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quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Trump e os generais

Opinião

Francisco Seixas Da Costa

Hoje às 00:00

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  • O ano termina com uma nota sombria. A demissão do responsável ministerial pela Defesa, nos Estados Unidos, fez disparar alertas por todo o Mundo.

    Jim Mattis, um prestigiado general que Obama afastara por atitudes demasiado "guerreiras", e que Trump, seguramente por isso, cuidou em recuperar, escreveu uma carta ao presidente em que, basicamente, diz não concordar com a sua orientação e, em particular, com o desprezo e desconsideração que Trump mostra para com os aliados da América. Muitos leram nisto uma alusão à NATO, outros consideraram que a referência também se ligava aos grupos curdos que, na Síria, vinham a ser usados pelos EUA na luta contra o ISIS. É que um anúncio súbito de Trump, de que ia retirar o que resta de forças americanas em terreno sírio, deixa os grupos curdos à mercê da expectável agressividade turca contra o seu velho inimigo. Mattis não está de acordo com esta estratégia para a Síria, como igualmente não parece concordar com a aceleração da saída das tropas do Afeganistão.

    Desde o primeiro dia, a América e o Mundo assistiram, entre o divertido e o preocupado, às incessantes entradas e saídas de pessoal para a Casa Branca de Trump. Não há memória de uma Administração ter alguma vez sofrido um tão elevado grau de instabilidade e, nos dias de hoje, é perfeitamente evidente que a única fonte dessa instabilidade é o próprio Trump. Considerando-se ungido de um poder supremo, que não admite contestação, sabe-se que ele reage com irritação a quaisquer observações que possam infirmar as suas certezas instintivas. Alguém que persista em contrariá-lo, por mais razoáveis que sejam os seus argumentos, tem os seus dias oficiais contados. Trump é superficial, amoral e imprevisível, parecendo confiar apenas na sua intuição.

    Criou-se a noção de que Trump tinha um respeito especial pelos militares, setor que, nos EUA, beneficia de um estatuto de prestígio público muito forte. Porém, basta ler o que Bob Woodward escreve no seu livro "Medo" para se perceber que a paciência do presidente perante as Forças Armadas começava já a ter um prazo de validade. O modo como Trump foi, sucessivamente, afastando generais qualificados como McMaster, Kelly e agora Mattis prova que nem sequer o peso institucional das fardas já o detém, na sua tentativa de reduzir a sua "entourage" a um mero círculo de fiéis, acríticos e prestimosos. Para aquela que é a maior potência militar do Mundo, com imenso poder nuclear, a crescente dependência de uma figura da estirpe de Trump é dramática.

    Embaixador

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