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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

O dantesco cenário do congresso do CDS

David Dinis

David Dinis

Director-adjunto

24 JANEIRO 2020

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Bom dia!
Andamos há três meses a falar dos novos partidos, mas agora é tempo de falar de um dos antigos. O CDS começa amanhã um Congresso que promete ser bem quente. Já sabe o contexto: o partido ficou reduzido a cinco deputados (com a pior votação da sua história), Assunção Cristas demitiu-se e ficou praticamente remetida ao silêncio desde então, deixando o palco entregue a uma ruidosa campanha. Sim, ruidosa, com comparações a Bolsonaro e acusações de cobardia, com baldes de lixívia, decibéis e arranjinhos, com doze estratégias que vão a votos e cinco candidatos formalizados.
Como explicava ontem a Mariana Lima Cunha, os cinco do CDS estão a dois dias de entrar num dos congressos mais disputados da história do partido. E como é à moda antiga, com eleição no próprio congresso, não há ingrediente que falte: há senadores que não sabemos quem apoiam (Lobo Xavier, Pires de Lima, Nobre Guedes, Ribeiro e Castro), há um ex-líder que quer voltar mas não sabe se pode (Manuel Monteiro), há um outro que se arrisca a ver riscado todo um legado (Portas), há muitas contagens de delegados e até a hipótese de o líder sair de uma geringonça à moda centrista.
Não falta, portanto, expectativa mediática, aquela que espera momentos tão épicos como a bica de Monteiro que azedou, ou o segredo da saudosa 'Zezinha' Nogueira Pinto. Mas há também medo entre os militantes e dirigentes do CDS. Medo de desaparecer, porque o resultado do partido foi muito baixo, mas também porque à direita apareceram dois novos partidos que ameaçam rapar o tacho dos votantes daquele espaço. Foi esse medo que marcou a campanha interna - e será ele a marcar o que vamos ouvir no próximo fim de semana.
Eis a pergunta: o CDS pode morrer?
Visto de fora, a resposta não é auspiciosa: “Não é assim tão fácil um partido desaparecer, mas também não é automático que cresça. Pode cair de 4% para 3% ainda, correndo o risco de se tornar irrelevante”, explicou André Azevedo Alves, politólogo e professor da Universidade Católica. Será difícil, mas isso “acontece”, concorda António Costa Pinto, do ICS, lembrando o caso francês, num texto publicado aqui no Expresso que tem uma ameaça no título: o medo do “partido da trotinete”.
Atenção agora, aos nomes. E fique atento a dois: João Almeida, deputado, o candidato com o trauma do Belenenses; e Francisco Rodrigues dos Santos, presidente da Juventude Popular, o conservador incorreto que quer saltar da liderança dos pequeninos para a liderança dos grandes. O primeiro, moderado e mais liberal, tem um ponto fraco: fez parte da direção de Assunção Cristas, que sai derrotada; o segundo, muito (mesmo muito) conservador, tem outra: um historial de declarações que foram disfarçadas no seu programa, mas deixaram anseios entre as suas tropas.
Pelo meio, conte ainda com Nuno Melo - o eurodeputado que disse que seguramente seria candidato, mas que não é por não ter sido eleito deputado. É como a história do apostador no Euromilhões que lamenta não ter ganho o jackpot, quando nem fez qualquer aposta.
Como vê, não está famoso, o cenário do congresso. Mas, acredito eu, nem todos os cenários para o pós-congresso são iguais. Como dizia Manuela Ferreira Leite, num célebre discurso perante o Conselho Nacional do PSD, nos decisivos dias em que Barroso entregou o poder a Santana Lopes: há duas maneiras de perder, uma com honra e outra sem ela. Mas aí, claro, já estamos no domínio da opinião. A minha pode lê-la aqui: Chicão vem para fazer a guerra (depois não digam que não avisei).

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