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quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Ladrões de Bicicletas


Desacatos, imigração e direita

Posted: 22 Jan 2019 06:40 AM PST

Atenção, cidadãos. Os órgãos de comunicação social portuguesa parecem querer arranjar rapidamente um caso semelhante aos vividos em países europeus onde a extrema-direita surge impante.
E nem é preciso ver isso num programa televisivo de informação - como foi o caso do programa SOS TVI - em que o pivot apresenta um líder convidado como Mário Machado dizendo algo como: "Dizem que a extrema-direita é xenófoba, racista e violenta. O que tem a responder a essas pessoas?" O convidado rebate a ideia, mas finaliza dizendo - sem que o pivot conteste - que, quando esteve na cadeia, quem lá estava em maioria era a raça negra e que isso se deve talvez porque "essa raça tem um problema com o crime".
Nem é preciso ir tão longe. Face aos "desacatos" - palavra muito repetida pelos jornalistas que estão a cobrir o que se passou nos últimos dias no bairro Jamaica, no centro da cidade de Lisboa, e esta noite em Odivelas - a SIC passou uma peça com excertos de uma entrevista ao presidente da Cáritas em que ele frisava que era preciso afastar este ambiente de criação de uma insegurança que levava a um esforço securitário porque, ao longo da História, se provou que não respondeu aos problemas. A nota de rodapé frisava: "Presidente da Cáritas diz que casos acabam por criar relutância à imigração".

Ao arrepio desses cuidados e aproveitando os "desacatos", a SIC Notícias decidiu escolher para tema de debate da manhã:

"Estamos ou não num momento particular de tensão entre as populações mais desfavorecidas e as forças de segurança? Olhamos também para a investigação SIC, revelada ontem, sobre a falta de meios na PSP e na GNR. Parece-lhe que fica em causa a capacidade de resposta das forças de segurança? Que medidas são necessárias para fazer face às necessidades tanto da PSP como da GNR?"

A primeira senhora que falou no fórum acabou por dizer: "Eu não era racista, mas agora sou. (...) Queremos uma polícia com a devida segurança". A pivot rematou no final: "Esta senhora quer se sentir segura e reclama mais meios para a polícia". Um condutor de meios de Loures disse: "O racismo não passa de um mito que estes senhores utilizam para se desculpar, é hábito neles usarem - julgam que são donos e senhores destes bairros e não respeitam ninguém, nem nada nem ninguém e quando as forças da ordem são chamadas por norma a intervir nestes bairros, facilmente acusam as autoridades de xonofobia, racismo, perseguição. Infelizmente, não passam de uns cobardes, escondem-se atrás de umas associações, pagas e ajudadas pelos contribuintes." A pivot: "É a opinião do António... a falar aqui dos problemas de racismo que existem no país". A palavra passa para a Fátima em Genebra, que é porteira. A sua opinião é contra os políticos que "desrespeitam a polícia que combate os bandidos". Outro cidadão disse: "Esses senhores da raça negra é que são racistas. Cometem o crime e depois culpam a polícia de certas situações". A pivot: "Vivemos de facto tempos específicos. Estamos num momento particular da discussão... Mas os números dizem que Portugal é um país seguro. Como se justifica? (...) O racismo é o principal problema da polícia?"
Mas o porta-voz da PSP, convidado e presente em estúdio, não se demarcou suficientemente.
Frisou que na maioria das vezes, a PSP "é confrontada com situações que nada têm a ver com racismo". Palavras que, mesmo sem o desejar e porque não contestou as intervenções do fórum, acabaram por encaixar com o racismo demonstrado pelos cidadãos: "A PSP não é uma instituição racista (..) mas muitas vezes somos conotados com racismo quando intervimos (...) é uma capa, uma desculpa, para desvalorizar aquilo que é uma actuação da polícia".
E a pivot mais nada disse. Pôs ponto final ao programa.
Há uma frase irónica que diz: "Errar é humano, repetir o erro é jornalismo". Mas esta ideia diz pouco sobre os mecanismos comportamentais dos jornalistas que os levam a insistir no erro.
Por que razão, os jornalistas insistem em criar um ambiente de tensão entre "as populações mais desfavorecidas e as forças de segurança"?
Primeiro, poder-se-ia frisar as palavras usadas e o posto de visão em que o jornalista se coloca. O termo "classes mais desfavorecidas" pressupõe que o jornalista se coloca acima delas, e é verdade: Quem está à frente das câmaras, geralmente já não sabe o que é ser desfavorecido. E já nem se está a falar da palavra favorecida que merecia todo um comentário. Segundo, parece correr o pensamento de que, mais tarde ou mais cedo, a extrema-direita será dominante na Europa e que, por isso, o mesmo acontecerá em Portugal. E isso é notícia ou vai ser. E tudo o que possa cheirar a isso entronca no que vai ser notícia e torna-se notícia já hoje. Um movimento como os coletes amarelos foi promovido pelas televisões, com uma certa ajuda da PSP, apesar de ter sido um fracasso. Terceiro, existe o fenómeno de mimetismo: se todos fazem, eu vou fazer o mesmo, porque se não o fizer, o espectador muda para o concorrente. Quarto, sabe-se lá se os jornalistas não pensem mesmo que algo como a extrema-direita - anti-política, autoritária e anti-comunista - seja necessária em Portugal.
Tudo isto faz esperar o pior. Resta saber qual vai ser a força política que, aos olhos das televisões, assumirá essa forma.

De mãos atadas

Posted: 22 Jan 2019 03:56 AM PST

Em linha com a esquerda que não desiste, sectores do Partido Socialista entraram em ruptura com a política expressa nos anos noventa por um antigo dirigente deste partido, que declarava abrir uma garrafa de champanhe cada vez que privatizava uma empresa. Agora, perante a tragédia, exige-se sensatez, ou seja, a nacionalização dos CTT.
Surgem logo vozes dentro do PS a dizer que é complicado, que Bruxelas tem de autorizar, que “estamos de mãos atadas”. Eu sei bem que o eixo Bruxelas-Frankfurt é um obstáculo de monta a políticas que mudem o fundamental em áreas fundamentais e é por isso que considero que a esquerda tem de ser eurocéptica.
Entretanto, quero só notar que o “estamos de mãos atadas” é uma boa metáfora para a soberania furtada, para a impotência democrática, que por todo o continente destrói a social-democracia.

Para a questão da habitação

Posted: 22 Jan 2019 07:39 AM PST

O Público divulga um estudo, cujos resultados serão apresentados hoje na Fundação Calouste Gulbenkian e que sairá em breve num livro coordenado por Ana Cordeiro Santos com o título, inspirado num clássico da economia política, A Nova Questão da Habitação em Portugal:
“Estado transformou habitação num activo financeiro, alerta estudo (…) ‘A questão da habitação de hoje remete para a economia política de um sector cada nvez mais dominado pelo capital financeiro global, mas com impactos em territórios precisos, produzindo crescentes desigualdades socio-territoriais’, lê-se na introdução da obra (…) ‘O hiato entre os rendimentos e os preços e as rendas de casa, que empurra a população para as periferias, põe cada vez mais em causa a adequação do modelo privado para este sistema de provisão’, concluiu Ana Santos, que defende que só ‘um multidimensional processo de desfi - nanceirização’ poderá contribuir para resolver as velhas e novas questões de habitação em Portugal. Ou seja, ‘uma estratégia radicalmente divergente da preconizada na Nova Geração de Políticas de Habitação’. Este pacote de medidas que já passou no crivo do Parlamento defende a promoção de habitação a preços acessíveis, recorrendo a incentivos fiscais e a fundos financeiros estruturados para aumentar a oferta de habitação.”

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