Translate

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Entre as brumas da memória


Resistimos a isto...

Posted: 08 Aug 2018 01:48 PM PDT

E será que entranhámos a primeira das três máximas do fim da página?
«A resignação é a primeira condição da vida.»
.

Há muitas necessidades que não são médicas, a madeira é uma delas – e há uma portuguesa a resolvê-las

Posted: 08 Aug 2018 11:50 AM PDT


Marta Gonçalves, Expresso diário, 08.08.2018:

Quais as maiores necessidades das pessoas que são forçadas a fugir de casa e a seguirem as rotas migratórias?

Na verdade, o que vemos na Europa é uma pequena parcela das pessoas que neste momento estão a migrar. São os que conseguiram sair da Líbia, mas há muita gente retida em território líbio, no Níger, na Nigéria. Neste momento, estamos ativamente num projeto do México, devido aos migrantes que atravessam a fronteira para os EUA, que é uma rota migratória com problemas parecidos. Como eles passam muito tempo ao relento, uma simples constipação pode transformar-se numa infeção muito mais difícil de tratar no momento em que são atendidos pelos médicos. Ou uma diarreia ou uma ferida que depois se transformam em problemas não só crónicos como muito mais difíceis de tratar. Há também necessidades que não são médicas, mas sim logísticas - estamos a falar de pessoas que já viajaram muitíssimo. Por exemplo, para as pessoas a bordo do Aquarius, a travessia no Mediterrâneo foi apenas a última fração da viagem. Estiveram muito tempo expostos à violência e sem terem uma cola social - aquilo que se perde quando saímos do nosso ambiente, da nossa cultura, da nossa família. Isso perde-se, e numa família que está sozinha, numa mãe que viaja sozinha com o filho, e às vezes com os filhos de outros, é um grande problema. Depois, há os problemas de saúde mental, que causam grande transtorno. Muitas vezes as pessoas que não estão capazes de viajar por essas mesmas razões são as mais vulneráveis à violência, por não conseguirem tomar decisões, por não terem dinheiro, por parecerem frágeis.

O trabalho da Unidade de Apoio aos Deslocados Internos dos Médicos Sem Fronteiras consegue minimizar esta dor e violência? De que forma conseguem facilitar a vida destas pessoas ao longo do percurso?

As missões já estão em sítios estratégicos para encontrar as pessoas no momento em que estão no estado mais vulnerável. Um dos problemas que vemos no México, por exemplo, é que só estamos com os migrantes que vêm do sul do país quando estão prontos para a última etapa - e também a mais violenta: atravessar a fronteira para os EUA. O que acontece é que atendemo-los e depois perdemos-lhes o rasto.

Através de uma série de encontros com migrantes e com organizações locais que conhecem muito bem a realidade, concluímos que quando os migrantes têm acesso ao Facebook e a redes sociais, utilizam-nas como ferramenta pessoal. Ora isto permite aos Médicos Sem Fronteiras voltarem a entrar em contacto com essas pessoas quando já estão mais à frente no caminho. E também permite eles nos contactem sempre que precisarem. Esta é uma solução possível no México, mas não em África, onde temos de pensar em estratégias diferentes.

Neste momento, estamos a idealizar kits que podemos distribuir em pontos de passagem das rotas que permitam a quem faz o caminho estar informado: os perigos que podem encontrar, como se podem manter nutridos, como evitar feridas ou o que fazer no caso de uma violação. E depois há também a violência sexual, não apenas sobre as mulheres mas também sobre crianças. Estamos também a pensar em kits não só de prevenção como de resposta, que inclua uma pílula do dia seguinte. Há muitas necessidades que não são só médicas e que se não tiverem resposta representam um problema muito maior para a saúde do que uma doença.

Que necessidades são essas?

Tem mais que ver com proteção do que cuidados médicos. Uma criança que fica órfã e tem de lidar com os irmãos não sabe como reagir ou como organizar a sua vida ou quem procurar. Esse é um dos casos que encontramos com maior frequência. Precisam de apoio de alguém, tanto psicológico como na gestão da família. Na Nigéria, estamos a começar um projeto de alternativa ao uso da madeira como combustível para cozinhar (e estas são pessoas um pouco diferentes, porque chegam aos campos e não têm absolutamente nada, escaparam depois de serem raptadas por grupos armados). Uma das principais necessidade que dizem ter - e não é só uma necessidade, mas também um motivo de conflito - é a madeira. Não há madeira para todos e é cara. Quem não pode pagar, vai para a floresta procurar - e fica novamente sujeito a violência. Este é um exemplo de uma questão não médica, fora daquilo que é nosso tipo de operações. Mas sendo os Médicos Sem Fronteiras a única organização no local, há a responsabilidade de dar resposta. Assim introduzimos uma tecnologia que permite fazer combustível com materiais locais, evitando que tenham de deslocar-se para ir à lenha.

Um dos projetos que mais tem sido mencionado é a mochila de fuga…

Foi um dos primeiros projetos, no qual continuamos a trabalhar. A mochila de fuga foi desenhada tendo por base aquilo que se passou no Sudão do Sul no ano passado, quando as nossas instalações foram atacadas. A comunidade fugiu toda para norte e o nosso pessoal preferiu acompanhar os deslocados, apesar de estar numa situação de grande perigo. Percebemos que existia predisposição do pessoal médico para acompanhar a sua comunidade e que estava desesperado para retomar a atividade, porque havia muita gente necessitada. Por isso, porque não desenvolver umas mochilas nas quais o nosso pessoal possa levar o material necessário para tratar os problemas mais prováveis de acontecerem quando se caminha no meio do nada? Como a malária (dormem ao relento e em qualquer lugar, não têm redes de proteção de mosquitos), as feridas (se foram de tiro precisam de ser bem vedadas), uma conjuntivite provocada pelo pó…

Quais os países onde estão a tentar resolver problemas e os que têm mais necessidades?

Estamos a trabalhar diretamente com o México, o Sudão do Sul, a República Democrática do Congo e a Nigéria. Há países com os quais tivemos conversações mas onde ainda não há um projeto: a Síria, o Iraque, a Turquia, o Níger, a Etiópia, a Somália e a Republica Central Africana. É difícil priorizar países, pois são todas situações de emergência crítica. Em qualquer um dos casos, são milhões de pessoas deslocadas. Só no Sudão do Sul são dois milhões de deslocados internos, no Congo há cinco milhões. Estrategicamente, o que decidimos foi ajudar as pessoas no momento em que sofrem mais e onde há menos organizações a atuarem. Na Nigéria trabalhamos muito nos enclaves militares, frequentemente atacados por grupos como o Boko Haram; na República Centro-Africana atuamos junto de minorias étnicas, constantemente sob problemas de violência. No Congo, onde o conflito é interminável, há pequenas comunidades muito afastadas umas das outras que são frequentemente atacadas por grupos armados, as pessoas têm de sair de casa durante duas ou três semanas, até as aldeias deixarem de ser controladas. Nestes locais, a solução não é a tecnologia, são os recursos humanos.

Como surgiu e como funciona a Unidade de Apoio aos Deslocados Internos, que atualmente lidera?

É muito recente, é um esforço bastante inovador por parte dos Médicos Sem Fronteiras em Espanha para descentralizar decisões para focos regionais – neste caso Nairóbi, onde estamos sediados, e que é um foco humanitário muito importante, porque passam por ela muitas rotas migratórias na África Oriental. Somos quatro pessoas. Trabalhamos em conjunto com as missões que já estão a funcionar em determinados países e que nos pedem apoio para repensar a forma como estão a ajudar as pessoas. Nem somos uma unidade operacional nem gerimos atividades no terreno - à exceção dos nosso testes. Apesar de termos a sede em Nairóbi, trabalhamos com missões de todo o mundo, incluindo rotas migratórias da Europa, na América Latina e mais duas ou três no continente africano - como aquela que começa na Nigéria ou no Níger e termina em Espanha.

*********

Ana Santos, 35 anos, chegou ao Quénia há dois anos. Quando fazia o doutoramento, centrado no desenvolvimento de equipamento cirúrgico e de anestesia para contextos de ajuda humanitária, contactou os Médicos Sem Fronteiras (MSF). Ao mesmo tempo trabalhava num projeto que fundou em parceria com o Massachussets Institute of Technology (MIT, EUA), o Rethink Relief, que também tinha como objetivo pensar na tecnologia como facilitador de vida para quem vive em zonas de conflito ou afetada por desastres naturais. Foi então convidada para integrar projetos dos MSF Suíça. Em 2016 passou a gestora de projetos de inovação da Unidade de Apoio aos Deslocados Internos dos MSF, que a levou até ao Quénia. Ana Santos é natural de Lisboa e, por vezes, volta a Portugal.

.

Agosto daquele ano mágico

Posted: 08 Aug 2018 07:05 AM PDT

Um belo texto sobre 1968.

«Mientras los soixantehuitard crecían y se desinflaban, en el mundo ocurrían otras cosas. A más de mil kilómetros de distancia de París se desarrollaba otro experimento social, el más importante de 1968: la Primavera de Praga, un periodo de liberalización política en el seno del comunismo, en Checoslovaquia, durante la Guerra Fría. (…)

1968 fue mucho más que Mayo. Algunos estudiosos han establecido analogías entre los años 1848 y 1968. Hubo estallidos en diversos lugares de Europa, una serie de revueltas sin relación aparente entre sí, aunque con concomitancias genéricas similares, contra el predominio del absolutismo y del autoritarismo. (…) Cuando finaliza el experimento checo de socialismo de rostro humano todavía no había terminado el año mágico de 1968. Apenas unas semanas después, en un lugar muy alejado del escenario europeo, los estudiantes mexicanos se rebelaban y eran masacrados.»

.

Apitó comboio!

Posted: 08 Aug 2018 03:19 AM PDT

«Pedimos desculpa por o secretário de Estado das Infra-estruturas, Guilherme W. d'Oliveira Martins, ainda não ter sido cancelado. Circula com uma hora e meia de atraso e dará entrada na linha 3. Se der. Ao fim de uns anos no seu emérito cargo governativo, Guilherme W. enganou-se na carruagem e o seu destino é o museu de memórias da CP. Se esta empresa subsistir ao seu mandato e ao do seu superior hierárquico, Pedro Marques. O país consegue sobreviver ao momento em que o secretário Guilherme W. fez um número de comédia e disse que na CP "não há colapso nenhum". Portugal é mesmo capaz de suster a respiração durante uns minutos, sem se engasgar, depois de o escutar a debitar que "há uma ideia errada de que não há comboios suficientes e que os passageiros estão a perder qualidade de serviço". Esta frase deveria ser transmitida como um rap no percurso do Alfa Pendular, no meio de uma versão mais ligeira de "Apitó Comboio!", para que os passageiros tivessem direito a um momento de humor enquanto destilam.

O secretário Guilherme W. pode saber muito de comboios. Pode até ser especialista em pistas de comboios em miniatura. Mas desconhece o que se passa na CP e nesse elefante branco que é a Infraestruturas de Portugal. É por isso que culpa o PSD e o CDS de todos os males do mundo nos caminhos-de-ferro. Como se, com a sua chegada ao nobre cargo de secretário de Estado das Infra-estruturas, tudo tivesse mudado. Não. A desgraça continuou. Não houve investimento no reequipamento da CP. O que estava ferrugento colapsou. O secretário Guilherme W. esquece-se de que as pessoas não querem que os comboios sejam armas de arremesso político. Querem apenas que funcionem. Não interessa agora se esta política seguida, há anos, de destruição da CP, tornando-a frágil e baratinha, só tenha como objectivo privatizar os seus percursos mais rentáveis. Essa é outra história. O que conta agora é que, na CP, não há comboios, nem horários cumpridos, nem oferta razoável, nem ar condicionado. Só há alguém que é acusado de ser secretário de Estado.»

Fernando Sobral

.

Ele aí está

Posted: 07 Aug 2018 01:48 PM PDT

.

Dica (794)

Posted: 07 Aug 2018 10:25 AM PDT

Losing Earth: The Decade We Almost Stopped Climate Change (Nathaniel Rich)

«This narrative by Nathaniel Rich is a work of history, addressing the 10-year period from 1979 to 1989: the decisive decade when humankind first came to a broad understanding of the causes and dangers of climate change. Complementing the text is a series of aerial photographs and videos, all shot over the past year by George Steinmetz. With support from the Pulitzer Center, this two-part article is based on 18 months of reporting and well over a hundred interviews. It tracks the efforts of a small group of American scientists, activists and politicians to raise the alarm and stave off catastrophe. It will come as a revelation to many readers — an agonizing revelation — to understand how thoroughly they grasped the problem and how close they came to solving it.»

.

Marcelo e dress code

Posted: 07 Aug 2018 05:55 AM PDT

Não tenho esquisitices neste domínio. Já me habituei a ver e ouvir Marcelo em traje de banho a falar como presidente da República, dia após dia, e, se aparecer assim na Sala das Bicas, em Belém, já acharei normal. Mas espero que nunca mais critiquem os xanatos dos Mujicas deste mundo.

.

Eleições na descontinuidade

Posted: 07 Aug 2018 03:30 AM PDT

«As crises de descontinuidade, aquelas em que o presente não liga o passado com o futuro, não encontram solução satisfatória através da utilização dos procedimentos eleitorais se antes da próxima data eleitoral os partidos concorrentes não tiverem feito a actualização dos seus programas e das suas propostas. Sem a orientação actualizada dos partidos, os eleitores ficarão presos nas suas memórias, porque não haverá nenhuma entidade política que os informe do que está a ser esta crise e do que a mudança vai implicar. Os eleitores têm os seus interesses e as suas expectativas e escolhem os que prometem defender os seus interesses e confirmar as suas expectativas. Quando há uma crise de descontinuidade, os interesses já não se definem nem se defendem do mesmo modo e as expectativas, pela natureza das coisas, já não vão ser confirmadas depois de tudo o que mudou.

A crise financeira de 2008 pertence ao tipo de crise de descontinuidade, mas foi tratada como se fosse um desequilíbrio temporário que poderia ser corrigido e controlado dentro da mesma estrutura de interesses e expectativas. Por isso, os debates que estimulou estabeleceram-se entre os defensores da austeridade para controlar défices e dívida, e os defensores dos estímulos ao crescimento, que também prometiam controlar défices e dívida. Como nem os défices nem a dívida foram controlados, como nem a austeridade nem o crescimento foram suficientes, será melhor admitir que a crise não era um desequilíbrio temporário, era o efeito de uma mudança de natureza nos movimentos de capitais, nos movimentos de pessoas em função dos diferenciais demográficos, nas condições de competitividade na economia mundial.

Quando hoje é evidente que Estados Unidos e Rússia, Trump e Putin, estabelecem uma aliança estratégica para fragmentar a União Europeia, apoiam os movimentos do nacionalismo populista, promovem as soluções autoritárias e a formação de barreiras alfandegárias, também se tornou evidente que os debates sobre austeridades e estímulos não captaram a natureza da crise nem anteciparam as suas consequências.»

Joaquim Aguiar

Sem comentários:

Enviar um comentário