Translate

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

O cerco ao vírus da China e à princesa de Angola

Raquel Moleiro

Raquel Moleiro

Coordenadora de Sociedade

23 JANEIRO 2020

Partilhar

Facebook
Twitter
Email
Facebook

O surto perfeito começou a formar-se na primeira semana de dezembro, em Wuhan, na China. Um homem de meia-idade apareceu num hospital local com um vírus misterioso, que provocava febres altas, dificuldades respiratórias e lesões pulmonares. Até ao dia de ano novo, surgiram na mesma zona 59 casos semelhantes. Só então as autoridades alertaram a Organização Mundial de Saúde (OMS). Tinham passado 23 dias. 23 dias de contágios. Mês e meio desde o primeiro caso, estão confirmadas 17 vítimas mortais e 448 infetados, 441 em território chinês e os restantes na Tailândia, Macau, Hong Kong, Japão, Coreia do Sul e EUA.
Hoje de manhã a Organização Mundial de Saúde decide se declara emergência de saúde pública internacional, como fez nos surtos de Zika, H1N1 ou Ébola. E é fácil perceber porquê. O agente foi identificado como um novo coronavírus, em 89% semelhante ao SARS, que matou 916 pessoas em 2002 e 2003, a maioria também na China.
O “ponto zero” do contágio foi identificado num mercado em Wuhan. A primeira vítima, de 61 anos, era cliente. Mas mais do que a origem exata, é a altura do ano e o cidade que podem alimentar exponencialmente o surto.
No próximo domingo, começa na China o Festival da Primavera. Centenas de milhões de pessoas viajam para celebrar o ano novo lunar. O potencial de proliferação do vírus, que está em mutação e se transmite de pessoa para pessoa, é catastrófico.
Para piorar o cenário, a cidade de Wuhan, com os seus 11 milhões de habitantes, é uma espécie de hub de mobilidade, com ligações aos quatro pontos cardeais da China e 60 destinos internacionais através de comboios de alta velocidade e avião. Porém, à hora a que lê este Curto, já estão todos praticamente parados. Num decisão drástica para cercar e conter o vírus na origem, as autoridades locais decretaram a proibição de saída da cidade a partir das 10h de hoje (2h em Portugal Continental) e sem fim à vista.
As redes de autocarro, metro e barcos de longa distância deixaram de funcionar, e o aeroporto e as estações de comboio só acolhem viagens de chegada. Segundo o South China Morning Post, multidões tentaram sair do epicentro do vírus antes do bloqueio.
Em Portugal, mesmo antes da decisão da OMS, a Direção-Geral da Saúde ativou os dispositivos de saúde pública de prevenção. Estão em alerta o Hospital de São João, no Porto, o Curry Cabral e Estefânia. O Governo emitiu também recomendações para quem viajar para a China.
Não foi o único país a tomar medidas. Aliás, a maioria está a fazê-lo. Num surto o trabalho tem de ser conjunto, articulado, internacional, para que todos os flancos sejam cobertos, e não possa o agente nocivo passar por onde lhe é franqueada a porta. É um bocadinho como na Justiça, quando as investigações parecem ter tantas ramificações quanto os canais de transmissão de um vírus.
Desde que a investigação Luanda Leaks começou a ser revelada, o cerco à volta do universo Isabel dos Santos começou a apertar, e de vários lados. Ontem, a Procuradoria-Geral da República de Angola constituiu a empresária arguida por alegada má gestão e desvio de fundos, durante a passagem pela Sonangol, juntamente com mais quatro portugueses. Um deles, Nuno Ribeiro da Cunha, gestor do EuroBic, foi encontrado com ferimentos graves nos pulsos e no abdómen, numa casa em Vila Nova de Milfontes, no início do mês e a PJ está a investigar.
Hoje mesmo, Hélder Pitta Grós, o general que está à frente da PGR de Angola, chega a Portugal para se encontrar com a congénere portuguesa. O encontro vai decorrer em Lisboa, pelas 15h. Em entrevista ao Expresso e à SIC, o PGR angolano revelou que "se necessário" iria pedir a colaboração das autoridades portuguesas na investigação do império financeiro e admitiu emitir um mandado de captura a Isabel dos Santos.

Sem comentários:

Enviar um comentário