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Há uma discussão incontornável e urgente sobre as medidas políticas necessárias para enfrentar a emergência climática. Um debate que se quer racional, fundamentado e atuante, apoiado na ciência. E há, paralelamente, um ruído de fundo em torno do ativismo ambiental e da figura incontornável de Greta Thunberg que se perde nos labirintos da irracionalidade.
Na marcha pelo clima que ontem juntou uma massa humana com cinco quilómetros de extensão, Greta acabou por abandonar a iniciativa a conselho da polícia. Não conseguia sequer andar, rodeada de pessoas e do batalhão de jornalistas que não a larga. Aos 16 anos, é um dos rostos mais marcantes do mundo e um dos que mais reações suscita. O que, sendo notável pela capacidade que teve de sacudir um planeta, não deixa de ser perverso. Para ela e para a causa ambiental.
As prioridades e opções políticas são sempre passíveis de discussão. Que a ciência diga uma coisa e as escolhas do sistema político e financeiro sigam outro rumo, não é novidade. O que é novo, no debate em curso, é o nível de ódio colocado sobre a figura ou as posições da jovem ativista. E a contaminação do debate com posições extremadas e simplistas.
O pior argumento de todos é trazer para a conversa a questão da Síndrome de Asperger. Além de revelar desconhecimento sobre as perturbações do espectro do autismo, é o argumento que revela o pior da natureza humana. E a nossa habilidade de permanente construção de distrações para evitar o essencial. Greta não é uma deusa nem uma profeta. É uma voz que colocou a urgência climática de forma decisiva na agenda política e mediática. Com erros? Muitos. Mas talvez esteja na altura de desviarmos o dedo da jovem sueca, para o dirigirmos aos decisores políticos. Que o palco seja dado ao debate científico e fundamentado. Autistas são os que insistem no folclore e no confronto.
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