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sábado, 20 de outubro de 2018

O declínio da civilização e o renascimento do fascismo

  por estatuadesal

(Carlos Esperança, 19/10/2018)

fascismo1

Os cínicos afirmam que cada povo tem o governo que merece, mas julgo mais acertado pensar que, em democracia, cada povo escolhe o governo que quer. O difícil é livrar-se dele quando a democracia estorva quem escolheu.

Há quem pense que a democracia é o governo das maiorias, independentemente do seu comportamento, dos atropelos à liberdade individual, do respeito pelas minorias e pelos direitos humanos.

Não se pense que os mais sinistros governantes não foram, em algum momento, os mais desejados, fosse por desespero, ignorância ou maldade de quem os elege.

Quando, em 3 de junho de 1989, o Aiatola Khomeini, um dos mais sinistros criminosos pios de que me lembro, voou para o Paraíso, foi chorado por uma multidão em transe de sofrimento, e eram genuínos a dor e o sentimento de perda pela horda de fanáticos que o idolatravam. O histerismo coletivo opera milagres, transforma déspotas em veneráveis e criminosos em salvadores. A liberdade não é uma aspiração universal nem a democracia um sistema maioritariamente desejado.

Duterte, o atual PR das Filipinas, quando tomou posse em 30 de junho de 2016, vencera as eleições a incitar a população a fazer execuções sumárias, tal como ele já tinha feito, a drogados e traficantes. Há milhares de suspeitos executados sem qualquer julgamento, e a população apoia-o.

Bolsonaro é a versão brasileira de Rodrigo Duterte e fica-se com a sensação de que não terá mais votos porque os eleitores desconfiam de que não seja tão mau como divulga, receosos de que não pratique as patifarias que promete.

A Europa, onde a União Europeia e a sua civilização estão a ser desafiadas pela Polónia, Itália e Hungria, onde os partidos neonazis de muitos outros países já se apresentam sem disfarces, está em risco de se desintegrar e perder a herança iluminista de que é guardiã.

Hoje mesmo, com consequências imprevisíveis, o Tribunal de Justiça Europeu paralisou a reforma do Tribunal Supremo da Polónia. A inédita decisão, após uma petição da CE, emitiu uma medida cautelar contra a reforma polaca, impedindo a jubilação obrigatória dos juízes do Supremo Tribunal decidida pelo PR e a nomeação de novos juízes cujo número e nome pretende ser ele a decidir.

O grotesco PR pretende, com a sua discricionária decisão sobre a idade de jubilação dos juízes, afastar cerca de um terço, e impor a configuração e a ideologia do ST.

Entretanto, enquanto os ditadores decidem, os cidadãos conformam-se, ficam abúlicos ou tornam-se coniventes.

Bastaram sete décadas para a amnésia coletiva. Trump é apenas o detonador de uma nova ordem que renasce da herança genética da década de 30 do século passado.

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