima.

Neoliberalismo: História, Teoria, Economia

Posted: 21 May 2018 05:19 AM PDT

Empregue com alguma frequência no âmbito do combate político, o termo ‘Neoliberalismo’ presta-se a vários equívocos. Desde logo, o seu uso comum aponta tanto à descrição de um determinado estado de coisas – fazendo-o funcionar enquanto ferramenta de periodização histórica – como à identificação de um posicionamento favorável à concorrência e à iniciativa privada – reduzindo-o a uma mera apologia da desigualdade. No entanto, diversas investigações no âmbito das ciências sociais têm sustentado a necessidade de estudar o Neoliberalismo enquanto um objecto historicamente situável, dando conta da complexidade e variedade de ideias, propostas e discursos que lhe deram forma. Este seminário abordará o Neoliberalismo de uma perspectiva transdisciplinar, reunindo investigadores/as que se têm dedicado ao estudo de problemas relacionados com as oscilações ao nível do pensamento económico, o funcionamento do Banco de Portugal, os debates sobre a história do capitalismo ou a desindustrialização. Cada apresentação terá a duração aproximada de trinta minutos, seguida por um comentário breve por parte de outra/o investigador/a. A frequência desta sessão de trabalho é aberta a todas e todos os/as interessados/as.
Programa
10h00 | Era uma vez em Setúbal: notas críticas sobre o conceito de «desindustrialização» — João Santos (IHC – NOVA FCSH) Comentário de Luís Trindade (IHC – NOVA FCSH)
11h30 | O Banco de Portugal, a disseminação de ideias económicas e o neoliberalismo — Ana Costa (DINÂMIA’CET-IUL) Comentário de Paulo Coimbra (CES – Universidade de Coimbra)
14H30 | O Neoliberalismo e os Historiadores — Ricardo Noronha (IHC – NOVA FCSH) Comentário de Paula Borges Santos (IHC – NOVA FCSH)
16H00 | Nova Economia, Economia Neoliberal? — João Rodrigues (CES – Universidade de Coimbra) Comentário de Luís Aguiar Santos (GHES-CSG, ISEG-ULisboa)
Consulte aqui outros detalhes do evento.

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