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segunda-feira, 25 de junho de 2018

Erdogan reeleito presidente no meio dos protestos da oposição, para nova era de poder reforçado

António Freitas de Sousa

07:50

Presidente turco conseguiu a presidencialização do regime, que deixa de ter primeiro-ministro. Oposição queixa-se de manipulação por parte da agência noticiosa estatal.

Recep Tayyip Erdogan, líder de facto da Turquia desde 2002, foi reeleito este domingo com quase 53% dos votos, numa altura em que estavam contadas 95% das mesas do país, de acordo com a agência de notícias estatal Anatolia. Terá, agora, ainda mais poderes, depois da decisão de presidencialização do regime, que acaba com a figura do primeiro-ministro.

Numa jornada de eleições duplas em que para além do presidente foi também eleito um novo parlamento, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP, de Erdogan) aproximou-se de uma maioria absoluta, com 44% dos votos, a que se somam os 11% do Partido do Movimento Nacionalista (MHP), que estabeleceram uma coligação que já antes tinha a maioria absoluta no parlamento.

Segundo a Anatolia, o AKP conseguiu uma grande hegemonia territorial, apenas quebrada nos sítios do costume: o sudeste do país, onde o Partido Democrata pró-curdo dos Povos (HDP) fortaleceu a sua posição e conseguiu superar a barreira de 10%, o que dá acesso ao parlamento; e a costa do Mediterrâneo e a Trácia, onde o Partido Republicano do Povo (CHP, social-democrata e secular) manteve uma forte presença.

Erdogan mostrou mais uma vez que ainda não há alguém capaz de derrotá-lo nas urnas, apesar da difícil situação económica da Turquia, marcada pela desvalorização da lira em relação ao dólar e ao euro e por uma inflação de dois dígitos. O presidente ficará à frente do país pelo menos até 2023, ano do centenário de fundação da Turquia moderna (que substituiu o império Otomano) por Mustafa Kemal Atatürk.

Erdogan superou em muito os 50% dos votos que garantem a reeleição direta sem arriscar uma segunda volta, enquanto o líder de centro-esquerda, Muharrem Inge, poderá ter chegado aos 30%. A conservadora nacionalista Meral Akserner, que rompeu com o MHP para criar o Partido do Bem, atingiu os 7%, mais ou menos o mesmo que o líder curdo Selahettin Demirtas, que disputou a corrida eleitoral da prisão onde se encontra encarcerado.

Entretanto, segundo as agências internacionais, a oposição turca recusou-se a reconhecer desde já os resultados avançados pela Anatolia, considerando que são “manipulação do governo”. Muharrem Inge pediu mesmo aos seus apoiantes que “não abandonem a vigilância”, para evitar possíveis fraudes.

Meral Aksener, a primeira mulher a concorrer à presidência turca, que obteve menos votos do que o porevisto, reagiu mais ou menos da mesma forma: “não vamos deixar as urnas! Devemos protegê-las das tentativas manipuladoras da agência Anatolia”, disse.

O porta-voz do AKP, Mahir Unal, descreveu como “inaceitáveis” os “ataques e ameaças às instituições nacionais, especialmente à agência estatal de notícias”, e que “o Ministério do Interior confirmou que tivemos um dos processos eleitorais mais seguros” de sempre.

A participação nas eleições, ainda segundo a agência estatal, foi da ordem dos 92%.

Se tudo correr como o esperado, deixa a partir deste domingo de haver a figura do primeiro-ministro. Para além disso, o governo que agora será formado pelo presidente não tem de incorporar personalidades saídas dos partidos ou do parlamento, o que lhe confere um cariz completamente independente do que acontece nas eleições. O próprio governo poderá também governar por decreto, o que quer dizer que não terá propriamente que se cingir aos equilíbrios parlamentares.

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