3/6/2018, 21:56132
Há acordo PS/PSD nos fundos estruturais, na descentralização e até em em matéria laboral. Mas a crítica a Rui Rio, diz o comentador, deve apontar à falta de ideias próprias do líder do PSD.
JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR
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Marques Mendes não acompanha as críticas à posição favorável de Rui Rio à descriminalização da eutanásia, rejeitada esta semana por uma maioria dos deputados à Assembleia da República. Também não é pelos acordos alcançados com o PS relativamente aos fundos comunitários, à descentralização ou sequer em matéria laboral. A maior crítica que o comentador faz, no seu espaço semanal na SIC, ao líder social-democrata, foca-se na incapacidade de o PSD se descolar dos socialistas. “Parece que o PSD é a muleta do Governo, parece que Rui Rio é o numero dois de António Costa”, diz Mendes.
“Rui Rio merece ser criticado porque ainda não assumiu uma única proposta diferente do Governo sobre matéria nenhuma”, sublinhou Marques Mendes nos estúdios da SIC, numa análise particularmente dura à liderança que Rui Rio tem protagonizado na São Caetano à Lapa. O comentador, antigo presidente dos sociais-democratas, refere-se mesmo a Rio como um instrumento na estratégia do secretário-geral do PS, de eliminar os adversários à volta do PS. “Parece que António Costa tem uma geringonça à esquerda e um Bloco Central em formação à direita”, diz Mendes.
O presidente do PSD estará à espera da campanha eleitoral para marcar fronteiras? “Acho muito tarde”, diz Mendes, que destaca Fernando Negrão como uma figura em ascensão no partido. Juntamente com Assunção Cristas, o líder parlamentar do PSD é, para Marques Mendes, um dos vencedores do chumbo dos diplomas sobre a despenalização da eutanásia. “Tinha uma tarefa muito difícil, porque o líder do partido é defensor do sim”. Mas, mesmo nessas circunstâncias, Negrão “conduziu bem esta situação, fez uma intervenção de qualidade e conseguiu uma grande unidade dentro do grupo parlamentar”. Fernando Negrão está, também por isso, “a afirmar-se como um bom líder parlamentar do PSD” e “é o único que faz oposição séria e consistente a António Costa”, considera o comentador.
Do lado dos “vencidos”, Mendes coloca Catarina Martins e o seu Bloco — que, ainda assim, “conseguiu dividir geringonça” — e António Costa. “Foi a reboque do Bloco de Esquerda, não garantiu a convergência dentro da coligação à esquerda, à ultima hora falou no Congresso [do PS, na Batalha], elevando as expetativas.” E depois perdeu a votação.
De qualquer forma, o tema da eutanásia vai “evidentemente” regressar na próxima legislatura. Marques Mendes defende que seja convocado um referendo para que cada português se possa pronunciar.
Merkel foi “cereja no topo do bolo”
A votação dos diplomas da eutanásia não esteve em linha com a posição defendida pelo primeiro-ministro. Mas isso não apaga uma semana de “coisas francamente boas” na agenda política de António Costa. Marques Mendes destacou o recuo da União Europeia na proposta do próximo orçamento plurianual, o acordo de concertação social assinado (sem a CGTP) e, a culminar, a visita de Angela Merkel a Portugal.
“Foi ótimo, para António Costa foi perfeito e, de resto, esta semana António Costa teve coisas francamente boas”, destacou Mendes. Depois dos discursos “radicais” de alguns socialistas de relevo, no congresso do partido, defendendo uma inclinação mais para a esquerda, a passagem da chanceler alemã pelo país veio equilibrar a balança.
Essa visita permitiu ao primeiro-ministro “governar ao centro, ocupar o espaço político do centro e a trabalhar para conquistar eleitores do centro”, considera Marques Mendes. Foi, por isso, a “cereja em cima do bolo, veio dar aval político a António Costa”.
Ainda sobre a agenda de São Bento, Marques Mendes disse que o programa da visita do primeiro-ministro a Angola “está todo feito”. Entre os últimos dias de junho e os primeiros de julho, Costa deverá voar até Luanda, garante o comentador. Para fechar a data, faltará apenas que o processo judicial do ex-vice-presidente angolano (suspeito de corrupção) siga para as autoridades angolanas.
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