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domingo, 11 de agosto de 2019

Política não, credo

por estatuadesal

(José Gabriel, 09/08/2019)

"A emancipação dos trabalhadores será obra dos trabalhadores"- dizia Marx.  Se não forem capazes, contratem uma sociedade de advogados ambiciosos, digo eu.

E não, não estou a questionar a legalidade e a legitimidade da greve que se anuncia. Muito menos a subscrever a acção e medidas do governo - que raio de serviços mínimos são aqueles? - que parece ansioso por mostrar músculo político e agradar aos eleitores de direita. Estou apenas a lembrar que esta treta do "novo sindicalismo" - parece que já há 15 sindicatos, 15, a querer contratar o dr. Pardal - não tem nada de novo.

O ataque vai-se virando, durante estes eventos, contra o chamado sindicalismo "clássico". Isto é, o sindicalismo forte e unido com uma forte componente política - não, não tem de ser partidária -, cuja acção não se resuma à reivindicação salarial e a concertações encenadas.

É por isso que a direita exulta com este suposto vendaval de neo-sindicalismo. É que, para ela, uma sociedade de advogados a dirigir - generosa e graciosamente, claro - um sindicato, é modernaço e traz a vantagem de as organizações sindicais não se meterem em política que isso é coisa de senhores doutores. Já se um partido tiver forte presença num sindicato, "ai valha-me deus, ti batata, que isto é tudo uma data de comunistas". 

Nós compreendemos.

Pertenço a um sindicato cujos membros são obrigados a habilitação certificada e ao real exercício da profissão. Os advogados que com ele trabalham fazem-no - como acontece com a maioria dos outros sindicatos - como consultores, não dirigentes, nem sequer sócios. No limite, imagine-se o que pode acontecer se esta prática de infiltrar os sindicatos com profissionais que nada têm a ver com eles se generaliza.

E não, nem isto é novo. É só um conceito de sindicalismo que foi, como outros foram, no tempo histórico próprio, rejeitado no nosso país, onde escolhemos outros caminhos.

Reduzir, qualquer que seja o preço, a acção sindical à exigência de mais uns euros e, ainda pior, à pulverização de corpos profissionais enfraquecendo a luta comum em troca da vantagem de uns poucos, é um caminho. Mas o preço final não é pequeno.

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