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sábado, 6 de abril de 2019

Entre as brumas da memória


No país dos sacanas

Posted: 05 Apr 2019 10:56 AM PDT

Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos os são, mesmo os melhores, às suas horas,
e todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
para poder funcionar fraternalmente
a humidade de próstata ou das glândulas lacrimais,
para além das rivalidades, invejas e mesquinharias
em que tanto se dividem e afinal se irmanam.
Dizer-se que é de heróis e santos o país,
a ver se se convencem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
ingénuos e sacaneados é que foram disso?
Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
que a nobreza, a dignidade, a independência, a justiça, a bondade, etc., etc., sejam
outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
a um ponto que os mais não são capazes de atingir.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então nesse país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
Jorge de Sena (Outubro de 1973)
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Ratos? É o que menos falta por aí...

Posted: 05 Apr 2019 07:12 AM PDT

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Memorial aos Presos e Perseguidos políticos

Posted: 05 Apr 2019 02:59 AM PDT

No âmbito das comemorações do 45º aniversário do 25 de Abril, terá lugar em Lisboa um vasto conjunto de eventos, anunciado no passado dia 3 em conferência de imprensa realizada na respectiva Câmara Municipal.

Destaco a inauguração de um Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos, na Estação de Metro Baixa-Chiado, uma iniciativa proposta por um grupo de cidadãos. Fica aqui alguma informação sobre o que esteve na base da referida proposta, bem como imagens que podem dar uma ideia do que poderá ser visto.

Ao longo de quase meio século, milhares de homens e mulheres sofreram, em Portugal e nas então colónias portuguesas, a violência da ditadura implantada em 28 de maio de 1926 e apenas derrubada em 25 de abril de 1974.

Esses homens e mulheres – presos e torturados, condenados em simulacros de tribunais, exilados e deportados, assassinados, impedidos de exercer as suas profissões e modos de vida, que viram as suas famílias perseguidas e humilhadas e as suas obras censuradas – abriram o caminho para «o dia inicial inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e do silêncio», cantado por Sophia de Mello Breyner.

Mas se a Censura do Estado Novo impedira o conhecimento da sua luta e dos seus nomes, também a Democracia não soube ainda dar a conhecê-los sobretudo às novas gerações.

É nesse sentido que uma iniciativa cidadã apresentou à Câmara Municipal de Lisboa uma proposta para levar ao conhecimento da população em geral a memória desses homens e mulheres e da sua luta, através de um Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos (1926-1974).

E porque foi numa rua do Chiado a sede da polícia política do regime, sugeriu-se como local dessa homenagem a estação de metropolitano Baixa-Chiado, onde todos os dias passam milhares de pessoas.

Considerou-se a centralidade desta Estação e a sua proximidade com a rua António Maria Cardoso (onde se situava a sede da PIDE/DGS e onde foram assassinados por elementos daquela polícia política manifestantes no próprio dia 25 de abril de 1974) e, mesmo, com o Largo do Carmo, onde se deu a rendição do último Presidente do Conselho da ditadura, ocorrendo em toda aquela zona (Largo do Chiado, Praça Luís de Camões, Rua da Misericórdia, Largo de São Carlos e ruas adjacentes) momentos marcantes daquela data, designadamente em matéria de detenção de agentes e graduados da PIDE/DGS.

Junto às escadas rolantes daquela estação de Metropolitano, que comunicam com o Largo do Chiado, será montado um pórtico com televisores de grande dimensão.


Ao longo dos 48 anos de ditadura, a polícia política prendeu, torturou e acusou milhares de cidadãos e de cidadãs: só em Portugal, registaram-se dois presos políticos por dia. Mesmo sabendo-se que a lista será sempre incompleta, já que, lamentavelmente, 45 anos sobre o 25 de abril de 1974, continua a ignorar-se o número exacto dos presos políticos, as datas de prisão e/ou de “julgamento” de muitos deles e a duração das respetivas prisões – situação que muito se agrava nas antigas colónias, sobre as quais não existem praticamente números credíveis – pretende-se com esta proposta ultrapassar essa ignorância sobre a repressão ao longo de toda a ditadura, fazendo passar nas referidas televisões dezenas de milhares de nomes, bem legíveis, apresentados por ordem alfabética do primeiro nome e, em simultâneo, mostrar algumas imagens de repressão e duas fotografias icónicas: a de um homem e a de uma mulher, compostas, cada uma, por centenas de outras fotografias.




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