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quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Para onde vai a direita?

Uma segunda opinião

Francisco Seixas Da Costa

Hoje às 00:30

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    A direita portuguesa vive um momento complexo. O PSD de Rui Rio afunda-se nas sondagens e o CDS de Assunção Cristas não aproveita esses humores. A seu crédito só concorrem alguns "tiros no pé" que o governo vai dando e, claro, a onda grevista em época pré-eleitoral, que induz no imaginário público a ideia de que se vive uma imparável instabilidade social. Conta também com o tropismo tremendista de certa comunicação social, que dá prioridade absoluta ao que "corre mal". E, em política, como dizia o outro, o que parece é.

    E parece que Rui Rio tem a vida bastante difícil. O líder do PSD, com uma bancada parlamentar hostil, marcada por uma raiva saudosa da antiga liderança, segue o seu caminho das pedras. Rio, que é um homem sério, escolheu dizer o que verdadeiramente pensa, na convicção de que, a prazo, a autenticidade acabará por pagar. Não estou tão certo disso. A guerra que agora abriu com o Ministério Público, na minha opinião com imensa razão, não deixa de ser uma causa impopular nas suas hostes, sobretudo no mundo político a-preto-e-branco em que se vive. A menos que os astros se conjuguem, Rio vai perder as eleições por larga margem e, na enxurrada que a sua saída vai provocar, fará desaparecer o pouco que resta da ala social-democrata do PSD.

    Do CDS, a direita espera pouco, isto é, aguarda o "share" habitual, no outono triste que vai ter. Cristas, que já se viu que não é Portas, a prazo terá à perna uns "jovens turcos" ultramontanos que estão à espera de vez, continuando ela por ora a hesitar entre o beatismo social e o caceteirismo verbal. A certos setores do partido foge já muito o pé para o populismo nacionalista, com a correspondente deriva eurocética.

    Descontado o epifenómeno unipessoal do Aliança, resta a direita inorgânica dos jornais informáticos e aquela que espalha adjetivos acres pelas redes sociais. Parte diz-se liberal, um rótulo anti-Estado que vai muito com "l"air du temps". Outra, contudo, cujo "teste do algodão" é a sua recusa a usar no discurso a expressão "extrema-direita", revela claramente que os seus escrúpulos democráticos não chegam para alienar o futuro apoio de um mundo que por aí borbulha, num magma radical entre a xenofobia, o racismo e algumas pulsões autoritárias.

    Fica a sensação de que o setor mais conservador da sociedade política portuguesa atravessa um tempo de indefinição. Para a sanidade do sistema político, só podemos esperar que a resultante final seja solidamente democrática. Tal como se espera da esquerda, aliás.

    *Embaixador

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