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sexta-feira, 12 de abril de 2019

Ensaio sobre a perturbação do sono ou indagação sobre as origens do meu respeito pelo sono alheio

Novo artigo em Aventar


por Autor Convidado

Rui Ângelo Araújo

Bill Brandt, «Dreamer», c.1939

O problema de se ir para a cama cedo, no local onde vivo, é termos frequentemente o sono interrompido, já que a partir das duas da manhã, com uma pontualidade desesperante, se instala um pandemónio na rua, em ondas, à medida que sucessivas hordas de estudantes universitários e outros teenagers se deslocam dos bares do lado nascente do bairro, que fecham àquela hora, para outros bares a poente, que encerram mais tarde.

A turba tem de madrugada um comportamento que suplanta em inútil tontaria e decibéis o que demonstra durante as horas do dia. Não me refiro aos hinos patetas que utilizam nas praxes e que àquela hora tantas vezes repetem com vigor, associados a cânticos hooligans, mas a todo um outro repertório movido a álcool e estimulado pela intuição, certeira, de que a noite é deles e delas. Brados, guinchos, berros histéricos, urros cavernosos, por vezes lançados a solo, por vezes a várias vozes esganiçadas e desafinadas, como coros de um dos círculos do Inferno, decerto o dos néscios, ou como uma não metafórica teatralização sonora e gestual de selva urbana enquanto réplica da selva tropical, com a sua múltipla fauna, da passarada guinchante aos grandes felinos rosnantes, passando pelos primatas urrantes, batendo como eles mãos torpes no peito, numa bravata própria de estádios inferiores da evolução ou, mais prosaicamente, dos clássicos bêbados expulsos da taberna. Ler mais deste artigo

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