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terça-feira, 18 de dezembro de 2018

A nossa insustentável democracia corporativa como prelúdio do fim da III República

  por estatuadesal

(Rodrigo Sousa Castro, 15/12/2018)

sousacastro

A Democracia Portuguesa desembocou ao fim de 43 anos numa insustentável democracia corporativa. O exemplo mais flagrante está à vista na disputa sobre o estatuto do Ministério Público.

Sendo o MP o órgão vital do funcionamento da Justiça, que monopoliza a função de defesa do Estado e da acusação pública, é governado por uma elite de funcionários seus, oriundos do seu seio e fazendo carreira no seu interior.

Com o argumento da independência do poder político, agem há décadas com a maior impunidade e o resultado está à vista. Para além de dois ou três casos mediáticos envolvendo membros de partidos políticos e ex-governantes, resolvidos com algum sucesso, a delapidação de empresas, bancos e outro património, processou-se com a maior desfaçatez, desgraçando o País e assistindo-se agora à cena canalha de os promotores de tais desmandos, continuarem à vista de toda a gente sem punição exemplar.

O dinheiro esse, da ordem dos milhares de milhões, jaz em off-shores e outros refúgios sem que se lhe conheça o rasto.

Mas, como se não bastasse, Ordens Profissionais, Médicos, Enfermeiros, Engenheiros, e agora até Contabilistas, em lugar de cumprirem o seu papel deontológico, de vigilância ética sobre os seus membros e de imposição de condutas consonantes com os seus estatutos, imiscuem-se na politica partidária, nas reivindicações puramente materiais, sobrepondo-se aos sindicatos ou entrando em concorrência com eles.

Estes por sua vez, proliferam como cogumelos em ambiente de permanente demagogia e oportunismo, chegando-se ao ponto de haver dezenas de sindicatos por classe profissionais para obterem mordomias para os seus membros ou, ainda mais grave, constituírem-se sindicatos ad-hoc para travarem “lutas” de cariz duvidoso.

Com uma lei sindical que data da década de setenta e do governo de Vasco Gonçalves, com governos timoratos que não têm coragem de encarar instrumentos para debelar situações como a assassina greve dos enfermeiros aos blocos operatórios, os sindicatos transformaram-se também em corporações poderosas que abusam da paciência dos cidadãos.

Num País no fio da navalha, sujeito como raros outros às oscilações de circunstâncias internacionais que não controlamos, com uma economia débil e uma divida que não pára de crescer a persistência destas distopias funcionais levarão ao desastre politico e social e a uma grave crise nacional.

A falta de consciência cívica dos mais altos responsáveis e a luta mesquinha por benesses imerecidas, impossíveis de satisfazer, e que afrontam o Povo em geral, são o caldo irreversível para o desastre.

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