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terça-feira, 26 de junho de 2018

Entre as brumas da memória


A geringonça acabou e quem perde é Costa

Posted: 26 Jun 2018 01:31 PM PDT

Daniel Oliveira no Expresso diário de 26.06.2018:

«Na semana passada, esquerda e direita juntaram-se em torno da redução dos combustíveis. Não debaterei aqui a medida propriamente dita, de que discordo (não me parece que perante o estrangulamento dos serviços públicos esta seja a prioridade) e sobre a qual tenho todas as dúvidas constitucionais, pelo menos em relação ao projeto do CDS. Mas interessa-me o significado político desta aprovação. A lealdade tem dois sentidos. E se o PS negoceia a precariedade com o BE e depois quer aprovar um resultado bem diferente com o PSD, é normal que não espere comportamento diferente dos seus parceiros. Se as alianças do PS passaram a ser de geometria variável isso não tem só vantagens. Não aumenta apenas as possibilidades de alianças suas, aumenta as possibilidades de maiorias contra si.

Perante o aumento do período experimental para seis meses, sem qualquer limite na repetição de experiências, o Bloco sentiu-se traído naquilo que considera ser uma nova brecha por onde tudo passa, como foram os recibos verdes. Uma brecha que desvirtua o acordo negociado com o Governo. E sente-se traído porque só soube desse “pormaior” na véspera do acordo de concertação social.

António Costa teve oportunidade de corrigir a deslealdade e resistiu. Ao que parece, várias vozes no grupo parlamentar do Partido Socialista apelaram ao óbvio: que se acrescentasse, no que foi acordado com os parceiros sociais, uma norma que impedisse a utilização abusiva do período experimental. Se os patrões assinaram o acordo de boa-fé não terão nada contra isto. Mas do Governo, a mensagem foi a de que não se devia tocar no que foi acordado no Conselho Económico e Social. Só que desta vez aconteceu uma coisa inesperada: Carlos César atravessou-se e disse que depois da “concertação social” chegou o momento da “concertação parlamentar”. Explicou que ainda é a Assembleia da República que aprova leis e que o Governo ainda depende de uma maioria parlamentar.

A estratégia de António Costa é óbvia: julgando que tem o eleitorado de esquerda no bolso e sabendo que o PSD está com dificuldades de liderança, está a tentar pescar votos à direita. Os eleitores não têm noção destas minudências. Mas sentem um clima político bem diferente do primeiro ano da geringonça. O problema do taticismo é sempre uma questão de grau. Em falta é ingenuidade, em excesso é falta de rumo. E o excesso de taticismo de António Costa é cada vez mais evidente.

O erro de Costa é pensar que algum voto está garantido. A verdade é que o fascínio dos eleitores de esquerda por Costa resulta, sempre resultou, mais do que da suas posições políticas, da facilidade de diálogo que mostrou ter à esquerda. E da escolha inédita que fez em 2015. Paradoxalmente, Costa conquista votos aos partidos mais à esquerda quando os trata bem. Quando os desrespeita perde simpatia destes eleitores.

A economia não está pior, não houve (por agora) incêndios. No entanto, o PS está a cair nas sondagens e a maioria absoluta é cada vez mais improvável. Não é por causa da lei laboral, dos combustíveis ou das picardias com o BE e o PCP. É porque se está a perder a sensação de que Costa lidera uma coisa diferente. É evidente que a geringonça acabou. E sem a geringonça António Costa é só António Costa. Não tem nada de novo. Não tem nada de esperança. Se não arrepiar caminho, vai descobri-lo nas próximas legislativas. Até porque, ao contrário de Passos Coelho, Rui Rio não assusta o eleitorado de esquerda. Não chega para fazer renascer o voto útil que o próprio Costa se encarregou de matar.»

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Salvador Allende nasceu num 26 de Junho

Posted: 26 Jun 2018 09:37 AM PDT

... há 110 anos, em Valparaíso, no Chile. Afirmou, bem antes de 11 de Setembro de 1973, que estava a cumprir um mandato dado pelo povo e que só sairia do palácio depois de o cumprir. Ou que o faria «com os pés para diante, num pijama de madeira». Assim aconteceu. Sabe-se agora que se suicidou durante o ataque ao Palácio de la Moneda, em Santiago do Chile.

O seu último discurso:

E o que Luis Sepúlveda escreveu hoje no Facebook:
«El mayor honor que me ha deparado la vida fue conocerlo, estar cerca de un gran líder, de un hombre que trascendía por su claridad, inteligencia y valor. (…) Honor y Gloria para un Hombre digno. El Compañero Presidente.»
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Argélia abandona migrantes no deserto do Sahara

Posted: 26 Jun 2018 06:14 AM PDT

«Mais de 13 mil migrantes foram abandonados no deserto do Sara pelas autoridades argelinas, nos últimos 14 meses. Debaixo de temperaturas que rondam os 50 graus centígrados, militares obrigam as pessoas a andar, sem direito a água, nem comida, São empurrados para fora do país em direção ao Niger, por um caminho de 15 quilómetros, onde nem todos chegam até ao fim. (…)

As deportações massivas da Argélia começaram a aumentar desde outubro de 2017, quando a União Europeia pressionou os países do Norte de África para impedirem os migrantes de chegarem ao Mediterrâneo. Ao contário do Níger, a Argélia não recebeu qualquer apoio financeiro do grupo comunitário para gerir a atual crise migartória, apesar de, entre 2014 e 2017, ter recebido cerca de 95 milhões de euros da União Europeia em ajuda humanitária. (…)

A Organização Internacional para as Migração estima que por cada vida perdida no Mediterrâneo haja dois migrantes que ficaram no deserto. No Saara, desde 2014, poderão já ter morrido mais de 30 mil pessoas.»

Daqui.

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A confusão táctica

Posted: 26 Jun 2018 03:25 AM PDT

«Em certos momentos, o PSD parece a equipa de futebol da Argentina: é uma enorme confusão táctica. Ninguém se entende: todos jogam para Messi e este, quando está amuado, esquece-se de driblar e rematar.

O resultado é um tango trágico: ninguém sabe o que está ali a fazer. Nem o treinador, nem mesmo Maradona. No PSD, há uma guerra civil silenciosa, que de vez em quando se assemelha a um vulcão adormecido: começa a deitar lava e deixa um rasto de fumo tóxico. Ninguém duvida de que os tambores da guerra continuarão a soar até próximo das legislativas e terão o seu expoente quando se discutir a sério o OE de 2019. Rui Rio e a maioria do grupo parlamentar estão em trincheiras opostas: qualquer trégua é apenas temporária. Os deputados sabem que, se Rio aguentar até às legislativas, eles dificilmente voltarão a fazer parte das listas. Algo que, como se sabe, poderá ser doloroso para o povo português. Como reagirão os portugueses, depois de Tony Carreira ter deixado de ser um herói absoluto, se perderem um barítono como Carlos Abreu Amorim? Será uma comoção nacional.

Rui Rio tem vindo a apostar numa estratégia de desgaste. Os resultados nas sondagens não são maus e isso conforta-o. Pode não apresentar grandes, médias ou pequenas ideias para o país, para lá da "teoria dos consensos" (que valem zero), mas aguenta-se. Isso permite-lhe mandar mensagens cifradas para Fernando Negrão, que segundo consta lidera a bancada do PSD, por causa do voto a favor do projecto do CDS para diminuir o imposto sobre os combustíveis. Porque isso diminuirá a receita fiscal. Rio sabe que este é um país onde o Governo é uma espécie de CEO dos impostos: sem eles, afoga-se; com eles, pode fazer alguns truques de magia para iludir os eleitores. Quando o segundo escalão de maiores rendimentos de IRS (os "quase ricos") começa perto dos 36 mil euros, isso diz muito sobre a indigência nacional quando nos comparamos com a Europa. O problema é que o pântano onde caminha o PSD é idêntico àquele que Portugal calcorreia.»

Fernando Sobral

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