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O Reino Unido prepara as próximas (e derradeiras?) eleições europeias com muitas interrogações e muito para além do signo da incerteza. Mais do que dos resultados, duvida-se do processo.
Como preparar eleições até 22 de Maio no Reino Unido quando os votos nada dirão sobre o futuro do país na Europa? Esta poderá ser a primeira eleição sobre o vazio que a Europa nos deixou. Ao querer construir-se com o olhar sobranceiro de quem vê de cima para baixo, a UE acaba com um país nas mãos que se compromete a votar na miragem do que a Europa poderia ter sido. Não podia haver cenário mais patético.
Eleições como uma alegoria ao segundo referendo de que tantos não desistem. O carimbo da vontade da manutenção do Reino Unido na UE poderia passar por uma participação histórica dos britânicos nas eleições europeias. No entanto, nada disso é previsível ou interioriza, no limite, qualquer eficácia. A possibilidade de um Brexit com acordo acontecer antes das eleições (desobrigando o Reino Unido de as realizar) é tão plausível como um conto de fadas na Câmara dos Comuns. Mas a partir do primeiro dia deste novo prazo de extensão, sabe-se que Theresa May está finalmente obrigada a ultrapassar e negociar uma quota-parte das suas linhas vermelhas com Jeremy Corbyn de forma a alcançar o compromisso três vezes desperdiçado.
A inevitabilidade de um acordo até 31 de Outubro não é assegurada pelo presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk. Nem ele o poderia fazer perante a imprevisibilidade do caminho e da gestão da política interna britânica. Já o respeito pela vontade das pessoas pode esperar. Independentemente dos humores da revisão intercalar do processo no fim de Junho aquando do Conselho Europeu, a opinião pública britânica arrastará a sua visão da Europa perante uma cláusula de não ingerência e bloqueio em assuntos europeus a correr em simultâneo com eleições fantasma. "Halloween Brexit", for sure.
Como bem aponta Sathnam Sanghera, o falhanço do Reino Unido em olhar-se ao espelho do Império Britânico em muito contribui para a forma desordenada e confusa com que atravessa este processo de saída da UE. Mastigar essa memória, exige. Veja-se como os EUA continuam a olhar lateralmente para os tempos da escravidão e agora enfrentam o total declínio de uma ideia de país. Não há disfarce de Halloween à medida para a disrupção provocada pela falta de visão crítica e comentada sobre as brutalidades do nosso passado.
*Músico e jurista
O AUTOR ESCREVE SEGUNDO A ANTIGA ORTOGRAFIA
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