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domingo, 10 de junho de 2018

BASTA EURO

por estatuadesal

(Dieter, Dellinger, 10/06/2018)

Itália_euro

Enquanto os militantes do partido da extrema direita italiana Lego festejavam o acordo de governo firmado com o Movimento 5 Estrelas (M5S), uns operários subiam a umas escadas e começavam a pintar de branco as enormes letras negras das palavras “Basta Euro” na fachada da sede na Via Bellerio em Milão. Antes mesmo dos entusiastas esvaziarem todas as garrafas de Proseco, já as duas palavras tinham desaparecido como se nunca tivessem existido. Daí que a bolsa de Milão tenha subido e ninguém se afligiu com uma agora improvável saída da Itália do Euro.

O professor de economia de 81 anos Paolo Savona, indigitado para Ministro das Finanças e da saída do Euro, foi recusado pelo presidente Matarela e passou para ministro das Relações com a União Europeia. Para o seu lugar vai Giovani Tria, o homem que não diz que a Itália quer abandonar o Euro, mas que a Alemanha é que deve sair como se algum país pudesse expulsar outro da zona Euro ou da União.

Na União Europeia, a realidade é que se fazem campanhas eleitorais e elaboram-se programas e antes mesmo de se formar um novo governo, já está Bruxelas influenciada por Berlim a pôr e dispor.

Vivemos o início de uma época muito especial em que até professores políticos querem iniciar uma nova carreira aos 81 anos como faz Paolo Savona que subiu no populismo com frases certas sim, mas …., como esta: “O Euro é um colete de forças de fabrico alemão, Desde o fim do nazismo que Berlim não alterou a sua visão da Europa. A pertença à Zona Euro contém em si um fascismo sem ditadura e, em termos económicos, é um nazismo sem militarismo”.

Os dois líderes partidários que mandam na Itália, Matteo Salvini do Lega (ex-Lega Norte) e Di Maio do Movimento 5 Estrelas não se entenderam quanto a quem deveria ser primeiro ministro, pelo que foi indigitado o ex-juiz e professor de Direito Privado (Família) sem qualquer experiência política ou administrativa, Guiseppe Conte. No fundo, o governo estará nas mãos de um triunvirato. Será o 67. Governo Constitucional italiano nos últimos 70 anos, o que não impediu que o país seja a 3ª Economia da Europa e um potentado industrial, se bem que em crise como está toda a gente no Mundo com mais ou menos disfarces.

O maior problema italiano é o da sua dívida pública de 2.386.000 de milhões de euros (132% do Pib), ou seja, em valor mais de 10 vezes a dívida portuguesa apesar de só ter 6 vezes a população lusa, 60 milhões de residentes mais uns crescentes “clandestinis” que chegam quase todos os dias ao sul da Itália e muitos até trazidos pelo patrulha português “Viana do Castelo” que anda por lá a pescar centenas ou milhares de emigrantes africanos em vias de se afogarem quando os botes de borracha sobrecarregados de gente estão a rebentar.

Cerca de 48% da dívida italiana está na posse de italianos, sejam bancos, seguradoras, instituições de solidariedade, fundos de reserva para pensões ou aforradores individuais, pelo que um corte brutal teria graves consequências internas. Ninguém gosta de perder o seu dinheiro ou as reformas, apoios sociais, indemnizações de seguros, etc. Outros 20% não contam porque estão no Banco de Itália para onde foram no âmbito do Programa de Alívio Financeiro inventado por Draghi e Constâncio. Em Portugal este segundo nome é sempre esquecido quando na qualidade vice-presidente do BCE participa em toda a sua atividade numa perfeita sintonia com o presidente Draghi. Nunca o BCE foi dirigido por duas personalidades tão amigas e com a mesma vontade de resolver o problema do endividamento dos países do Euro e já tanto fizeram. Em termos de solidariedade nunca o BCE tinha feito algo.

Na Europa ninguém se preocupa com esses emigrantes e já não os refugiados sírios, tendo a Itália que suportar o encargo aos mesmo tempo que começa a ser castigada por não ser mais eficiente na austeridade orçamental, apesar do seu défice ser de apenas 2,3%.

Segundo as promessas dos populistas, as despesas estatais devem aumentar em vários setores, tendo Bruxelas calculado que isso faria subir o défice italiano para 7%.

O que levou os italianos a votarem nos partidos populistas foi em grande parte a promessa de levarem os “clandestinis” para as costas africanas, Tunísia e Líbia, pois o país tem uma taxa global de desemprego de 11%, mas há duas Itálias, o Sul e o Mezzogiorno com 19% de desemprego e um Pib per capita de 18.600 Euros e o Norte com cerca de 9% de desemprego e um Pib de 34.000 Euros.

Os jornais italianos e europeus fazem muita troça do governo populista com o partido mais votado, o M5S, fundado por um palhaço que concorreu pela primeira vez a eleições a título de palhaço com o lema “pior que eles não posso ser”.

O “Il Manifesto” chama à Itália “Populandia”, enquanto o “Il Foglio” escreve “assim nasceu a terceira República sob os risos de todo o Mundo” e o “Financial Times” diz: “Roma abre as portas aos bárbaros modernos”. O “Der Spiegel” intitula o seu artigo sobre a Itália “um fósforo a arder” e no número seguinte coloca na capa “Ciao amore!” – A Itália destrói-se a si mesma – e arrasta a Europa consigo”.

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