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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

O Natal eleitoral

Opinião

Pedro Ivo Carvalho

Hoje às 00:01

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  • O distanciamento entre parceiros governamentais começou a ser notório ainda antes da aprovação do quarto e último Orçamento do Estado da legislatura. Não significa isto, porém, que PS, BE e PCP tenham desistido da necessidade de alcançar entendimentos se deles precisarem. A porta está aberta e ninguém arrisca fechá-la à chave.

    Acontece que, para PCP e BE, partir para um exigente ano eleitoral excessivamente agarrados aos feitos do Governo não é propriamente um cartão de visita muito convincente. E é neste contexto que devemos enquadrar a mensagem de Natal que o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deixou nas páginas do JN, em que alertava para um clima pré-eleitoral precoce. Mas o aviso é sobretudo para o PS, de quem se espera que dê tudo para alcançar uma maioria absoluta que ainda germina na gaveta dos tabus. António Costa bem pode pregar as maravilhas deste acordo de esquerdas, mas é sempre no Governo de que fala. E o Governo não é Catarina Martins nem Jerónimo de Sousa. Por mais que, agora, até desejassem ser. A competência orçamental destes quatro anos pode facilmente esboroar-se por via de novas prebendas ou outras bandeiras eleitorais. Pior: pode quebrar-se se a saúde da economia internacional deixar de ser viçosa. 2019 é ano de legislativas, de europeias e de regionais. É muito tempo de antena e demasiada tentação para todos. E também o é para BE e PCP, que têm como arma mais poderosa a instrumentalização da rua e a forma como orientam a bússola ideológica em benefício do seu ascendente eleitoral. Marcelo sabe que o país não pode correr o risco de os partidos transformarem o ano que vem num permanente Natal. Marcelo sabe aquilo que Costa também sabe e já partilhou connosco: as coisas até estão melhores, mas não podemos dar tudo a toda a gente. Veremos se este pragmatismo pré-eleitoral do primeiro-ministro consegue resistir à tentação de ensaiar um salto para a maioria absoluta maior do que as pernas do país.

    Diretor-adjunto

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